Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

CAFÉ SOCIETY, de Woody Allen

Mais uma pequena jóia que Woody Allen, o realizador, escritor e músico de jazz, nos oferece. Para ver quase sempre com um sorriso. 
Talvez os diálogos sejam, como sempre neste autor, algo complexos e rápidos, às vezes difíceis de acompanhar para quem tem que ler as legendas, e exijam algum conhecimento por parte de quem os ouve, neste caso até cinéfilo, mas, pela sua inteligência, dão-nos sempre muito prazer.
Gostei da piada sobre o judaísmo e o cristianismo! Só não soltei uma gargalhada porque parecia mal... Boa!

Actores principais:
Jesse Eisenberg (Bobby Dorfman)

Kristen Stewart (Vonnie -Veronica)




O CINEMA NA 38ª SEMANA CULTURAL DO INTERVALO - ALEXANDRA LENCASTRE

A Semana Cultural de 2016, do Intervalo Grupo de Teatro, no seu 47º ano de actividade, que inclui o 1º Acto, teve ontem mais uma sessão, magnífica, com a homenagem a uma grande actriz, Alexandra Lencastre, cujos desempenhos, no teatro, no cinema e na televisão, muitas vezes nos tocaram profundamente pela sua rara qualidade. Por isso gostámos muito de a ver, com o seu eterno ar jovem, de quem não se leva muito a sério.

Só gostava de lembrar, entre as suas muitas participações no cinema, algumas pela mão de grandes realizadores, as três magníficas obras que protagonizou. 

Em "O Delfim" (2002), de Fernando Lopes, que embora seja uma obra na minha opinião relativamente falhada em relação à obra-prima literária do José Cardoso Pires, atingiu na representação, de Alexandra e seus companheiros de elenco, um grande fulgor.

Em "A Mulher que Acreditava ser Presidente dos EUA" (2003), uma jóia de humor sarcástico na filmografia de João Botelho. O tema obviamente valeu-lhe ser desancado pela crítica neoliberal, caninamente subserviente em relação ao patrão (deles) norte-americano. Alexandra foi admirável no papel principal.

Em "Lá Fora" (2004), de Fernando Lopes, que foi lamentavelmente menosprezado pelo mesmo sector da crítica, a qual infelizmente é dominante, mas é em minha opinião uma das grandes obras daquele notabilíssimo cineasta. A interpretação, uma vez mais de Alexandra e de quase todos os participantes, é magnífica.

Alexandra participou também no elenco daquele que é, para mim, um dos grandes filmes portugueses de sempre, "Os Mutantes", de Teresa Villaverde.

No Teatro, relembrar principalmente os desempenhos em obras famosas de Tennessee Williams e Tcheckov, onde foi extraordinária.

E tem ainda uma carreira à frente!

Quem melhor poderíamos ter para acompanhar esta actriz que um dos grandes intérpretes da Música Portuguesa, dos maiores que temos e tivemos. 

Foi mais um concerto de Camané, que num espaço intimista como é o do Anfiteatro Lourdes Norberto, mais uma vez completamente cheio, em companhia daquela gente do Intervalo Grupo de Teatro, que respira fraternidade, com o seu director e encenador Armando Caldas à frente (e eu gostaria de poder citar o nome de todos), Camané chega ainda com mais intensidade à sensibilidade e ao coração dos espectadores. Não conheço outra sala que seja superior a esta nesse aspecto.







BREVÍSSIMA NOTA SOBRE A 38ª SEMANA CULTURAL DO INTERVALO

A 38ª Semana Cultural, organizada no 47º ano de existência do Intervalo Grupo de Teatro, que nasceu sob o nome de 1º Acto, em Algés, e depois o seu núcleo fundador, marginalizado por um grupo de sócios que logrou tomar conta do clube, foi forçado a "exilar-se", definitivamente mas em boa hora, criando o Intervalo. Entretanto os usurpadores, cumprida a missão política, desapareceram.

Gostava de chamar a atenção para este admirável evento cultural, que tem levado a salas do concelho de Oeiras homenagens a alguns dos maiores nomes da Cultura Portuguesa, de José Saramago a Maria João Pires, de Siza Vieira a Júlio Pomar, de Eduardo Gageiro a Joaquim Benite, de Urbano Tavares Rodrigues a Jorge Palma, de José Fonseca e Costa a Eunice Muñoz, etc, etc. Dos nomes maiores diria que não faltam muitos, tendo em conta que se trata de homenagens a longas carreiras artísticas, superiores a 30 anos e que alguns artistas, agradecendo o convite, não o puderam aceitar por razões várias.

Este ano por lá passaram entre os homenageados, António Macedo (rádio), Alexandra Lencastre e João Vasco (teatro e cinema), Jorge Fernando e José Cid (música) e Carlos Santos (fotografia). Acompanharam-nos em concerto, com as respectivas equipas, aliás sempre de grande qualidade, Miguel Ângelo, Pedro Jóia, Fábia Rebordão, Paula Oliveira, Camané, Júlio Resende (piano) e Ricardo Ribeiro. E falaram do respectivo perfil e obra do homenageado, Carlos Avilez, Fernando Dacosta, Viriato Teles, António H.Cardoso, Armando Carvalheda, Maria Helena Serôdio, Carmen Dolores (de quem foi lido texto), Maria do Céu Guerra, Fernando Alvim, João Paulo Guerra, sendo algumas das intervenções, brilhantes. Particularmente a homenagem aos 31 anos de carreira de Alexandra Lencastre esgotou a capacidade da sala, com uma das maiores enchentes de que me consigo lembrar naquele auditório, que não me canso de repetir, tem condições excepcionais para espectáculos onde a proximidade com os artistas, propensa a uma grande comunicação e intimismo sejam importantes e são-no quase sempre em eventos deste género.

Mas, que me desculpem, um grande momento da semana, foi a inesquecível representação que a encerrou, mesmo já tendo visto a mesma peça representada no mesmo local e com os mesmos actores, de "12 Homens em Fúria", escrita pelo dramaturgo norte-americano, Reginald Rose, e encenada pelo Armando Caldas.
 Aquilo que escrevi então (ver neste blogue) mantem-se e sai até reforçado pelo simples facto que grande parte do ano já passou e não vi espectáculo que me tivesse emocionado mais ou até de que tivesse gostado mais e posso citar, entre os espectáculos de Teatro de que gostei muito este ano, a "Clarabóia", adaptação do romance de José Saramago, pela Barraca, "O Ano da Morte de Ricardo Reis", do mesmo autor pela mesma companhia, "Trópico del Plata", com texto e encenação do autor/encenador argentino Rúben Sabadini e interpretado por uma companhia da mesma nacionalidade ou "Hedda Gabler", de Henrik Ibsen, com encenação e interpretação da actriz e encenadora norueguesa Juni Dahr, que utilizou, com uma companhia de Oslo, a Casa da Cerca para um espectáculo inesquecível. Todas têm em comum uma coisa que é o primado do actor, que aliás acaba por ser, em minha opinião, o que distingue fundamentalmente o teatro de outras artes de palco.

Só gostava de terminar fazendo um apelo para que jovens e seus educadores não deixem de ver esta extraordinária peça de Reginald Rose, a que os actores do Intervalo (doze homens e uma mulher) dão o seu melhor, vibrando e fazendo-nos vibrar com eles. Julgo que contribuiria para um mundo melhor!

Todas as fotografias seguintes são de arquivo, de anteriores espectáculos do Intervalo Grupo de Teatro:










sexta-feira, 7 de outubro de 2016

O FEIO, de Marius von Mayenburg, encenação Toni Cafiero para a CTA

PRIMEIRA BREVÍSSIMA NOTA SOBRE UM ESPECTÁCULO DE TEATRO

A folha de sessão já nos alertava para se tratar de uma "comédia a tender para o mais puro absurdo" e que talvez não se tratasse da última moda nalguns palcos, isto é, o pos-dramatismo. Aí, confesso que fiquei com algumas dúvidas...
E a desilusão acabou por vir, atendendo ao êxito no último Festival de Almada, onde foi uma das mais votadas pelo público, mas isso também pode ter resultado por ter sido um dos festivais onde menos grandes espectáculos houve. 
Alguns momentos quase hilariantes, alguns momentos visualmente bem conseguidos, alguns quase kitsch, isto é, de mau gosto, provocatório ou não ("aguentam, aguentam!...), uma crítica ao modernismo, não chegam a ser suficientes para fazerem de O Feio um dos nossos espectáculos preferidos deste ano que vai passando.
Resta a magnífica prestação dos 3 actores e 1 actriz.
Quanto ao tema, o encenador afirmou que Lette (o Feio), o personagem principal, que deixa que lhe modifiquem o rosto (ou outra coisa qualquer) para ficar conforme à moda, é exactamente como nós (ele e a maioria dos espectadores). É um espelho dessa realidade. 
Nisso dou-lhe razão. E não gosto...





quinta-feira, 6 de outubro de 2016

COPENHAGA, de Michael Frayn / João Lourenço (Teatro Aberto - 2005)

Recupero um texto antigo que inclui a nota sobre COPENHAGA, de Michael Frayn, um dos grandes espectáculos do Teatro Aberto que vi. Entretanto não deixar de ler sobre o tema o artigo "Materialismo e idealismo na física do final do século XIX e início do século XX", publicado pela cientista Ana Pato, no Caderno Vermelho nº24, saído o mês passado



CINEMA E TEATRO VISTO EM 2005

Razões das escolhas

KAMCHATKA, de Marcelo Piñeyro, **** (ARG - 2002)

Como se pode explicar que um filme tão belo como este seja completamente ignorado pela crítica dos jornais (com as pouquíssimas excepções do costume)? 

Não vi uma única referência a esta obra notável do cinema argentino, concorrente ao Oscar do melhor filme estrangeiro, nos jornais que a si próprios se intitulam de referência (?). Nem uma chamada de atenção no quadro das estrelas do DN, onde entre 20 filmes citados, só 5 ou 6 merecerão uma visão, ou do Público, entre 12 citados, apenas 5 ou 6 eventualmente me interessariam.

Talvez a razão do mistério resida no argumento do filme, que se passa num dos mais sombrios períodos da história argentina recente – a ditadura fascista, do general Videla e outros militares, nos anos 70 e 80 (semelhante ao golpe fascista de Pinochet no Chile, ambos apoiados e financiados pela CIA), visto através dos olhos de uma criança cujos pais, ameaçados pelo regime, fogem e se escondem, até que são forçados a deixar os dois filhos com os avós paternos. Não regressarão, indo engrossar a lista dos milhares de simpatizantes de esquerda, ou apenas democratas, assassinados pelos militares fascistas. 

Tudo isto é apenas entrevisto pelos olhos de uma criança, que desconhece o que se passa, e pela cultura do espectador. A violência brutal do regime, os crimes que cometeu, só nos chegam pelos seus reflexos na vida daquele casal em fuga, mas não deixam de ser por isso menos repugnantes. Admiráveis interpretações de Ricardo Darín e Héctor Alterio (que já conhecíamos do também excelente “O filho da Noiva”, de Juan Carlos Campanella) e Cecilia Roth. 

Alguns dirão que o filme é clássico. Pois é. Mas como classificar as inarráveis historietas (algumas em exibição) que são sugeridas naqueles jornais? ****

BRODEUSES (LES), As Bordadeiras, de Éléonore Faucher,*** (FRA)

Claire (a surpreendente Lola Naymark), uma jovem caixa de um intermarche (trabalho que detesta), a contas com uma gravidez indesejada, e com um grande talento para o bordado. Um filme sensível e delicado, com os grandes sentimentos mostrados discretamente, em surdina, poucos diálogos, mas imagens que prendem irresistivelmente os espectadores. Mas acaba por ser um filme feliz, esta visão, no feminino, das inquietudes da vida. A não perder esta magnífica primeira obra de um novo nome do cinema francês a reter. ***

E porque não bom Teatro?

PODER, de Nick Dear, encenação de Joaquim Benite, Teatro de Almada, ****

De um autor inglês contemporâneo (primeira peça – “Temptation”, encenada em 1984, seguida de mais sete; além disso escreveu libretos para óperas, guiões e peças para a rádio).

Sem pretensão de ensinar história (segundo o autor), a verdade é que a sua reconstituição das lutas pelo poder no reinado de Luis XIV, o Rei Sol, monarca absoluto, é uma magnífica lição, por vezes com muito humor, sobre a época e não só. Então, como hoje, as classes sociais dos ricos e poderosos baseavam o seu poderio na exploração popular, e o seu regime político/económico assentava na corrupção e em lutas, quase sempre sem regras, pelo poder. Vários ajustes sociais foram acontecendo ao longo da história da Humanidade– Naquela época a aristocracia decadente cede o lugar à burguesia. O feudalismo já não dá resposta aos novos interesses económicos que surgem. Mas a exploração dos oprimidos permanece.

Que fazer para mudar isto? As tentativas feitas ao longo da história da humanidade constituíram grandes momentos de mudança, novas relações sociais se estabeleceram, grandes progressos surgiram, mas acabaram por soçobrar, por erros próprios, e pela força do inimigo.

Nick Dear retrata em o “Poder” a ascensão do absolutismo, de que Luís XIV, é o dos exemplos mais frisantes, as lutas pelo poder dos sucessores do todo poderoso Cardeal Mazarino - Fouquet e Colbert, as intrigas e a vida mundana e sexual da corte, cheia de escândalos, traições, adultérios, tudo isso o autor nos transmite em pouco mais de duas horas de fascinante espectáculo.

Falar do alto nível do espectáculo, das soluções cénicas magníficas, que os criadores do Teatro de Almada sempre conseguem encontrar para o seu pequeno espaço, não podendo contar com os requisitos técnicos dos grandes palcos, tornou-se habitual nas encenações desta companhia.

Impossível esquecer esse momento mágico de teatro, o da caçada real e do voo dos falcões. Quanto à interpretação será injusto não salientar, por magníficos, os desempenhos de Marques D’Arede (Fouquet), Francisco Costa (Colbert) e Teresa Gafeira (Ana de Áustria, a rainha-mãe), embora os restantes não destoem. **** 

COPENHAGA, de Michael Frayn, encenação de João Lourenço, Teatro Aberto

Do dramaturgo alemão de que víramos há pouco tempo o magnífico “Democracia”, sobre o final da carreira política de Willy Brandt e uma meditação sobre a democracia. 

A acção da peça “Copenhaga”, passa-se em 1941, na capital da Dinamarca, quando o nazismo estava ainda longe de ser derrotado, e o país havia sido ocupado pelos nazis, como grande parte da Europa.

Os personagens da peça são: o físico dinamarquês Niels Bohr (1885-1962) (Luís Alberto) e sua mulher Margrethe Bohr (1890-1984) (Carmen Dolores). O físico alemão Werner Heisenberg (1901-1976) (Paulo Pires). Três magníficas interpretações de dois grandes actores veteranos e de um novo que se afirma, de trabalho para trabalho, como um dos melhores da sua geração. Peça interessantíssima, com uma força dramática que prende irresistivelmente o espectador. Encenação que não desmerece do conjunto, bem pelo contrário, ajudada pela concepção do espaço criado, que resulta particularmente para um texto que não se pode perder. ****

O tema da peça centra-se na visita que Heisenberg fez em 41 ao seu antigo mestre e amigo Bohr, em Copenhaga, durante a ocupação nazi, e na especulação sobre as verdadeiras razões dessa visita, de que o autor apresenta várias versões. Talvez a mais plausível seja que se tratou de uma tentativa de Heisenberg, que continuava a trabalhar na Alemanha, na investigação sobre a energia nuclear e na sua eventual utilização nas armas de destruição maciça, esclarecer dúvidas sobre essa investigação, o que Bohr obviamente recusou. 

A peça põe pois o problema da investigação científica e do aproveitamento político dela, para fins criminosos. 

Bohr toma claramente uma posição anti-fascista e foge em 43 para a América, antes que os nazis o prendam. A posição de Heisenberg é ambígua, embora tente insinuar (depois da derrota) que de certo modo travou a construção da bomba atómica pelos alemães. Sendo dois cérebros privilegiados da investigação científica, com desenvolvimentos importantíssimos para o avanço da ciência, a sua posição como cidadãos acaba por fazer parte da apreciação que a história faz e fará deles. 

Nesse aspecto um dos aspectos mais interessantes da peça é relembrar-nos que a Dinamarca protegeu “os seus judeus”, fazendo-os fugir e escapar à tortura e à morte nos fornos crematórios alemães. Vivendo nós num país de, infelizmente, horríveis tradições nesse aspecto – a Inquisição da Igreja Católica Apostólica Romana, com os seus milhares de mortos na fogueiras, e a colaboração de Salazar com os nazis – o exemplo da dignidade de certos povos não devia deixar de nos impressionar.

Devemos ainda lembrar que Bohr, contra vontade ou não, porque se assumia como pacifista, acabou no entanto por colaborar com os americanos. E a bomba atómica acabou por surgir. Tendo os americanos num acto injustificável, cedendo à paranóia dos militares ultras, que queriam experimentar a bomba, acabam por lançar duas sobre o Japão derrotado, causando milhares de vítimas civis, num verdadeiro crime contra a Humanidade.

Notas biográficas das personagens principais da peça:

Niels Bohr foi o físico dinamarquês, de ascendência judaica, prémio Nobel em 1922. Em 1913 apresentou uma teoria fundamental para a explicação da estrutura dos átomos; o chamado modelo atómico de Bohr, permitiu explicar por que é que um átomo só emite luz de determinados comprimentos de onda. No outono de 1943 foi obrigado a fugir do seu país natal, para escapar à perseguição nazi, em circunstâncias dramáticas. Refugiado nos EUA colaborou nos trabalhos que levaram à produção da primeira bomba atómica (1943-45).

Werner Heisenberg (1901-1976), físico alemão, um dos fundadores da mecânica quântica. Foi prémio Nobel em 1932. Permaneceu na Alemanha durante o período nazi. Foi em relação aos seus estudos que enunciou os seus famosos princípios de incerteza: quanto maior é o rigor com que é conhecida a posição de uma partícula atómica, tanto menor é a precisão com que se pode determinar a sua energia (ou momento) e vice-versa: quanto maior é o rigor com que se determina a energia de uma partícula, tanto menor é a precisão com que se conhece o instante em que ela possui essa energia e vice-versa.

A mecânica quântica substituiu a mecânica clássica, Newtoniana, para o comportamento das partículas de muito pequena dimensão (na estrutura atómica). Constitui uma teoria física geral válida para as grandezas tão pequenas que dificilmente poderão ser observadas directamente com os instrumentos laboratoriais. Segundo Heisenberg (1925) não podemos fixar sem ambiguidade a posição e velocidade de átomos e electrões, por exemplo, mas apenas considerar probabilidades maiores ou menores para os valores dessas grandezas. Para isso elaborou-se um método matemático especial. Parte importante da mecânica quântica é a mecânica ondulatória, cujo desenvolvimento se deve principalmente a De Broglie e Schrödinger e em que se associa a cada partícula em movimento uma espécie de onda periódica.

Niels Bohr aplicou a ideia dos quanta (1913) à teoria dos espectros atómicos no seu modelo do átomo, o átomo de Bohr.

De salientar que, já em 1905, Albert Einstein para explicar certos resultados obtidos no estudo do efeito fotoeléctricos, considerou a luz (radiação electromagnética) como constituída por grânulos de energia, cada um deles com um quantum de energia. A esses grânulos de luz chamou fotões. 

Ainda sobre MAR ADENTRO, de Alejandro Aménabar, ****

Uma belíssima surpresa (para mim) esta obra de Aménabar, aliás um cineasta já conhecido internacionalmente por outra obra notável – “Os Outros” (que todavia não vi), e que aborda em “Mar Adentro”, com indiscutível sobriedade e delicadeza, o tema da perda de qualidade de vida em certas doenças sem cura e a consequente vontade dos atingidos em porem termo à vida, para deixarem de sofrer. 

A verdade é que a sua obra acaba por se tornar num belo hino à vida (enquanto vale a pena) e ao amor e também à abnegação (às vezes) de alguns dos que rodeiam os doentes quase totalmente dependentes de outrem. E ainda um libelo contra todos os fundamentalismos que, em nome de deuses indiferentes ou ausentes, prolongam desnecessariamente o sofrimento dos outros, para seu próprio prazer (moral ou seja lá o que for). 

Recusando o “rodriguinho”, a comoção fácil, o bilhete postal, Aménabar constrói uma obra sobre a dignidade da vida que nos faz pensar.

Aménabar baseou-se no drama real de Ramón Sampredo (Javier Bardem), um homem natural da Galiza, que ficou tetraplégico (membros superiores e inferiores) aos 25 anos, e durante 28 anos esteve incapacitado, e da família que o rodeia e apoia – pai, irmão, cunhada (Mabel Rivera) e sobrinho – e mais os amigos, entre os quais avultam os desempenhos de Rosa (Lola Dueñas), a mulher que o acompanha até ao fim e o ajuda a morrer, e principalmente a advogada Júlia (fascinante interpretação de Belén Rueda), também vítima de uma doença degenerativa. Todos desempenhos notáveis. E também, e porque não, belas imagens da sua Galiza natal.

Resta acrescentar que este filme foi um enorme sucesso de público e conquistou os principais prémios do cinema espanhol (os Goya), vencendo também o Oscar deste ano para o melhor filme estrangeiro. 

Mas, a propósito do cinema espanhol, que neste país se conhece tão mal, convém relembrar os grandes cineastas espanhóis contemporâneos, que têm obras de que gosto muito, desde os clássicos como Carlos Saura (Caza, Carmen, El Amor Brujo), e Victor Erice (El Espiritu de la Colmena, El Sol del Membrillo), passando aos mais recentes Pedro Almodovar (Mujeres al Borde de..., Habla com Ella), Imanol Uribe (El-Rey Pasmado) ou Fernando Trueba (Belle Epoque). 







quarta-feira, 5 de outubro de 2016

JULIETA, de Pedro Almodóvar



BREVE NOTA SOBRE UM GRANDE FILME, "JULIETA", DE PEDRO ALMODÓVAR

Longe vão os tempos do estilo frenético, que a crítica mais burguesa adorava, sob o qual se escondia já um grande realizador. 
O tempo veio dar-nos razão e é num estilo depurado que este grande cineasta nos oferece agora uma nova belíssima obra, comovente e brilhantemente interpretada, em que são os corações, através dos sentimentos, que batem por vezes descompassadamente
Almodóvar continua, a cada novo filme, a afirmar-se como um dos grandes autores do Cinema Contemporâneo. 
Não queria deixar de citar a propósito alguns filmes, além dos referidos na nota de propaganda ao filme abaixo transcrita, que considero brilhantes, desde a adaptação de uma obra uma grande escritora, Ruth Rendell, com os seus psicológicos e angustiantes romances negros, "Em Carne Viva" (1997), ao famoso ajuste de contas com a educação religiosa durante o fascismo, num duríssimo e por isso mal amado "Má Educação" (2004), e a um thriller intenso e excepcional, "A Pele Onde Vivo" (2011), para só citar os que mais agitaram a crítica, com a mais reaccionária obviamente a rejeitar completamente.
Adriana Ugarte e Emma Suárez, duas belíssimas actrizes, sob qualquer ponto de vista que as analisemos, são as duas interpretes da personagem principal, Julieta, quando jovem e em plena maturidade.
Nesta brevíssima nota não queria deixar de destacar que Almodóvar, uma vez mais, não deixa de ser muito crítico da sociedade em que vive, surgindo como elemento fundamental dos seu filme a medíocre e castrante mentalidade que a educação religiosa e o fascismo deixaram como herança no seu país, ou melhor, na Península. 

É uma crítica ideológica e portanto política, de que se trata. E tudo sempre com muita inteligência. Em conclusão, um grande filme a não perder!



"Um filme dramático sobre arrependimento e culpa que conta com argumento e realização de Pedro Almodóvar (“A Flor do Meu Segredo”, “Tudo Sobre a Minha Mãe”, “Fala com Ela”, “Má Educação”, “A Pele Onde Eu Vivo”) a partir de três contos de “Fugas”, antologia da Nobel da Literatura Alice Munro. Emma Suárez, Michelle Jenner, Darío Grandinetti, Adriana Ugarte, Rossy de Palma e Pilar Castro dão vida às personagens." 
(lido numa nota publicitária do filme)




domingo, 2 de outubro de 2016

SNOWDEN, de Oliver Stone

Amig@s, imperdoável não ver!
 
Não só é excelente cinema como Oliver Stone fez, uma vez mais, uma obra de grande importância, na denúncia da monstruosidade em que transformaram o seu país, os EUA, e dos perigos que isso representa para a Humanidade. 
Numa sala quase cheia o impacto sobre os espectadores foi grande, assistindo em silêncio preocupado ao desvendar da existência e acção de um sistema tentacular, que se abate sobre todo o mundo, com raras excepções, podendo atingir quase tudo e quase todos, onde quer que estejam. 
E muitos, por falta de conhecimento científico, nem se aperceberão verdadeiramente da gravidade do que está a acontecer. Porque não se trata de ficção, é a realidade.

Confesso que eu próprio, apesar da experiência profissional de anos em áreas tecnológicas afins, fiquei nalguns momentos do filme quase surpreso com a dimensão do ataque à privacidade dos cidadãos e da falta de escrúpulos que está por trás das decisões políticas que levam à utilização de tais meios. Os antigos informadores das polícias políticas, do tempo da inquisição ou dos fascismos, de que a PIDE e a GESTAPO são dois exemplos terríveis, bem nossos conhecidos, são agora praticamente dispensáveis, é conclusão óbvia. 

(pequeno texto, para principiar, baseado em nota facebookiana de 1-Out-2016)






(foto da rodagem, em cima, e fotograma do filme)

CARTAS DA GUERRA, de Ivo M. Ferreira

Não percam o magnífico Cartas da Guerra, realizado por Ivo M. Ferreira, baseando-se nas cartas que o escritor António Lobo Antunes escreveu a sua mulher, enquanto esteve em Angola como oficial miliciano médico, de que são lidas ao longo da obra várias passagens, algumas belíssimas. 

Sucedeu que passei a simpatizar mais com o ser humano Lobo Antunes depois de ter visto o filme, e as razões da minha por vezes pouca simpatia anterior, embora o considere um dos grandes escritores portugueses vivos, era o me parecer que manteve sempre muito forte um sentimento de classe, da grande burguesia, que justifica certas atitudes e alguma arrogância perante os que considera socialmente inferiores ou provindos de outra classe. Mas isso dilui-se um pouco pelo belíssimo retrato humano do jovem médico que o Ivo Ferreira nos deu.

O cinema português já nos tinha dado algumas obras notáveis sobre esse período trágico da vida portuguesa, com milhares de famílias destruídas, milhares de mortos, milhares de estropiados, a maior parte dos quais psicologicamente, na defesa dum império cuja manutenção nada podia justificar.

João Botelho, em "Um Amor Português" (1985), Margarida Cardoso, em "A Costa dos Murmúrios", adaptando Lídia Jorge (2004) e Joaquim Leitão, em "20, 13, Purgatório" (2006) são os que conheço e de que gostei muito. 

Felizmente para nós, neste caso, não temos um Clint Eastwood que faça a apologia dos heróis sob um ponto de vista meramente conservador. 

Muitos outros grandes realizadores portugueses, como Teresa Villaverde, fizeram breves referências à questão da guerra colonial e dos seus dramáticos efeitos sobre o povo português, mas sem a utilizarem como pano de fundo das suas obras.

O que a obra de Ivo Ferreira tem de muito especial é que sem esconder como foi errada e absolutamente condenável a tentativa do governo fascista português, de tentar abafar e depois combater os movimentos de Libertação dos Povos Colonizados, ele centra em meia dúzia de personagens um retrato quase intimista de muitos que viveram esse período (entre os quais me incluo) e nele, como o Lobo Antunes, ganharam consciência do que estava verdadeiramente em jogo. 

Belíssima montagem, belíssima fotografia a preto e branco, muitas vezes em ambientes quase crepusculares. 

Não queria terminar esta pequena nota sem lembrar os grandes autores literários, em minha opinião, deste período, porque o viveram e sofreram na carne, para além da Lídia Jorge e do João de Melo, que são o Mário Moutinho de Pádua ("No percurso das Guerras Coloniais", de 2011 e "Angola, os Anos Dourados do Colonialismo", de 2014), Armando Sousa Teixeira ("Guerra Colonial", de 2009) e Modesto Navarro ("Ir à Guerra", de 1974). Já os li todos e tenho vontade de voltar a eles.





OBS: os dois primeiros fotogramas são do filme, o último é da realidade dos anos 60, com futuros oficiais em descanso no intervalo de uma dura instrução 

ADENDA

A APC - ACADEMIA PORTUGUESA DE CINEMA, propô-lo para os óscares hollywoodenses a atribuir em 2017, pela sua congénere norte-americana, na categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeira (isto é, que não é falado em inglês). 
Pensando bem a escolha parece-me acertada, não só por não me lembrar de melhor filme português neste ano, como julgo que ele tem condições para ser votado favoravelmente pelos membros da Academia. É um belísimo filme, embora com algumas limitações, que reconheço, e que talvez sejam mais facilmente entendidas por nós, espectadores de língua portuguesa, mas confesso que gostei muito da obra.

É verdade que já concorremos com obras cinematograficamente superiores que foram ignoradas (Tabu, de Miguel Gomes, por exemplo) ou até as que foram sabotadas à partida, por razões políticas (à semelhança do acontecido na Literatura a José Saramago) pela instituição portuguesa que então as deveria indicar (o IPC - Instituto Português de Cinema, salvo erro) e o caso mais escandaloso foi o de uma obra-prima do saudoso José Fonseca e Costa, "Cinco Dias Cinco Noites", numa excepcional adaptação da belíssima novela homónima de Manuel Tiago (Álvaro Cunhal), que julgo poderia ter efectivamente ganho, pela primeira vez no cinema português, esse prémio, atendendo aos nomeados nesse ano.

OS VERDES ANOS, de Paulo Rocha


Ver uma sala do cinema comercial (cinema Ideal, ao Camões, Lisboa) quase cheia de um público maioritariamente jovem para assistir à projecção de uma das obras-primas do Cinema Português, OS VERDES ANOS, realizado em 1963 por um grande e saudoso cineasta, PAULO ROCHA, deixou-me por um lado surpreendido por haver tanta gente, por outro expectante, em relação a qual iria ser a reacção de um público jovem, como nós éramos em 1963, mais de 50 anos depois.


Na estreia, em 1963, foi uma enorme alegria que sentimos, apesar do drama que se desenrolava no ecrã, pela grande qualidade da obra, em nada inferior ao melhor que então víamos, vindo do estrangeiro.

Agora, foi a alegria de sentir que a obra interessou e julgo que agradou a este novo público, mesmo sabendo que lhe será difícil compreender plenamente a ambiência pesada, castrante, medíocre, miserável desses tempos do fascismo salazarista, que Paulo Rocha mostrou como pano de fundo do drama do desencontro dos jovens amantes (belíssimas interpretações, que ainda hoje por vezes emocionam), consequência de sonhos não cumpridos, frustrações, impossibilidades de realização.

(nota facebookiana, 31-Ago-2016)