Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

sexta-feira, 22 de julho de 2016

MARAVIGLIOSO BOCCACCIO, de PAOLO E VITTORIO TAVIANI

MARAVILHOSO BOCCACCIO, dos Irmãos Taviani

A não perder o mais recente filme dos irmãos Taviani, Paolo e Vittorio, MARAVILHOSO BOCCACCIO, depois do extraordinário CÉSAR DEVE MORRER, filmado numa prisão e em que os actores são presos, e que foi exibido no DOCLISBOA, numa sessão de encerramento, com a presença do Paolo Taviani, salvo erro, nos bons velhos tempos desse então magnífico festival de cinema documental (lamento o estado actual do Doclisboa...).

MARAVILHOSO BOCCACCIO é a adaptação de um grande clássico italiano, baseado nas histórias do seu DECAMERON, que Pasolini já havia adaptado também brilhantemente, à sua maneira. 

Em tempos de Peste (século XIV) há quem tente fugir-lhe. Também nós agora, com novas pestes (o fascismo e o neo-nazismo crescendo na Europa, na Turquia...) assolando os sítios onde vivemos, precisamos de força para lhes resistirmos e fazer-lhes frente, porque não adianta fugir... 

MARAVILHOSO BOCCACCIO é um maravilhoso filme dos manos Taviani a não perder, transmitindo a beleza e sabedoria sobre a natureza humana, dos escritos de este grande autor, como o nosso Gil Vicente, Shakespeare, Molière...







As estórias:
A ressuscitada 
A pedra com poderes mágicos
A taça com o coração
No convento
O falcão




O GRANDE CONCLUIO CONTRA A REFORMA AGRÁRIA, de MÁRIO MOUTINHO DE PÁDUA



LEITURAS


O GRANDE CONLUIO CONTRA A REFORMA AGRÁRIA, peça de teatro de MÁRIO MOUTINHO DE PÁDUA




Uma peça com 6 actos sobre a mais bela conquista da Revolução, escrita por um grande escritor, em minha opinião, cujas obras sobre a Guerra Colonial e sobre gerações que atravessaram os anos de chumbo do fascismo salazarento,  e não se acomodaram, são referências a que volto várias vezes. 

Admiráveis textos sobre os que ousaram desertar da guerra que o fascismo moveu contra os povos colonizados que lutavam pela sua libertação, no próprio teatro dos acontecimentos e dos que lutaram contra o regime salazarista.
Este novo texto, destinado a ser representado, lê-se de um fôlego, com muita emoção, mas também com muita indignação ao relembrarmos as classes sociais, as forças políticas e as personalidades que tudo fizeram para sabotar e destruir a Reforma Agrária. Para que nunca se esqueça!

Alguém me disse que este texto teatral dificilmente poderá ser posto em cena, não só devido ao actual contexto político, mas porque é um texto longo e denso nos seus seis actos. 

No entanto, em minha opinião, será sempre possível representá-la com sucesso, dependendo da garra e talento do encenador e actores que o fizerem. 

Aguardamos!


quinta-feira, 21 de julho de 2016

LEITURA E CINEMA



LEITURAS

Foi o romance a partir do qual Antonio Skármeta escreveu o argumento para o magnífico NO, primeira grande obra do cineasta chileno, Pablo Larraín, de que víramos há dias o excelente "O CLUBE". Sobre os dias que antecederam o plebicisto preparado por Pinochet na tentativa de legalizar a sua passagem pelo poder, que começara em 11-Set-1973, com o golpe fascista apoiado pela CIA, um dos mais violentos da História, com o assassinato de milhares de chilenos, dos melhores seres humanos que aquele país sul-americano possuía, entre eles o Presidente da República, Salvador Allende, tal como o grande canta-autor Victor Jara, a quem torturaram, partindo-lhe as mãos e depois assassinaram brutalmente, e com fortes suspeitas de a um dos maiores poetas da Literatura Universal, Pablo Neruda, ter sido apressado o fim. E a lista prosseguiria com muitos mais nomes, de cidadãos. Os melhores filhos do Chile foram presos, torturados, desaparecidos, assassinados pelo regime de terror de Pinochet, que haveria de durar 15 anos, até ao plebiscito do SIM ou NÃO a Pinochet, que conduziria à derrota daquele político criminoso e militar traidor. Uma frente anti-fascista, muito alargada, arco íris político, apoiou o NÃO (NO). 






O romance de Skármeta, com a simplicidade de escrita a que o grande escritor nos acostumara, de uma fluidez impressionante, sem frases ou adornos desnecessários, por vezes quase prosa poética, descreve-nos o que foram esses dias de chumbo, medíocres, da arbitrariedade mais absoluta, com o poder na rua entregue aos esbirros e assassinos pagos pelo regime. Em muitos aspectos a fazer lembrar o fascismo salazarento. E depois o arco íris que desponta no horizonte com a possibilidade do pesadelo ser afastado. 

O final do romance não é tão optimista quanto poderia parecer com a vitória da Democracia. É que os serventuários do regime, tal como aconteceu em Portugal em 1974, preparavam-se já para uma nova etapa, e Skármeta não deixou de o frisar.
Relembre-se que António Skármeta esteve em Portugal, antes da derrota do fascismo chileno, a realizar, com a colaboração de amigos portugueses e muitos emigrantes do seu país, uma obra maravilhosa mas praticamente desconhecida, adaptação fiel do seu famoso romance O CARTEIRO DE PABLO NERUDA e cujo título (tal como o romance) é ARDENTE PACIÊNCIA, realizada em 1983 e produzida pelo decano dos produtores portugueses. este ano homenageado, nomeadamente pela CINEMATECA, HENRIQUE ESPÍRITO SANTO. 

Conheço as duas versões cinematográficas, a de Michael Radford, produção internacional com grande sucesso de público, e a do próprio SKÁRMETA, muito mais próxima do romance, na linha da sua grande simplicidade de processos, por mais complexa que seja a trama. e de uma beleza insuperável. 



NOTAS CINÉFILAS



VER CINEMA

1-"O CLUBE", do cineasta chileno PABLO LARRAÍN, o celebrado autor de "NO", que era uma adaptação do romance "OS DIAS DO ARCO-IRÍS", de António Skármeta. "O CLUBE" é uma obra de uma violência psicológica fortíssima, pondo a nu, sem contemplações, os males da instituição igreja católica no seu país, mostrando a maneira como tenta tornear os casos mais complicados que podem pôr em causa a Igreja, casos onde avultam a pedofilia, a venda de recém-nascidos, as relações com os torcionários fascistas de pinochet, com os muitos milhares de cidadãos torturados e assassinados. Filme a não perder, para quem não seja demasiado impressionável, embora as imagens de violência física sejam praticamente inexistentes.




2-WHERE TO INVADE NEXT (E agora invadimos o quê?), do famoso documentarista norte-americano, MICHAEL MOORE, dá um panorama desolador do estado da democracia, dos direitos dos trabalhadores e dos direitos humanos no seu país.
Embora por vezes com humor não é, em minha opinião, das melhores obras do cineasta. Feito dentro dos limites, moderadamente de esquerda, do seu autor vale pela ilustração de valores democráticos que não existem no seu país, e que todos defendemos, Em especial o episódio da luta pelos direitos das Mulheres é talvez o melhor momento do filme. Pena que o final, que parece uma condescendência aos preconceitos conservadores dominantes em parte dos EUA, diminua o impacto da obra junto de públicos mais esclarecidos. Em qualquer caso a não perder.




3-Sobre "TRUMBO" transcrevo excertos de crítica lida (com a devida vénia), pela sua pertinência  e clareza:
"James Dalton Trumbo (1905-1976), escritor de romances e argumentos cinematográficos, foi preso no início de 1948 porque recusou ser cúmplice da perseguição aos comunistas. Chamado a depor pelo Comité de Actividades Anti-Americanas (HUAC) sobre a sua relação com o Partido Comunista dos EUA (CPUSA) em 1947, Trumbo não respondeu se era ou tinha sido membro desta organização política. Outros nove artistas foram presos na mesma altura pela mesma razão, compondo o grupo dos Dez de Hollywood: Alvah Bessie, Herbert Biberman, Lester Cole, Edward Dmytryk, Ring Lardner Jr., John Howard Lawson, Albert Maltz, Samuel Ornitz, e Adrian Scott. Dmytryk foi o único que decidiu denunciar vários membros do CPUSA e a sua delação pagou pela sua libertação antecipada em 1951. Os outros cumpriram a pena na totalidade.
(...)
Mesmo na parte inicial, o activismo de Trumbo, o modo como estava organizado, como intervinha, nunca é mostrado em detalhe. A dimensão política é quase circunscrita ao confronto entre ele e John Wayne, retratado numa lamentável caricatura que demonstra a dificuldade do realizador Jay Roach em encontrar um tom equilibrado. Esta dimensão regressa pontualmente através da sua filha, envolvida na luta pelos direitos civis dos negros.
As alterações aos factos históricos vão ao ponto de transformar Edward G. Robinson, membro do Partido Democrata que colaborou com comunistas em organizações unitárias, num delator, em substituição de Dmytryk. Robinson testemunhou mais do que uma vez, sendo pressionado a rejeitar as ligações políticas que teve, mas nunca denunciou ninguém. O filme utiliza a sua denúncia como matéria dramática, ligando-a à morte de Hird. O sentido da traição de Dmytryk é enfraquecido: a de um camarada que incriminou camaradas, legitimando a caça às bruxas e participando nela activamente. O discurso de Trumbo em 1970 que encerra o filme, ouvido por amigos e familiares seus, e por democratas que não hesitaram em recolocar o seu nome nos filmes, Kirk Douglas em Spartacus (1960) e Otto Preminger em Exodus (1960), reconfigura a história, reconhecendo erros nas suas partes, para as fazer equivaler e anular. Esta anulação reafirmada em Trumbo – no fundo, da possibilidade de uma real emancipação política e transformação social – não pode ser desligada das profundas contradições da vitória e da presidência de Barack Obama".
(Lido no jornal Avante!, num artigo de Sérgio Dias Branco) 




terça-feira, 19 de julho de 2016

ARSENAL, de ALEKSANDER DOVJENKO


ARSENAL, de Aleksander Dovjenko (URSS-1929)

Outra das obras-primas do cinema mudo soviético, realizadas nos anos 20. Este filme retrata o período da 1ª Grande Guerra (1914-1918), com todos os seus horrores mas ao mesmo tempo a difícil luta pela Revolução Socialista na Ucrânia, numa homenagem aos militantes comunistas que lutaram e pereceram na luta por um mundo melhor e mais justo. A imagem fortíssima do operário revolucionário ucraniano, oferecendo o peito descoberto às balas dos contra-revolucionários, fecha a obra.



No entanto já em 1965, o grande historiador francês do Cinema, Georges Sadoul, na sua famosa obra Dicionário dos Filmes (que ainda hoje utilizo e os críticos burgueses detestam. Pudera!), afirmava que na versão francesa desta obra-prima da 7ªArte:
"o argumento é difícil de seguir numa versão francesa remontada, enquanto era coerente e apaixonante na versão russa deste filme romanesco e lírico, obra-prima da arte do mudo."
Que diremos nós agora da versão remontada e talvez cortada que nos é dado ver? Lamentável mas ... provavelmente coerente com quem organiza estes ciclos...

Em todo o caso a grandeza das imagens é tal que a sua visão se justifica sempre!

De facto quando se cita este filme que é uma das grandes obras-primas deste cineasta soviético, nascido na Ucrânia, em Sosnitsi, Aleksander Dovjenko, filme realizado na URSS em 1929, é quase sempre a imagem do seu herói, o operário revolucionário ucraniano, Timoch, que na parte final da 1ª Grande-Guerra (1914-1918) regressa a casa, desertando da frente de combate da guerra imperialista, que a Revolução de Outubro (1917) condena e Timosh incita os operários do Arsenal a pegarem em armas para defenderem a Revolução. 
Os cossacos contra-revolucionários invadem a fábrica e provocam um massacre. 
Timoch enfrenta a peito descoberto os contra-revolucionários nacionalistas, numa imagem símbolo da Revolução invencível. E essa é a imagem que surge no final deste obra-prima, ao mesmo tempo poética e lírica da luta revolucionária.



No entanto, no ciclo onde vimos recentemente o ARSENAL, lamentavel e inacreditavelmente a imagem do operário comunista Tomish é substituida pela de cossacos contra-revolucionários, no prospecto distribuído na sessão e no ciclo! 
Porque os neo-nazis, voltaram recentemente ao poder na Ucrânia, apoiados pela NATO e pela fascizante UE, num sangrento golpe de estado, ilegalizando depois o Partido Comunista? 




segunda-feira, 18 de julho de 2016

BREVES NOTAS SOBRE O 33º FESTIVAL DE TEATRO DE ALMADA



BREVES NOTAS (tomadas na altura) SOBRE ESPECTÁCULOS VISTOS NO 33º FESTIVAL DE TEATRO DE ALMADA

Obs: Mereceriam obviamente outro tratamento mas já me falta o talento, a força e o tempo... Peço desculpa. 

1- HEDDA GABLER, de Henrik Ibsen, encenação de Juni Dahr




O 33º Festival de Teatro de Almada começou de maneira brilhante na Casa da Cerca!
Para quem gosta de Ibsen imagine o que se poderá fazer num espaço belíssimo como é a Casa da Cerca, espaço de exposições e eventos da Câmara Municipal de Almada, com Lisboa em fundo.

Mas o que esperávamos foi superado por esta magnífica encenação da peça HEDDA GABLER, pela encenadora e actriz norueguesa, também cineasta, Juni Dahr, acompanhada por outros 4 magníficos actores, uma mulher e três homens, do Visjoner Teater, de Oslo.
Espectáculo dito em norueguês, mas com uma tradução para português excelente e muito visível para todos quantos estavam a assistir.
Espectáculo quase íntimo, para apenas 60 espectadores por sessão, como gostava o grande dramaturgo norueguês, Henrik Ibsen, para aproximar o público dos actores e da representação.
Um longo e caloroso aplauso no final, com todos os espectadores de pé, pareceu-me até surpreender os actores, que talvez não o esperassem da parte de um público de língua tão diferente. Mas Almada é Almada e o público que criou tem uma cultura teatral invejável e rara.


2- A GAIVOTA, de Anton Tchecov, encenação de Thomas Ostermeier

Um famoso encenador alemão, Thomas Ostermeier, regressou a Almada com uma encenação muito moderna (mas não, pelo menos na parte principal, pos-moderna... felizmente!) de uma das grandes peças de Anton Tcheckov, A GAIVOTA.


É um grande texto que continua a suscitar interrogações e dúvidas de quem o vê representado (ou o lê) sobre o comportamento das pessoas... e dos artistas:
"Artistas!..." comenta a certa altura um dos personagens, o médico. 
Os comentários que o encenador incluiu na representação pecam, em minha opinião, por serem, no campo das ideias, um pouco confusos e ambíguos, pelo menos para mim, como o sobre os refugiados das zonas do mundo (Médio Oriente) vítimas de agressões e invasões da NATO e da UE para conquistarem fontes de matérias primas e por razões estratégicas favoráveis ao imperalismo,
Pessoalmente, no entanto, e no cômputo geral, achei muito bom, principalmente a partir de certa altura, onde se aproximou mais do clássico.



3- TRÓPICO DEL PLATA (Trópico do Mar da Prata), texto e encenação de Rúben Sabadini

(visto no Teatro Estúdio António Assunção, durante o Festival de Teatro de Almada de 2016)

Uma magnífica interpretação, de uma jovem actriz, Laura Nevole, transforma um espectáculo minimalista em algo que nos toca. 



E é quase sempre através da metáfora que o autor, o dramaturgo argentino Rubén Sabadini, nos descreve a relação de poder que se estabelece entre um homem, Guzman, e a sua amante, Aimée, uma jovem que recorre à prostituição para sobreviver numa grande metrópole, e que ele utiliza recorrendo à violência, como proxeneta e chulo. E as relações com os clientes, burgueses que se disfarçam, se escondem, para se servir daquela mulher. 
"O mercado da carne não funcionaria sem a cumplicidade de uma sociedade patriarcal prostituta que se sabe soberana e, no carnaval da história, a violência (institucional) contra a mulher disfarça-se de escolha pessoal e torna-se invisível por detrás da máscara."
"toda a violência (dos poderosos) é política porque a vítima é aquela que é tida por inferior."
"No mínimo este espectáculo procura não agradar a tantos espectadores de classe média que frequentam o teatro para expiarem as suas culpas de burgueses silenciosos e, como tal, complacentes." (palavras do autor, transcritas na folha da sessão)
Espectáculo à altura do Festival, com uma excelente legendagem, embora a clareza do castelhano argentino e a magnífica dicção de Laura Nevole a dispense muitas vezes.
De salientar ainda que, por esta interpretação, a actriz recebeu vários prémios no seu país.



4- GRAÇA - SUITE TEATRAL EM TRÊS MOVIMENTOS - autoria e encenação de Carlos J.Pessoa 

Este Festival também tem destas coisas: conduzir-nos a locais de grande beleza, neste caso o velho Teatro Taborda, na encosta do Castelo de S. Jorge, mas à altura da Senhora do Monte ou do Monte Agudo, que é um fascínio de instalações, de vista, de localização. E quanto à peça, GRAÇA - SUITE TEATRAL EM TRÊS MOVIMENTOS, concepção e encenação de Carlos J. Pessoa, para o Teatro da Garagem, é uma magnífica homenagem à pintora Graça Morais, cuja obra, de profundo sentido telúrico, pelo menos para mim, a sua sensibilidade e humanismo, admiramos desde há muito, sendo outro espectáculo que nos surpreendeu, principalmente pela sua concepção com recurso a meios vários, nomeadamente o vídeo, admiravelmente conseguidos.





Relembremos que a pintora é a autora do belíssimo cartaz do Festival e que duas exposições da sua obra são visíveis, na Casa da Cerca (até Setembro) e na Escola D. António da Costa (só durante o Festival).



5- DEIXA-ME QUE TE BAILE, dançado e encenado por Mercedes Ruiz

Para mim o Festival iniciou-se e terminou com dois espectáculos que achei brilhantes, de que gostei muito.

Para abrir, foi a HEDDA GABLER, a famosa peça de Ibsen, representada este ano na CASA DA CERCA e que viria ontem a merecer a escolha do público para Espectáculo de Honra de 2017 (fiquei contente porque gostei muito desta encenação). 

E o fecho, incluindo a homenagem a um grande homem de teatro, Ricardo Pais, foi outro espectáculo excepcional, DEJAME QUE TE BAILE, não de teatro mas de dança e canto, desta vez com o FLAMENCO, dançado pela que foi considerada este ano, em Espanha, a melhor intérprete desta Arte, Mercedes Ruiz (Jerez de la Frontera, 1980) e a sua Companhia. 

É difícil encontrar palavras para descrever o que se sente quando se assiste a um espectáculo de FLAMENCO, com esta enorme qualidade artística, com as suas origens em povos e culturas, com as quais as nossas ligações ancestrais são fortíssimas - árabes, judaicas e, principalmente, ciganas. Impossível não pensar em Frederico Garcia Lorca, um dos maiores poetas e dramaturgos da Literatura Universal e em tempos mais recentes, num grande cineasta, Carlos Saura e na sua maravilhosa trilogia sobre a música património universal - Flamenco, Tango e Fado.




6- CONCLUSÃO

Com imagens feitas por um modesto espectador e fotógrafo ocasional e outras, as de alguns dos participantes, de espectáculos que vimos, retiradas da NET.
Foi o 33º. E como diria o seu criador e fundador, o saudoso Joaquim Benite, já estamos a pensar em como será o 34º, onde esperamos ainda estar presentes, com o mesmo empenho e interesse...
Retenho as palavras do director artístico do Festival, Rodrigo Francisco, em entrevista que lemos - "... há um espectáculo que eu acarinho bastante e que é o espectáculo de encerramento no Palco Grande: Dejame que te baile, da coreógrafa e bailadora espanhola Mercedes Ruiz."
Também nós porque foi, em nossa opinião, um brilhante e maravilhoso encerramento para o Festival, mesmo que à sua programação deste ano possam ser tecidas algumas críticas mas isso ficará para outro espaço e momento ! 
E lamento muito não ter podido ver tudo o que me interessava.









sexta-feira, 15 de julho de 2016

O HOMEM DA CÂMARA DE FILMAR (Celovek s Kinoapparatom), de DZIGA VERTOV



O Homem da Câmara de Filmar (Celovek s Kinoapparatom) (Человек с киноаппаратом) (URSS-1929), de Dziga Vertov (1h20') 















O seu autor, Dziga Vertov (Denis Arkadievitch Kaufman - Bialystok, Império Russo (hoje Polónia) 2-Jan-1896 - Moscovo, URSS, 12-Fev-1954) , juntamente a sua companheira, Yelizaveta Svilova (Moscovo, 5-Set-1900 - 11-Nov-1975) que editou a obra e o seu irmão, Mikhail Kaufman (Bialystok, 5-Set-1897 - Moscovo, 11-Mar-1980), que a interpretou como o homem da câmara de filmar, publicaram o manifesto "Cinema-Olho" ou Cinema-Verdade", de que este filme é um primeiro, brilhante e inesquecível resultado.



Em 2012, a famosa revista Sight and Sound, publicada pela cinemateca britânica (BFI), no seu inquérito, a cada década desde os anos 50, aos principais críticos de cinema por todo o mundo para escolherem os Melhores Filmes de Sempre, coloca esta obra de Dziga Vertov como a 8ª mais citada entre as 250 que a revista inclui na sua lista, onde estão obviamente quase todos os melhores filmes feitos desde o nascimento da 7ª Arte.



Ao revê-la agora, mais uma vez, continua a impressionarmo-nos muito pela inventiva dos planos e das técnicas cinematográficas utilizadas, isto apesar dos avanços tecnológicos nas câmaras, no quase um século decorrido até hoje.



Mas é o olhar que continua a tudo, ou quase tudo, determinar e obviamente a montagem posterior do material filmado e que transformam este filme num fluxo admirável de imagens sobre a vida dos trabalhadores na sociedade soviética, poucos anos depois da vitória da Revolução Socialista de Outubro (7-Nov-1917, no nosso calendário), não esquecendo as imagens do tempo de descanso, pago, conquista também da Revolução, que os trabalhadores na sociedade capitalista só haveriam de conquistar em 1936, no governo da Frente Popular, em França. 

Há quem lhe chame hino ao progresso, ao Homem do futuro e eu concordo, com as imagens das fábricas e dos trabalhadores mas também do ritmo frenético da vida numa grande cidade.



O homem da câmara de filmar (Mikhail Kaufman, o cineasta irmão de Dziga Vertov) surge-nos sempre como mais um trabalhador, como os operários das fábricas ou das minas ou as operadoras das comunicações, que tem como tarefa filmar o que se passa, e não como alguém que apenas observa. 




Há um aspecto que se salienta muito das imagens desta obra-prima, aliás como da maioria dos grandes filmes soviéticos dessa época do início da construção do Socialismo, que é a da emancipação da Mulher, que se pretende igual ao Homem, em direitos, depois da Revolução.


Tudo isto sem um carácter panfletário. São antes as imagens que nos mostram a realidade.

Uma obra-prima absoluta do documentário e da 7ª Arte.




domingo, 10 de julho de 2016

ABBAS KIAROSTAMI (1940-2016)




HOMENAGEM A UM GRANDE CINEASTA

ABBAS KIAROSTAMI (Teerão, 22-Jun-1940- Paris, 4-Jul-2016)

Éramos praticamente da mesma idade. Nasci em Lisboa, Abbas em Teerão. 

Só muito mais tarde conheci os seus filmes, de que gostei muito desde o primeiro. Fui seguindo tudo o que a péssima distribuição de filmes no meu país, praticamente enfeudada ao grande império da indústria do cinema - o dos EUA, me permitiu.
Revi agora a sua última obra, LIKE SOMEONE IN LOVE (Como Alguém Apaixonado) de que continuo a gostar muito.

Relembro a pequena e modesta nota então escrita, mas referências a outras obras deste grande cineasta podem ser encontradas neste blogue 


"Não é o argumento que acima de tudo nos seduz – uma história de solidão e proximidade do fim de vida de um professor de sociologia, aposentado e viúvo, que os filhos já quase não visitam, que se deixa enredar numa teia de mentiras, “like someone in love”, demonstrando afinal que a experiência de vida neste caso de pouco lhe serviu. Tanto assim é que o próprio Kiarostami deixa a sua história em aberto...
É antes a maneira, uma vez mais, como este grande cineasta contemporâneo, o iraniano Abbas Kiarostami, filma, mas sem nunca fugir ao seu estilo, de que muito gostamos, sem excessos de nenhuma ordem, quase contemplativo às vezes, mas nunca nos distraindo do essencial. 

E no entanto parece que absorve a enorme cultura fílmica do país onde realizou a sua obra (comparar com as obras de Yajuziro Ozu, um dos grandes mestres do cinema nipónico, actualmente em exibição em Lisboa...). 

Que diferença para os trabalhos de alguns notáveis cineastas norte-americanos que quando filmaram no Japão parece que estavam a fazer westerns... 

Em pano de fundo, a voz inesquecível de Ella Fitzgerald, na canção que dá título à obra. 
Interpretações a condizer, de Rin Takanashi (em Akiko, a jovem estudante universitária, que se prostitui para pagar os estudos), Tadashi Okuno (no velho professor) e Ryo Kase (em Noriaki, o jovem apaixonado). E reparar como Kiarostami filma os seus personagens, em diálogo, no interior dos carros, no que é mestre, processo que tem repetido ao longo da sua obra. Relembrar em especial o famoso TEN (Dez), filmado na capital do seu país, Teerão, que praticamente decorre no interior de um automóvel. 
Muito recomendável aos que gostam da Sétima Arte."

Recorri à Wikipedia, que desta vez me pareceu aceitável, para incluir aqui alguns dados sobre a biografia de Abbas Kiarostami, para quem não conheça a sua notável obra