Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

HOMENAGEM A ARMANDO CALDAS

Aos seus 55 anos de carreira, dedicada ao Teatro, à Cultura, à Cidadania!
Foi bonita a Festa, Armando! Com aqueles momentos mágicos de que tanto gostas (e gostamos) e que sempre acontecem nos espectáculos de Cultura e talvez acima de tudo de convívio, que organizas.
Num teatro cheio como um ovo, a homenagem do concelho onde há longos anos o Armando Caldas trabalha. Em Oeiras, através da sua Câmara Municipal, a que se associaram muitos amigos - os participantes no palco e os que couberam no Auditório Municipal Ruy de Carvalho, com os seus cerca de 500 lugares. Também com a participação dos actores e colaboradores da sua companhia, o Intervalo Grupo de Teatro.

Foi emocionante e comovente por vezes, ver quanto este cidadão é estimado pelos seus colaboradores, pelos seus pares, pelos seus espectadores, pelos seus camaradas, por quem com ele convive. Não é só por ser militante das causas sociais, por ser militante comunista. Acima de tudo, julgo, porque leva à prática, na sua vida, o seu ideal, conseguindo congregar à sua volta gente boa, não importa se com ele comunga de todos os seus ideais de futuro. Isso é e será sempre admirável. As suas palavras de agradecimento foram de uma elevação rara, que só os grandes carácteres conseguem. Obrigado, Armando, pelo que tens feito, pelo que nos tens dado.
(texto escrito em 10-Mai-2013  e por essa altura publicado no facebook)


(a foto é minha, com base nos últimos programas do Intervalo Grupo de Teatro e no livro  publicado, com edição do Município de Oeiras, por ocasião desta homenagem)

MAIS VALE RIR DO QUE CHORAR (Teatro)




PEQUENAS NOTAS DE UM ESPECTADOR DE TEATRO

São duas peças em um acto, uma de Georges Courteline (1858-1929), a outra de Georges Feydeau (1862-1921), respectivamente "O Chefe é um Gajo Porreiro" (Le Commissaire est bon enfant) e "Não andes nua pela casa" (Mais n' te promène donc pas toute nue), a que o Intervalo Grupo de Teatro chamou "MAIS VALE RIR DO QUE CHORAR". 

A encenação é de Armando Caldas, também director desta companhia de que tanto gostamos. 

Os autores são dois famosos e excelentes dramaturgos da comédia francesa, nascidos em meados do século XIX, contemporâneos, e ambos falecidos nos anos 20 do século passado. 

O espectáculo diverte-nos e faz-nos rir dos mais ou menos inofensivos disparates no comportamento humano, de que a sociedade em que vivemos é pródiga. 

Serve de lenitivo para suportar outros disparates, mas esses muito mais graves e intencionais, do momento político que infelizmente atravessamos. 

Uma referência aos excelentes actores da Companhia, alguns dos quais participam magnificamente nas duas peças. O espectáculo, para quem puder, é nas sextas-feiras e sábados, às 21.30 e domingos, às 16.00. Convém reservar e chegar cedo porque os lugares não são marcados. 

(publicada no facebook)




quarta-feira, 30 de outubro de 2013

NOTA PARA OS AMIGOS

Regressei ao blogue, em acelerado, para tentar recuperar o tempo perdido. No entanto falta fazer muita coisa, como por exemplo a lista dos blogues que para mim constituem referências e que está completamente desactualizada.
É possível que haja erros e gralhas porque não tive revisor (revisora...). Por eles peço desculpa. E se tiver os cinco leitores de que fala Brás Cubas (que Machado de Assis inventou), já fico contente!
Abraços


PRISONERS (RAPTADAS)



NOTAS CINÉFILAS

(publicada no facebook, em 24-OUT-2013)

“PRISONERS” (Raptadas), de DENIS VILLENEUVE

Foi o ter lido há dias que este cineasta quebequiano (Trois-Rivières, 3-Out-1967) havia realizado uma adaptação, que agora teve estreia mundial, do magnífico romance “O HOMEM DUPLICADO”, do nosso José Saramago (Nobel da Literatura em 1998), a que Villeneuve deu o título de “ENEMY”, e tendo aliás também Jake Gyllenhall como actor principal, que me despertou a curiosidade de ver a sua anterior obra, “PRISONERS”, actualmente em exibição na nossa cidade.

O rapto de crianças, seja por pedofilia, seja por outras não menos assustadoras razões, como o tráfico de órgãos, que continua a atingir milhares de crianças por todo o mundo, em especial as socialmente mais vulneráveis, por as famílias não terem nem recursos nem conhecimentos para sequer se queixarem às autoridades (e onde estão estas, em muitos casos?) e a tentativa posterior da família de fazer justiça pelas próprias mãos, com todas as consequências conhecidas, associais e morais, uma das quais e das mais graves é a de, não poucas vezes, a vingança vir a recair sobre inocentes, é o tema, fortíssimo deste filme. 

Villeneuve, ao pôr a acção num pequeno meio urbano da Pensilvânia, no interior dos EUA, mostrando a conhecida, enorme e pouco recomendável, influência das seitas religiosas em grande parte da população norte-americana, tem o claro objectivo, penso, de mostrar como o resultado disso é mais uma vez um feroz individualismo que pode justificar as maiores atrocidades. 

No entanto fica-se com a sensação de que o tema podia ser melhor tratado, com menos ambiguidade, mais por deficiências de argumento do que por realização, que aliás é excelente. Fica por isso longe da grande obra-prima (na minha opinião) de Clint Eastwood que é “MYSTIC RIVER”, com a qual alguns críticos pretendem aparentar esta obra de Villeneuve.

As interpretações são excelentes, incluindo a do difícil papel do pai, que resolve fazer justiça pelas próprias mãos, entregue a Hugh Jackman. Ao contrário aliás do que lemos algures.

A ver portanto.

FRANCES HA



NOTAS CINÉFILAS

(publicada no facebook em 25-OUT-2013)

“FRANCES HA”, de NOAH BAUMBACH

Deste cineasta nova-iorquino (Brooklyn, 3-Set-1969), muito ligado ao cinema dito independente, passa nos ecrãs da nossa cidade outra obra de que gostamos muito.

Relembremos os seus anteriores e excelentes trabalhos que vimos, “THE SQUID AND THE WHALE” (A Lula e a Baleia) e “GREENBERG”.

Agora é um olhar mais ou menos desencantado sobre os jovens que procuram realizar os seus sonhos na grande metrópole, que é aliás a cidade natal de Noah, a qual se parece cada vez mais com uma selva, em que apenas uma minoria, já de si privilegiada, vence. “Para se ser artista nesta cidade é preciso ter dinheiro”, diz uma das personagens da obra, pressupondo que o talento é menos importante...

A obra é mais que melancólica, é por vezes quase angustiante, quando pensamos também nos jovens, e nos já menos jovens, que nos rodeiam deste lado do Atlântico e que, como resultado das políticas, cá e na Europa, que não diferem das praticadas nos EUA, procuram uma saída para as suas vidas enquanto as classes dominantes esbanjam o dinheiro resultante da exploração dos trabalhadores.

Ainda esta semana havíamos lido na comunicação social que 12 milhões de crianças nos EUA vivem na pobreza, isto é, uma em cada seis menores de 5 anos! A esta terrível situação, no que é considerado a mais poderoso país do planeta, conduziu a política dominante no chamado mundo ocidental, nas últimas duas ou três décadas, mais concretamente a partir do início dos anos 90, com a consolidação no poder do dito neo-liberalismo, política de direita muitas vezes com laivos fascizantes e a partir do momento em que o Leste socialista ruiu.

Noah Baumbach dá-nos também um testemunho disso, embora num domínio restrito, o dos jovens que ainda sonham em vencerem no campo artístico, numa bela obra, utilizando uma magnífica fotografia a preto e branco (de Sam Levy). Ao ver este filme lembrei-me imediatamente da imoralidade que é amarrar os jovens estudantes aos empréstimos bancários, começando logo por os escravizar a partir daí. E essa medida nasceu no nosso país, salvo erro, a partir de um governo de José Sócrates, tendo como ministro da educação, Mariano Gago, que acabou por esbanjar ingloriamente o algum crédito que tinha granjeado na vida académica.

Ainda outro dia havia visto um filme passado no Japão “Like Someone in Love” (de um dos mais célebres cineastas contemporâneos, Abbas Kiarostami), onde a heroína, uma jovem universitária, se prostituía, com outras colegas, para pagar os estudos (da dívida ao banco, provavelmente...).

Na obra de Noah Baumbach, a jovem actriz, Greta Gerwing, dá corpo à personagem principal, Frances, numa interpretação brilhante mas acima de tudo tocante.

Muito recomendável a visão, para quem possa.



PATRICE CHÉREAU - IN MEMORIAM



IN MEMORIAM

Ainda estava, infelizmente, fora de casa quando soube do falecimento deste grande criador de arte, PATRICE CHÉREAU (Lézigné, França, 2-Nov-1944 – 7-Out-2013). 

Distinguiu-se principalmente como encenador, de teatro e ópera e realizador de cinema. Provavelmente a sua obra não é consensual, como o parece indicar a posição da crítica dos jornais dominantes portugueses, mas, do que conhecemos, sempre nos impressionou fortemente pela sua qualidade e inovação.

Como forma de homenagem pessoal relembro a sua passagem pelos ecrãs e palcos portugueses com duas pequenas notas então escritas. 

Curiosamente, fruto talvez de a sua obra não ser apreciada por alguns, a última das suas passagens pelo nosso país, no Festival de Teatro de Almada, reconhecidamente considerado um dos três melhores da Europa, nem sequer foi citada, pelo menos num dos dois jornais dominantes que me passou pelas mãos... 

Foi a visualmente fortíssima encenação de “EU SOU O VENTO” (I AM THE WIND), de Jon Fosse (Haugesund, Noruega, 1959). No final, quando a assistência, rendida á beleza e qualidade, da encenação e interpretação, se levantou para aplaudir, PATRICE CHÉREAU, sem grandes alardes, atravessou o palco para agradecer, como os restantes intervenientes no espectáculo. Possivelmente muitos dos espectadores nem sequer o reconheceram... Foi em 17-Jul-2011, na Sala Principal do Teatro Municipal de Almada, agora Joaquim Benite.



Sobre “Gabrielle, de Patrice Chéreau (FRA)

Eis outro filme do mesmo patamar de qualidade dos anteriores, que nada tem a ver, diga-se de passagem, com a esmagadora maioria dos filmes em exibição, a maior parte proveniente do mercado norte-americano (EUA).

“A verdade de uma personagem não se exprime pelo naturalismo nem pelo excesso de naturalidade da televisão. Pode ser até revelada através de intenso formalismo.” (Patrice Chéreau a Elisabete França, DN, 26jan06)

Chéreau recorre ao preto e branco, à cor, ao som ou à ausência dele (mudo, com legendas), à modificação da cadência das imagens, a tudo o que o cinema permite para realizar outra obra interessantíssima, baseada na novela “O Regresso (The Return)” do grande escritor Joseph Conrad.

Vê-se com muito prazer cinéfilo, e não só, esta história do fim de uma relação, no seio da grande burguesia, servida por um exército de criados, e se dedica aos seus jantares sociais (com umas pitadas de cultura…). Chéreau diz que é algo que já não existe e talvez seja verdade, pelo menos assim. Hoje, os novos (e muitos velhos) ricos, perderam sofisticação, embora continuam na sua maioria a ser, mas hoje com mais intensidade, incultos e mal educados, em todos os sentidos, e esbanjem em frivolidades o dinheiro resultante da exploração dos trabalhadores.

O autor (Patrice Chéreau, 1944) vem do teatro, do teatro de grande qualidade, sendo considerado um dos grandes encenadores da actualidade, encenando também ópera. A sua carreira no cinema começou só em 94 com o famoso “A Rainha Margot”, a que se seguiu “Intimidade”(2001) e depois “O Seu Irmão”. Esta sua incursão pelo cinema, em minha opinião, continua a manter a grande qualidade artística do autor. Claro que, por isso, pouco tem a ver com o cinema comercial, que está aliás para a Sétima Arte como a “literatura light” está para a literatura a sério.

Quanto aos actores, dizer que são admiráveis é dizer quase tudo. Em especial Isabelle Hupert, uma das maiores actrizes do nosso tempo, criou em Gabrielle mais uma personagem inesquecível, das que fazem parte do nosso imaginário cinéfilo. ****

(4-Fev-2006)

Sobre “Eu Sou o Vento” (I Am the Wind), de Jon Fosse, encenação de Patrice Chéreau, visto no Teatro Municipal Joaquim Benite, no decorrer do Festival de Teatro de Almada

“(...) Como não sou crítico, não me vou pronunciar sobre a qualidade dos espectáculos que vi, que foi, em minha opinião, quase sempre superior. Apenas dizer se gostei ou não. E a verdade é que, na véspera, a encenação de Patrice Chéreau me tinha surpreendido muito, pela beleza e impacto visual. Quanto ao texto, li algures comparações com o Koltés, o que não me atrevo a fazer, até porque tive a rara felicidade de ver dois grandes actores portugueses, João Perry e Mário Viegas, na mais célebre das suas peças e onde eles foram, em minha opinião, insuperáveis. Mas a interpretação de "EU SOU O VENTO" foi também soberba. Um grande espectáculo, em minha opinião. “

(17-Jul-2011)

(publicado no fecebook, em Out-2013)



LIKE SOMEONE IN LOVE



NOTAS CINÉFILAS

(publicada no facebook em 22-OUT-2013)

LIKE SOMEONE IN LOVE (Como alguém apaixonado)

de ABBAS KIAROSTAMI

Não é o argumento que acima de tudo nos seduz – uma história de solidão e proximidade do fim de vida de um professor de sociologia, aposentado e viúvo, que os filhos já quase não visitam, que se deixa enredar numa teia de mentiras, “like someone in love”, demonstrando afinal que a experiência de vida neste caso de pouco lhe serviu. Tanto assim é que o próprio Kiarostami deixa a sua história em aberto...

É antes a maneira, uma vez mais, como este grande cineasta contemporâneo, o iraniano Abbas Kiarostami, filma, mas sem nunca fugir ao seu estilo, de que muito gostamos, sem excessos de nenhuma ordem, quase contemplativo às vezes, mas nunca nos distraindo do essencial.

E no entanto parece que absorve a enorme cultura fílmica do país onde realizou a sua obra (comparar com as obras de Yajuziro Ozu, um dos grandes mestres do cinema nipónico, actualmente em exibição em Lisboa...).

Que diferença para os trabalhos de alguns notáveis cineastas norte-americanos que quando filmaram no Japão parece que estavam a fazer westerns...

Em pano de fundo, a voz inesquecível de Ella Fitzgerald, na canção que dá título à obra.

Interpretações a condizer, de Rin Takanashi (em Akiko, a jovem estudante universitária, que se prostitui para pagar os estudos), Tadashi Okuno (no velho professor) e Ryo Kase (em Noriaki, o jovem apaixonado). E reparar como Kiarostami filma os seus personagens, em diálogo, no interior dos carros, no que é mestre, processo que tem repetido ao longo da sua obra. Relembrar em especial o famoso TEN (Dez), filmado na capital do seu país, Teerão, que praticamente decorre no interior de um automóvel.

Muito recomendável aos que gostam da Sétima Arte.



IO E TE (EU E TU)



IO E TE (Eu e Tu), de Bernardo Bertolucci (Parma, 16-Mar-1940)

Já sabem que não sou crítico de cinema ou de outra coisa qualquer (nem quero ser) e que estas pequenas notas não passam disso mesmo, notas de gosto, embora gostasse de ter conhecimentos de cinema, para além dos do mero espectador, que às vezes gosta muito do que vê no grande (e também no pequeno, por muito limitado que seja) ecrã, que me permitissem ir mais longe do que daquilo que intuo e me prende a atenção, para poder concretizar as razões desse gosto, em termos da linguagem específica desta arte. 

Tudo a propósito da última obra de um mestre da Sétima Arte, também poeta, mal amado da crítica mais conservadora (e já não falo dos que, acriticamente, se deixam inflenciar por ela...).

É que “IO E TE” (Eu e Tu) (2012) é mais um grande filme de Bertolucci, de que não víramos mais nada depois dessa obra-prima que era “OS SONHADORES” (2003). Foi aliás exibido em Cannes, em 2012. 

O difícil crescimento dos jovens adolescentes, num mundo em que se perderam algumas (muitas) referências, entre elas a família. Uma visão admirável e inesperada, numa linguagem de uma grande fluidez, que só os grandes cineastas conseguem atingir, que nos prende àquela cave, do prédio onde habita com a mãe, Lorenzo, um jovem adolescente de 14 anos. Mãe que o julga numa excursão à neve organizada pela escola que frequenta. Cave onde ele se refugia, procurando assim afastar-se do mundo que o inquieta. Felizmente para ele não o conseguirá e verá que há outros problemas em seu redor, cujo conhecimento o fará crescer.

Sem dúvida um dos filmes vistos neste ano de 2013 de que mais gostei e que vou considerar no meu balanço anual, embora, por razões várias (a saúde também) me tenha reduzido apenas à visão de quase tudo o que considerava essencial, pelas referências que me chegaram dos críticos de cinema que me merecem crédito.

Sobre BERNARDO BERTOLUCCI (Parma, Itália, 16-Mar-1940) só gostava de referir, para quem não sabe ou não se lembra, que foi ele o autor de “O ÚLTIMO TANGO EM PARIS” (1975) e “1900” (1976), entre mais alguns, já que a sua obra não é longa, e que são indiscutíveis obras-primas do cinema no século XX, mas que talvez justifiquem algumas das razões porque é olhado com desagrado por mentes mais retrógradas, que sistematicamente o tentam desvalorizar.

Não percam, se puderem!

Adenda: Depois de escrito este pequeno texto e a propósito de grande versus pequeno ecrã, leio numa revista de cinema (“Positif”) a seguinte afirmação de Alain Resnais, em 2006 (!) aquando da estreia do seu “Coeurs”, num editorial cujo título é justamente “Grandes filmes, pequeno ecrã”

“Em algumas séries de televisão (e cita algumas) considero a sintaxe cinematográfica mais rica e mais inventiva que na maioria dos filmes feitos para o cinema.” 

É verdade! Mas para mim a grande questão continua a ser a perda da qualidade em relação à projecção em grande sala, não só em termos de qualidade de imagem mas também de som, mas principalmente do acto colectivo de ver cinema e da magia da sala escura. 

Vão-me dizer que, no sentido em que a sociedade caminha na actualidade, principalmente nos países ditos mais desenvolvidos, com a panóplia de meios tecnológicos surgidos nas últimas décadas, essa perda é irrecuperável e o cinema em grande ecrã acabará por ficar confinado, num futuro provavelmente não muito longínquo, para um pequenos sector de público mais exigente. Talvez. Mas não deixo de o lamentar. 

(publicado no facebook, em 15-Out-2013)




NA SEMANA CULTURAL DO INTERVALO GRUPO DE TEATRO



SEMANA CULTURAL DO INTERVALO GRUPO DE TEATRO – 2013

Homenagem a Álvaro Cunhal, no ano em que se comemora o seu centenário

Na Semana Cultural de 2012 assisti praticamente a tudo. Este ano, infelizmente, apenas pude estar presente na última sessão, até porque teria um desgosto se não tivesse lá estado pelo menos uma vez.

Não foi no Auditório Lourdes Norberto, Linda-a-Velha (ver foto), onde é a casa habitual do Intervalo Grupo de Teatro, mas no Auditório Ruy de Carvalho, no Centro Cívico de Carnaxide. 

Foi a homenagem do Intervalo a Álvaro Cunhal, no ano do centenário do seu nascimento, que se tem vindo a comemorar desde o início do ano (e vai continuar), em geral por iniciativa do seu partido, o Partido Comunista Português.

Mas desta vez foi um grupo de teatro, de que tanto gostamos, que resolveu incluir também uma homenagem, na sua Semana Cultural, que se realiza há cerca de 30 anos, julgo que sem interrupção e por onde têm passado grandes figuras da nossa Cultura.

Aliás Armando Caldas, o director e encenador principal do grupo, contou nesta sessão como convidou Álvaro Cunhal para participar, juntamente com os dirigentes dos principais partidos portugueses, numa sessão comemorativa do 25º Aniversário do Intervalo (fez este ano 43, salvo erro) e como ela acabou por não se poder realizar por ausência dos outros convidados, que aliás haviam anuído previamente...

Mas, voltando à sessão de anteontem, a que assistimos, queremos dizer que gostámos muito.

É que Armando Caldas, com a sua inteligência e sensibilidade, organizou uma sessão que primou pela sobriedade, mas de uma qualidade superior.

Onde a habitual intervenção sobre o homenageado da noite, desta vez, em homenagem infelizmente póstuma, foi entregue a José Barata Moura, filósofo e intelectual multi-facetado, que vai desde a cátedra universitária (passando também pela responsabilidade durante alguns anos da Reitoria da Universidade), à obra escrita, em que avulta a tradução e estudo de Marx e Lenin, até à música, como autor e cantor, com especial relevo para os seus trabalhos para a infância. 

Escusado será dizer que a intervenção foi brilhante, combatendo preconceitos sobre o homenageado, sobre o seu pretenso dogmatismo, mostrando, até com citações de Álvaro Cunhal, como ele analisou a situação política do país e não só, com incursões históricas também, à luz do Marxismo, que continua a revelar toda a sua superioridade como teoria de análise da realidade. E referiu também a componente artística de Álvaro Cunhal, os seus trabalhos, brilhantes, nos campos da literatura, pintura e desenho e, o que nos toca profundamente, referindo uma vez mais a sua ausência de dogmatismo também relativamente à Arte, no seu trabalho "A Arte, o Artista e a Sociedade".

O momento de música que completa estas homenagens não podia ficar melhor entregue! Foi o Coro Lopes-Graça, da Academia de Amadores de Música, dirigido pelo maestro José Robert, com as Canções Heróicas, que foram proibidas durante o fascismo salazarista, e escritas por alguns dos grandes poetas portugueses. 

(publicado no facebook, em 12-out-2013)

 

(imagem retirada da página do facebook do Intervalo Grupo de Teatro)

BLUE JASMINE



NOTAS DO “DIÁRIO DE BORDO” - (VI) - 1-Out-2013

Tinha pretendido escrever alguma coisa no Facebook (e no blogue, que precisa de actualização urgente...) sobre o último filme de WOODY ALLEN, “BLUE JASMINE”, mas não tive tempo porque fui obrigado a ficar aqui retido. Depois, se puder, hei-de fazê-lo. Agora fica apenas uma pequena nota.

Julgo que “BLUE JASMINE” se poderá transformar num clássico dos que que têm como pano de fundo a crise financeira nos EUA do final da primeira década do Século XXI, que se propagou ao resto do mundo capitalista, pelo menos. Poucas economias conseguiram ficar imunes ao contágio dos problemas causados por mais esta crise do capitalismo.

O que WOODY ALLEN criou foi uma história de amor, ciúme e traição, em que a sua heroína é arrastada no turbilhão dos que tentaram aproveitar a crise para enriquecer, através da especulação financeira, quase sempre ilegal, mas que acabam mal.

Depois é o difícil regresso dessa mulher às origens, ao meio dos milhões de cidadãos norte-americanos pobres, muitos acabando na miséria e até na rua.

Não há muito humor nesta magnífica obra deste célebre autor.

Uma nota para a brilhantíssima interpretação da actriz principal, a australiana CATE BLANCHETT (Melbourne, 14-Mai-1969).

(retirado do novo capítulo do meu "diário de bordo" e publicado no facebook, em Out-2013)



A GAIOLA DOURADA



NOTAS CINÉFILAS 

(publicada no facebook em 6-AGO-2013)

A GAIOLA DOURADA – de Rúben Alves

Rita Blanco, a grande actriz do teatro (Cornucópia) e do cinema, em entrevista ("Visão", de 15-Ago-2013):

"Foi feito ("A Gaiola Dourada") com muito empenho, carinho e proximidade por parte do realizador. Trata-se de um filme comercial e, como tal, pretende ter espectadores, O Rúben (Rúben Alves) realizou uma comédia que atrai sempre mais gente. Além disso, há na história uma ternura latente e uma leveza que funciona muito bem nesta altura. Não desfaz nos emigrantes, nem nos franceses, embora haja sempre um toquezinho de crítica. (...)"

Subscrevo! E confesso que me chegou a emocionar. Porque me lembrei dos emigrantes, familiares ou amigos, que passaram pela miséria, na emigração, obrigados a viver nos enlameados e miseráveis bidonvilles (que o governo francês se apressou a desmantelar assim que poude), para amealhar alguns proventos para a família Alguns bem sucedidos, outros que apenas voltaram com todas as penas, da saúde abalada e dos maus tratos sofridos.

Olho para crítica de cinema que temos, a dos diários dominantes, e verifico que alguns, os críticos mais conservadores, nem sequer se dignam a ir ver, como costumam fazer em casos similares, embora não se importem de apoiar às vezes péssimo cinema, apenas porque está na moda, por este ou aquele motivo (político, até). Posso rir (amargo)? E desculpem o desabafo, até porque gostos não se discutem...

Mas, já agora, vão ver A GAIOLA DOURADA e não se assustem com o início, que até pode ser demasiado caricatural... E depois digam-me de vossa justiça.





PEQUENAS NOTAS DE UM ESPECTADOR DE TEATRO (III)

PEQUENAS NOTAS DE UM ESPECTADOR DE TEATRO (III)

O 30º Festival de teatro de Almada está a chegar ao fim. Quase na altura de um balanço pessoal, do muito bom que mais uma vez este Festival nos trouxe e que, com as nossas limitações, conseguimos ver (ficaram de fora coisas muito boas, que não tivemos tempo para ver...). Das grandes emoções e das alegrias que nos deu. 

Mas agora quero ainda referir mais dois espectáculos vistos no seu âmbito. 

O belíssimo documentário da Catarina Neves, NÃO BASTA DIZER "NÃO", sobre o último trabalho de Joaquim Benite. A encenação de "TIMÃO DE ATENAS", de Shakespeare, que estreou no final/início 2012/2013, infelizmente já sem a sua presença. 
Encenação de que gostámos muito, sobre um tema que lhe era caro (e a nós também), sobre os malefícios do dinheiro e tudo o que daí decorre. 
Ainda bem que o chegou a pôr em cena. Foi um dos espectáculos que mais me agradou, dos que vi durante 2013 e até ao dia de hoje. 
Quanto ao documentário é de visão obrigatória para todos os que gostam de Teatro, porque mostra, sem artifícios, o trabalho de um Mestre. 

O segundo espectáculo é o trabalho de um grande encenador, Rogério de Carvalho, de que temos visto em Almada excepcionais obras, para uma peça de Strindberg, O PELICANO. Muito nórdica, em que álcool e fogo estão omnipresentes, drama familiar intenso, em que a perversidade se aproxima dos limites. 
Grande direcção de actores, entre os quais é necessário salientar o regresso de Teresa Gafeira aos grandes papéis, de novo no papel de uma mãe mas, mostrando uma vez mais a sua grande versatilidade, numa mãe que nada tem a ver com as grandes figuras femininas de Brecht e Gorki, que interpretou em dois dos mais brilhantes espectáculos da Companhia de Teatro de Almada. 
Para rever sem falha, ainda no decurso desta temporada (Setembro / Outubro, no TMJB).

Uma palavra final para o surpreendente e eficaz cenário com que os espectadores se deparam, quando chegados a uma bancada improvisada no palco, esta que nos parece lá ter estado sempre. Magnífico!

(publicado no facebook, em Jul-2013)



(as fotos são minhas, tiradas durante a homenagem a Joaquim Benite, realizada em 8 de Setembro de 2013, no decorrer da Festa do Avante!, na tenda do Avanteatro)

PEQUENAS NOTAS DE UM ESPECTADOR DE TEATRO (II)

PEQUENAS NOTAS DE UM ESPECTADOR DE TEATRO (II)

Para quem goste e puder. Eu lá vou arranjando tempo para ir vendo algumas coisas de que gosto muito.
Especial saliência para dois magníficos espectáculos em Almada, no Festival de Teatro:

Um curioso e interessante "O PAPALAGUI" (homem branco na linguagem samoana), teatralização da obra de Eric Scheuermann, que transcreve os relatos aos seus conterrâneos de um chefe aborígene, Tuiavii, da Ilha de Samoa, na Polinésia, das suas impressões de viagem à Europa, no início do século XX. Uma reflexão sobre as incongruências e irracionalidades da vida ocidental. Admirável interpretação de Habib Dembélé, para a encenação de Hassane Kassi Kouyaté. Relembremos que vimos este grande actor em Almada (2007), em "Sizwe Banzi morreu", uma peça sul-africana, de Athol Fugard, encenada pelo mestre Peter Brook. A visão de “O PAPALAGUI” fez-me vir á memória um dos momentos mais extraordinários da obra-prima do Cinema, “O Novo Mundo”, de Terrence Malick , quando o acompanhante da princesa Pocahontas deambula pelos jardins do palácio.


E um extraordinário espectáculo de Teatro, "A ÚLTIMA GRAVAÇÃO DE KRAPP”, de Samuel Beckett, um dos nomes maiores da dramaturgia universal (como Shakespeare, como Brecht, como Molière, como Tchekov, como Lorca, como Pinter, como Ibsen...), com encenação de outro génio, o famoso encenador alemão Peter Stein, que voltou este ano a Almada com dois trabalhos - este e uma peça de Labiche. É um daqueles momentos mágicos de Almada, que é difícil de superar em qualidade. Beneficiando muito do actor escolhido para representar Krapp, o ancião que recorda o passado através do que escreveu e ditou para a fita magnética quando era ainda um homem na pujança da vida. Klaus Maria Brandauer, grande actor austríaco, que os cinéfilos recordam da trilogia com o cineasta húngaro István Szabó, nos anos 80, e, pela mesma época na obra-prima de Sidney Pollack, “África Minha” (Out of Africa), no papel do barão Bror, marido da principal personagem feminina, desempenhada por Meryl Streep. Este monólogo julgo que demonstra por que razões o grande teatro tem tanto a ver connosco. Só assim se explica que, sob um céu a descoberto, cerca de 800 pessoas fiquem no silêncio mais absoluto, presas das palavras e dos gestos daquele actor, que ocorrem lá ao fundo, no palco do grande anfiteatro ao ar livre. Há um lirismo intenso nalgumas passagens, de cenas que a fala dos actores nos faz imaginar, arrastando as vivências e as experiências das centenas de espectadores que esgotaram o palco grande do Festival. Maravilha!

(publicado no facebook, em Jul-2013)

NO FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO DE ALMADA (I)

PEQUENAS NOTAS DE UM ESPECTADOR DE TEATRO 

No Festival de Teatro de Almada já vai começar o 6ºdia. Vi vários espectáculos: desde o excepcional "VICTOR OU AS CRIANÇAS AO PODER" (de Roger Vitrac), com encenação do Emmanuel Demarcy-Mota, para a companhia Théâtre de la Ville, visto na Sala Principal do TMJB, em Almada, passando por alguns originais portugueses que, embora desiludindo um pouco tendo em conta os seus autores (I.B.S.E.N e Sala Vip), não deixaram de merecer a visão.

Em especial o segundo não deixa de ser um tanto ou quanto deprimente embora termine com uma magnífica cena. Entre "a vulgaridade e a obscenidade completas (sordidez) e o sublime", para citar o autor (Jorge Silva Melo). A propósito gostei muito mais da "Fala da Criada dos Noailles ..." (embora gostos não se discutam... poderei depois explicar porquê). 

Num outro nível de qualidade houve "O Sr.Ibrahim e as flores do Corão", teatralização de um texto de Eric Emmanuel Schmitt, interpretado e encenado por Miguel Seabra, para o Teatro Meridional, embora o tivesse preferido ver numa sala mais intimista.

Não me queria terminar sem referir que já tinha visto há mais de 50 anos o "Victor ...", no velho Teatro Vasco Santana, da Feira Popular (que malvadeza a do Santana Lopes e companhia!!!), encenado pela Luzia Maria Martins. Julgo ter o programa e vou procurá-lo numa homenagem a essa Mulher e à companhia (Teatro Estúdio de Lisboa) que fundou em 1964, com a grande actriz Helena Félix. Foi uma das "companhias da minha vida".

(publicado no facebook, em Jul-2013)


(a foto é minha, tirada à porta da SPA, durante a exposição de homenagem às criadoras do Teatro Estúdio de Lisboa)
Nota à posteriori: receio que estejam esquecidas por muito boa gente por comentários ouvidos há bem pouco tempo... Eu não as esqueço!

ALEGRIAS E DESILUSÕES CINÉFILAS

DESILUSÕES E ALEGRIAS CINÉFILAS

1-ALEGRIAS

Li na revista “POSITIF” de Abril, na sua quase sempre interessante rubrica “Présences du Cinéma”, especie de diário, cada mês editado por um dos críticos da revista (este mês por Grégory Valens), que o Sindicato dos Críticos de Cinema Franceses elegeu “AMOUR”, de Michael Haneke como o melhor filme francês em 2012 e “TABU”, de Miguel Gomes, como o melhor filme estrangeiro do mesmo ano!
Fiquei contente porque gostei muito destas duas obras, a de Haneke que é, em minha opinião, uma obra-prima, a de Miguel Gomes, que é um dos mais interessantes filmes portugueses dos últimos anos. Aliás disso dei conhecimento aos amigos oportunamente.

2-DESILUSÕES

No dia do funeral do “monstro” (17-Abr)

Não exagero dizer que o meu maior desgosto cinéfilo nos últimos tempos foi saber que actriz norte-americana Meryl Streep havia aceite representar na tela o papel de uma das mais sinistras personagens do século passado, Margaret Thatcher, a PM britânica, cujos efeitos perversos para a Humanidade, da sua passagem pela política, ainda se fazem sentir. Foi amiga e comparsa dos Reagan, Bush, Pinochet, Gorbachov e outras personagens do mesmo jaez, principais responsáveis pelo declínio civilizacional das últimas décadas nesta parte do mundo.
Quanto a Meryl, eu até fazia por ignorar as suas participações em obrazinhas menores e medíocres, mesmo que de grande sucesso comercial (a ela devidos, claro!), como o insignificante e irrelevante “Mamma Mia”, atendendo à sua brilhante participação nalgumas obras inesquecíveis de Reisz, Pollack, Pakula, Benton, e até Eastwood, etc, etc, citados de memória.
Mas a sua participação em “The Iron Lady” (A Dama de Ferro) é difícil de esquecer porque nem sequer se trata de uma obra isenta e se o fosse até o aceitaria. Os elevados proventos económicos que para a actriz terão resultado deste trabalho julgo que não justificam tudo, muito menos o jeito que fez à realizadora, aliás também autora do medíocre “Mamma Mia”.

Outra desilusão foi a tristissima rábula franco-russa protagonizada por Gérard Depardieu, para fugir às taxas aplicadas à sua fortuna pelo governo francês. Sendo um actor controverso quanto à qualidade, reconheço no entanto que gostei de alguns dos seus trabalhos, nomeadamente nas personagens de Cyrano, Jean Valjean, Maheu, Bellamy e mais algumas.

Lamentos cinéfilos...

(publicado no facebook, em 17-Abr-2013)



DYADYA VANYA (O TIO VÂNIA)

"DYADYA VANYA" (O Tio Vânia) (1971), de Andrei Mikhalkov-Konchalovsky (URSS) (visto na Cinemateca Portuguesa)

É uma das grandes adaptações de Anton Tchekov ao Cinema, premiada no Festival de Cinema de San Sebastian, (Concha de Prata de 1972) e como Melhor Filme Estrangeiro, pela National Board Review, EUA (1972). A música é de Alfred Schnittke, famoso compositor soviético.

Para quem gosta muito (como eu) deste grande escritor e dramaturgo russo (29-Jan-1860 - 15-Jul-1904) este filme é um enorme prazer, apesar do tema, que tem muito a ver com as frustrações e desilusões das suas personagens, que levam uma vida infeliz e medíocre, numa sociedade decadente e profundamente desigual, a Rússia Czarista do final do século XIX, mas que, em certos aspectos, através do espírito de revolta de algumas personagens, Tchekov já pronunciava a Revolução que estava para chegar. Esta obra é sem dúvida uma das melhores adaptações ao cinema das peças de Tchekov, em linguagem realmente de cinema e nunca de teatro filmado e admiravelmente representada.


A propósito, nos últimos anos tenho visto algumas magníficas encenações de Tchekov no teatro, nomeadamente pelo Teatro dos Aloés (ou melhor, da defunta Malaposta), pela Companhia de Teatro de Almada, pela Cornucópia, pelos Artistas Unidos, etc, etc.

Duas notas de discordância em relação à respectiva folha da Cinemateca (local onde aliás revi esta bela obra): esta versão não é a preto e branco como lá diz (!!!) e citar a propósito Oscar Wilde (e logo em "A Importância de Ser Ernesto" (The Importance of Being Earnest) (1952), que Anthony Asquith aliás adaptou brilhantemente ao cinema) pode parecer mau gosto ou provocação que não ouso qualificar para não ser mal interpretado. Posso rir?

(publicado no facebook, em 17-Jun-2013)



DIÁRIO DE UMA CRIADA DE QUARTO (Teatro)

DIÁRIO DE UMA CRIADA DE QUARTO (LE JOURNAL D’UNE FEMME DE CHAMBRE) 
de Octave Mirabeau (1860-1917), adaptação teatral de Clara Rocha Viegas, direcção e encenação de Armando Caldas, para o INTERVALO – GRUPO DE TEATRO, interpretação de Adriana Rocha

O romance foi escrito em 1900, e dedicado ao jornalista Jules Huret (1863-1915), autor de “Enquête sur la Question Social en Europe” (Inquérito sobre a Questão Social na Europa), de 1891 (entrevistas) e 1897.
Esta obra, sobre as relações desiguais entre senhores e servos, entre patrões e criados,  escrito em 1900, episódio da luta de classes, tem apaixonado grandes mestres.  É uma visão, sob o ponto de vista dos humilhados e oprimidos, em  contraponto às idílicas e falsas versões das classes dominantes, de que  a relativamente recente série televisiva britânica, “Upstairs, Downstairs”, é um bom exemplo, tendo obviamente, diga-se de passagem, a qualidade de alguns produtos daquela origem destinados ao grande público.
Jean Renoir, ” o grande mestre do realismo poético”, na opinião de Georges Sadoul, o autor de “La Régle du Jeu” (A Regra do Jogo), de “La Grande Illusion” (A Grande Ilusão), de “The River” (O Rio Sagrado) ou do menos conhecido (por razões ideológicas) “La Vie est à Nous”  (1936), adaptou em 1946, com a colaboração do actor Burgess Meredith, o romance de Mirabeau. O filme intitulou-se “Diary of Chambermaid”, realizado nos EUA, durante o exílio de Renoir naquele país, na época do nazi-fascismo e da ocupação da sua França pelos nazis. A famosa Paulette Goddard foi a protagonista.
Luis Buñuel, “de uma infinita ternura sob uma aparente crueldade, intransigente e compreensivo, a honestidade e a fidelidade a si próprio, à sua arte, aos seus ideais , aos seus amigos” (Georges Sadoul, também no seu “Dicionário dos Cineastas”), realizou em 1964, com adaptação de Jean-Claude Carrière do romance de Mirabeau, uma versão com o mesmo título, transportada para os anos 30, época da ascensão do fascismo na Europa. Jeanne Moreau, a grande diva do cinema francês, tem nesta obra de Renoir, um dos seus grandes papéis.
A encenação do Intervalo Grupo de Teatro para o romance de Mirabeau é mais um dos grandes espectáculos desta companhia, de tão grande qualidade que faz prever a sua passagem por alguns dos melhores palcos do nosso País.
Excepcional interpretação, a solo, de uma jovem actriz, Adriana Rocha, que vimos pela primeira vez e nos surpreendeu pela enorme qualidade do desempenho.  São cerca de 90 minutos, num cenário único, em que só a luz e as deslocações da actriz através da cena variam, que passam num ápice e nos emocionam. 
Quem acompanha desde sempre o trabalho desta companhia, que vai no seu 44º ano de actividade e 87º espectáculo (incluindo o precursor 1º Acto Clube de Teatro, em Algés), diz que este pode juntar-se aos melhores espectáculos da companhia, e a nós, que só há alguns anos (mas já são alguns...)  os seguimos sem falha, não nos custa a acreditar.

Por isto tudo, Amigos, não faltem! E em especial aos que não conhecem este carismático espaço de cultura da nossa área metropolitana, aproveitem esta oportunidade para o ficarem finalmente a conhecer. É que culturalmente é imperdoável não o fazerem.

(publicado no facebook, em 15-Jun-2013)

https://www.google.pt/search?q=di%C3%A1rio+de+uma+criada+de+quarto,+intervalo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei=mDlxUqugAZLX7Aak9IGQBA&ved=0CAcQ_AUoAQ&biw=1263&bih=510#facrc=_&imgrc=PPk936HIEfSwGM%3A%3BSM6u9RDcAdv2PM%3Bhttp%253A%252F%252Faviagemdosargonautasdotcom.files.wordpress.com%252F2013%252F06%252F4554291.jpg%253Fw%253D710%3Bhttp%253A%252F%252Faviagemdosargonautas.net%252F2013%252F06%252F28%252Ffui-ao-teatro-ver-diario-de-uma-criada-de-quarto-de-octave-mirbeau-por-joao-machado%252F%3B460%3B307

CENTENÁRIO DO CINEMA INDIANO

CINEMA INDIANO

Provavelmente não serão muitos os que sabem que o país que mais filmes produz continua a ser a Índia. Mais que os EUA ou a República Popular da China!
E tudo começou há um século, com a estreia do primeiro filme produzido naquele país, então ainda ocupado pelo império britânico  Foi em Bombaim, e era uma adaptação do mais famoso dos poemas épicos indianos, "Mahabarata". O filme chama-se "Raja Harishchandra" e foi realizado por Dadasaiheb Phalke. Não posso falar do Cinema Indiano sem referir o mais célebre dos seus realizadores, Satiajit Ray, cujas obras principais foram exibidas na Europa. A sua "Trilogia Apu" (que revi na Cinemateca há poucos anos) é uma obra-prima absoluta e, pelo menos para mim, continua na reduzida lista de obras máximas da Sétima Arte.
A propósito recuperei um texto que escrevi aquando da visão de "Mother India", também na Cinemateca, para os amigos interessados.

"MOTHER INDIA, de Mehboob Khan (IND) (1957) (visto na Cinemateca)

Nos anos 50, passou em Portugal, nomeadamente (e salvo erro) no velho cinema Odeon, “Prestígio Real” (1952), filme deste famoso cineasta indiano. Grande sucesso universal, também o foi em Lisboa, estando mais de um ano em exibição e vimo-lo então como quase toda a gente. (embora ainda adolescente)
No entanto “Mother India” (provavelmente o seu maior sucesso e um dos maiores da história do cinema indiano – um dos mais importantes do mundo, pelo menos em quantidade de obras produzidas), não foi exibido em Portugal, muito provavelmente banido pela censura.
O que continua a ser admirável neste melodrama de Mehboob (1906-1964), com quase três horas de duração, apesar do seu classicismo, é o sentido popular, no bom sentido, dirigido às grandes massas, fluindo entre as cenas de intenso dramatismo e as de festa, com as manifestações de alegria popular, nunca caindo no ridículo, mesmo aos olhos intelectuais urbanos do início do século XXI.
A história do Cinema (e a propósito refira-se o belo texto de José Manuel Costa, em “Cinemas da Índia”, crítico que se destaca nas publicações Cinemateca, pela qualidade dos seus escritos), refere-se-lhe como sendo uma espécie de Mãe Coragem Indiana, interpretada pela famosa actriz Nargis. Os verdadeiros heróis são parte do povo anónimo, constituindo este, de facto, o grande protagonista da saga. É a vida dos camponeses que é mostrada, com todos os seus dramas (e algumas poucas alegrias), ocasionados pelas condições de exploração, por vezes sub-humanas, em que trabalham e vivem, ficando a religião, que outros tendem a mostrar como o principal, para segundo plano, reduzida à sua real função de tentativa de lenitivo para as agruras da existência, e como tal acarinhada pelo poder.
Aliás é fundamentalmente, nestes aspectos – cinema de massas, o povo como protagonista, que se lhe podem apontar influências do cinema soviético e por outro lado o diferencia radicalmente do cinema de Cecil B. de Mille, com o qual alguns o querem aparentar.

Apesar da sua longa duração, vê-se sem ponta de fastio e com alguma emoção."

(publicado no facebook, em Mai-2013)


https://www.google.pt/search?q=mother+india&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei=XjZxUu31D83G7AbrqoDwAw&ved=0CAcQ_AUoAQ&biw=1263&bih=467#facrc=_&imgdii=_&imgrc=dziITC2C7QE-9M%3A%3BXNTpAcxAsZLJBM%3Bhttp%253A%252F%252Fwww.missmalini.com%252Fwp-content%252Fuploads%252F2013%252F05%252FMother-India-Movie-Poster.jpg%3Bhttp%253A%252F%252Fwww.missmalini.com%252F2013%252F05%252F06%252Fmother-india-has-been-to-greece%252F%3B527%3B318