Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

OBRAS PRIMAS DE QUE GOSTO MUITO (2)


VELIKII GRAJDANINE (Um Grande Cidadão) (1ª Parte – 1937, 2ª Parte – 1939), de Friederich Ermler (URSS) ***** (5)

Trata-se de uma obra, magnífica, em duas partes, num total de 4 horas e 45 minutos, sobre os anos dificílimos de construção do Socialismo, na União Soviética.
Como obra sobre um período revolucionário, referindo-se aos anos de 1930-35, em que os explorados estão no poder, não estará nunca datada, porque descreve as dificuldades, as divergências, as traições, as sabotagens, em tal período. Algumas cenas, apesar de terem quase um século, parecem-nos actuais (em 2007), em termos de comportamentos.
O filme descreve a vida e o assassinato do dirigente comunista Serge Kirov (sob o nome de Chakov, admiravelmente interpretado por N.Bogolioubov), de acordo com a versão oficial na época, a qual viria a ser mais tarde contestada.


Mas para além disso, é a maneira admirável como aquele grande cineasta soviético filma as personagens, muitas vezes em grandes planos, conseguindo dar-nos o seu retrato psicológico, que tornam o filme perfeitamente actual em termos de linguagem. Filme principalmente de diálogos intensos, tem no entanto meia dúzia de exteriores magníficos – os plenários na fábrica, as reuniões com os operários e população, as manifestações, as obras da construção do canal.
A figura da Mulher é fortemente exaltada, equiparando-a ao Homem, no trabalho, na direcção da fábrica e no partido. Uma das cenas mais fortes do filme é o discurso da mãe de Chakov no plenário, mas há mais meia dúzia de figuras femininas admiráveis, que sobressaem na obra.
O assassinato de Chakov, é dado elipticamente, como em geral o fazem os grandes mestres, adquirindo enorme força.
Mas um dos aspectos que mais me surpreendeu foi a maneira como o ideal comunista, no comportamento, nos é dado, com muita inteligência, sem nunca recorrer a frases feitas, mas antes ao que acontece na prática, perante os acontecimentos favoráveis ou desfavoráveis.

Nada disto foi, no entanto, referido na respectiva folha de sessão da Cinemateca, num texto algo primário. Lamentáveis também os erros ortográficos (e não só) inacreditáveis (“houveram”, por exemplo) da legendagem electrónica. Feita aonde? Na própria Cinemateca? Mesmo autor?

Terminada a projecção é inevitável que nos interroguemos, se não foi uma formidável proeza, única na história da humanidade, o poder dos explorados, dos oprimidos, conseguir resistir durante tantas décadas, perante a força do inimigo, que recorreu a todos os meios para o minar, para o sabotar?
Admirável obra, de um período fecundo para a arte cinematográfica – o das gerações que fizeram a Revolução de Outubro.
***** (5)

(visto na Cinemateca, em Mar-2007)

TRÊS FILMES RECENTES - Três pequenas notas de gosto


TRÊS FILMES – Três pequenas notas de gosto


Ver Cinema, no CineAvante!, Festa do Avante! de 2012 (a foto é minha)

SAVAGES (Selvagens), de Oliver Stone (EUA) –

Um thriller, provindo da indústria do cinema dos EUA, com imagens de grande violência e sexo, que agradam em geral a públicos pouco exigentes. Tecnicamente muito bem feito, como aliás alguns dos produtos ali fabricados, que ficam bem acima da qualidade média dessa indústria. No entanto “Savages” distingue-se.
Porquê? É que Oliver Stone, como lhe é habitual, não esconde o “estado da nação”, cada vez mais na mão de poderosos lobbies, com interesses à escala mundial: financeiros, de fabricantes de armamento, dos grandes negócios, como a droga. E, ironicamente, oferece ao espectador dois finais possíveis naquele estado de coisas, como quem diz: Escolham o que gostarem mais! Essa ironia, obviamente, irrita os defensores do status quo, daí o tentarem “queimar” a obra nas colunas a que têm acesso. A ver, portanto!

360, de Fernando Meirelles (EUA) -

O celebrado cineasta brasileiro conseguiu captar o nosso interesse, com inteligência e, às vezes, com emoção, neste retrato circular (ou elíptico) dos tempos que correm, entrecruzando flashes breves sobre a vida de uma dezena de personagens.
A jovem brasileira, Laura (Maria Flor) assume particular destaque, porque representa muito do que, julgo, é comum a grande parte das novas gerações e, por isso, não conseguimos deixar de sentir por ela uma grande simpatia, pela busca desesperada de quem começa muito cedo a duvidar do que a vida lhe poderá vir a trazer.
Desejos (compulsivos, às vezes), desilusões, amarguras, frustrações, excessos, renúncias (por motivos de crença religiosa!...), desesperanças, eis do que é feita esta obra, com dois ou três momentos magníficos que ficam na nossa memória cinéfila e isso já é muito bom perante a mediocridade, vacuidade e inutilidade da maioria do cinema que é distribuído (e promovido...) pelas salas do nosso País.
Bela direcção de actores, também, dos veteranos ao mais jovens. Vale a pena ver.

7 DÍAS EN LA HABANA (7 Dias em Havana), Benicio del Toro, Pablo Trapero, Julio Medem, Elia Suleiman, Gaspar Noé, Juan Carlos Tabio e Laurent Cantet (FRA/ESP) -

Sete realizadores, de diferentes nacionalidades - um porto-riquenho, dois argentinos, um espanhol, um palestino, um francês e um cubano, apresentam sete visões, quase sempre surpreendentes, da capital cubana, através de um guião escrito por um escritor cubano, Leonardo Padura Fuentes (Havana, 1955).
O resultado, como sempre acontece em obras deste tipo, é um tanto ou quanto desigual. Inesperado às vezes, pela originalidade que os criadores sempre procuram, aflorando os aspectos às vezes mais insólitos da realidade. Mas muito longe de ser, obviamente, um retrato da sociedade cubana, que tem como se sabe elevados padrões de Cultura - na ciência, na medicina, nas artes, no desporto, além dos políticos e sociais, em que a fraternidade e justiça social predominam, e que o filme quase não refere.
Sabe-se que o retrato duma cidade, para que não se caia do “dejá vu”, no lugar comum ou no bilhete postal, não é fácil. Apesar de tudo, em minha opinião, afloram nesta obra algumas das características que permitem a este povo defender a sua Revolução, há mais de meio século, contra  o criminoso bloqueio económico e não só, levado a cabo pelo mais poderoso dos vizinhos, os EUA, estado dominado maioritariamente por políticos sem escrúpulos.
Pablo Trapero com Emir Kusturica, Elia Suleiman com ele próprio, Laurent Cantet, Juan Carlos Tapio, distinguem-se pela qualidade fílmica dos episódios que dirigiram.




domingo, 23 de setembro de 2012

DANS LA VILLE BLANCHE

Branca, porque é a cor predominante dos seus edifícios e da luz que a inunda grande parte do ano.