Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

sábado, 15 de janeiro de 2011

BALANÇOS DE 2010 (CINEMA, TEATRO E CULTURA)


O MEU BALANÇO CINÉFILO PARA 2010

CINEMA – OS PREFERIDOS DO ANO (ordem alfabética)

_“ERVAS DANINHAS” (Les Herbes Folles), de Alain Resnais (FRA)
_“ESCRITOR FANTASMA (O)” (The Ghost Writer), de Roman Polanski (FRA/GBR)
_“FILME DO DESASSOSSEGO”, de João Botelho (POR)
_“JOSÉ & PILAR”, de Miguel Gonçalves Mendes (POR)
 _“LAÇO BRANCO (O)” (Das Weisse Band), de Michael Haneke (ALE)
_“LUGAR PARA VIVER (UM)” (Away We Go), de Sam Mendes (EUA)
_“MISTÉRIOS DE LISBOA”, de Raúl Ruiz (CHI/POR)
_“SEGREDO DOS SEUS OLHOS (O)”  (Il Secreto de sus Ojos), de Juan José Campanella (ARG)
_“SHIRIN”, de ABBAS KIAROSTAMI (IRÃO)
_“SHUTTER ISLAND”, de Martin Scorsese (EUA)



PEQUENAS JÓIAS DE QUE GOSTEI MUITO

_“36 VISTAS DO MONTE SAINT LOUP”, de Jacques Rivette (FRA)
_”ANTI-CHRIST”, de Lars Von Trier (DIN)
_“CÓPIA CERTIFICADA” (Copie Conforme), de Abbas Kiarostami (IRÃO/FRA)
_“HOMEM SÉRIO (UM)” (A Serious Man), dos Irmãos Coen (EUA)
_“IRÈNE”, de Alain Cavalier  (FRA)
_”POLÍCIA SEM LEI” (Bad Lieutenant), de Werner Herzog (ALE/EUA)
_”PROFETA (UM)” (Un Prophète), de Jacques Audiard (FRA)
_“TUDO PODE DAR CERTO” (Whatever Works), de Woody Allen (EUA)
_”ALICE IN THE WONDERLAND”, de Tim Burton (EUA)
_”ESTRELA CINTILANTE” (Bright Star), de Jane Campion (AUS)



CINEMA PORTUGUÊS PREFERIDO (ordem alfabética)

_“DUAS MULHERES”, de João Mário Grilo (POR)
_“FILME DO DESASSOSSEGO”, de João Botelho (POR)
_“ILHA DA COVA DA MOURA (A)”, de Rui Simões (POR)
_“JOSÉ & PILAR”, de Miguel Gonçalves Mendes (POR)



CINEMA DOCUMENTAL PREFERIDO

_“BOXING GYM”, de Frederick Wiseman (EUA)
 (EUA/FRA)
_“DANÇA (A)” ( La Danse), de Frederick Wiseman (EUA/FRA)
_”ILHA DA COVA DA MOURA (A)”, de Rui Simões (POR)
_“JOSÉ & PILAR”, de Miguel Gonçalves Mendes (POR)
_”RUÍNAS”, de Manuel Mozos (POR)
_”INSIDE JOB” (A verdade da Crise), de Charles ferguson (EUA)

BELÍSSIMAS  SURPRESAS

_“EMBARGO”, de António Ferreira (POR)
_”GREENBERG”, de Noah Baumbach (EUA)
_“IO SONO L’AMORE”, de Luca Guadagnino (ITA)
_“PRECIOUS”, de Lee Daniels (EUA)



O MELHOR SOBRE A ACTUALIDADE POLÌTICA

_”INSIDE JOB” (A verdade da Crise), de Charles ferguson (EUA)
_”ENTRE IRMÃOS” (Brothers), de Jim Sheridan (IRL/EUA)
_“ESCRITOR FANTASMA (O)” (The Ghost Writer), de Roman Polanski (FRA/GBR)
_“GREEN ZONE”, de Paul Greengrass (EUA)
_”LEBANON”, de Samuel Maoz (ISR)
_”TEMPO QUE RESTA (O) (The Time That Remains)
_”WALL STREET”, de Oliver Stone (EUA)



BIOGRAFIAS

_“INVICTUS”, de Clint Eastwood (EUA)
_“JOSÉ & PILAR”, de Miguel Gonçalves Mendes (POR)
_”VINCERE” (Vencer), de Marco Bellocchio (ITA)

CINEMA DE ANIMAÇÂO

“L’ILLUSIONNISTE” (O Mágico), Sylvain Chomet (FRA)



3 ACTRIZES E 3 ACTORES

Juliette Binoche (Cópia Certificada)
Beatriz Batarda (Duas Mulheres)
Charlotte Gainsbourg (Anti-Cristo)
Ricardo Darín (O Segredo dos Seus Olhos)
Leonardo di Caprio (Shutter Island)
Tahar Rahim (Um Profeta)

MELHOR FILME DO ANO

_“ESCRITOR FANTASMA (O)” 8(The Ghost Writer), de Roman Polanski (FRA/GBR)
Um thriller magnífico, ao nível do melhor deste grande cineasta e de grande actualidade política. As tenebrosas relações entre a CIA e políticos europeus, com vista a influenciarem a política externa desses países à medida dos interesses do imperialismo norte-americano. Também sobre os riscos que correm os escribas que, a troco de elevados proventos, escrevem as “autobiografias” de famosos estadistas.



DUAS REPOSIÇÕES

“ANIKI-BOBÓ”, de Manoel de Oliveira (POR)
Nova cópia desta obra-prima, que continua a ser um dos grandes filmes de Oliveira. E a propósito, “Vale Abraão” continua a ser, em minha opinião, a sua obra máxima, onde o cineasta, adaptando Agustina, acabou por subverter o espírito do romance homónimo. A escritora criou uma personagem, em que viu uma burguesinha algo perdida, arrastada no declínio da grande burguesia duriense, em tempos de mudanças sociais, com as quais a escritora não simpatiza. Em contraponto, Oliveira centrou a sua obra numa mulher em tentativa de emancipação.

“KOMSOMOL – Sonho de Heróis”, de Joris Ivens (URSS/HOL) (1932)
O famoso documentarista conseguiu, nesta deslumbrante obra-prima, filmada na URSS, mostrar os esforços de toda uma colectividade na criação um país, assente numa sociedade mais justa e igualitária.

DESILUSÕES
_“ORIGEM (A)” «INCEPTION», de Christopher Nolan (EUA)
Efeitos especiais em excesso tornam o filme algo gratuito e, por vezes, incompreensível, transformando-se num mero delírio visual.

 O MEU BALANÇO TEATRAL e de OUTROS EVENTOS, EM  2010

TEATRO E AFINS (por ordem alfabética)

Se no Cinema, suponho que vi quase tudo o que de interessante passou nas salas,  no Teatro, obviamente que não pude, até por razões económicas.
Fiz a minha selecção prévia, muito por gosto, e o resultado foi este.
Tomem-no portanto na sua relatividade. Uma coisa é certa, estes espectáculos que saliento foram de facto muito bons, e alguns, vários, excepcionais.
Só para dar um exemplo, como disse alguém, O’Neill pela CTA é tão bom como o melhor em Nova Iorque.

_“A BALADA DO AMOR E MORTE DO ALFERES CRISTÓVÃO RILKE”, de Viktor Ullmann, CTA
_“CASIMIRO E CAROLINA”, de Odon Von Horvath, enc. Emmanuel Demarcy-Mota, Théatre de la Ville (Paris)
_“DANÇA DA MORTE”, enc. Ana Zamora, Não d’Amores / Cornucópia
_”FALA DA CRIADA DOS NOIALLES”, de/enc Jorge Silva Melo, Artistas Unidos
_“IFIGÉNIA NA TÁURIDA”, de Goethe, enc. Luís Miguel Cintra, Cornucópia (reposição)
_“O LUTO FICA BEM COM ELECTRA ”, de Eugene O’Neill, enc. Rogério de Carvalho, CTA
_“A MÃE”, de Bertold Brecht, enc. Joaquim Benite, CTA
_“O MENTIROSO”, de Carlo Goldoni, enc. Armando Caldas, Intervalo – GT
_“O QUARTO e COMEMORAÇÂO”, de Harold Pinter, enc. Jorge Silva Melo, Artistas Unidos
_“TROILO E CRÉSSIDA”, de William Shakespeare, enc. Joaquim Benite, para a CTA
_“TUNING”, de Rodrigo Francisco, enc Joaquim Benite, CTA



EXPOSIÇÕES

As exposições habituais não me despertaram, este ano, interesse especial. Mas estas podem ser consideradas fora de série.

A sobre a Imprensa Clandestina, feita nas prisões, por comunistas encarcerados pelo fascismo, é qualquer coisa de extraordinário pelo que revela de determinação, mesmo nas situações mais difíceis. E estes jornais, clandestinos, manufacturados na prisão (e que dizer da logística necessária para os fazer!), conseguiram também, para além do elevado nível ideológico, uma qualidade estética rara. Admirável!

A sobre os Cartoons, abordando principalmente o tema candente das relações laborais, sendo uma arte que particularmente me diz muito – dizer coisas muto sérias, em poucos traços, com ironia ou humor – não aparece exposta com frequência. E aqui estava muito do melhor que tem aparecido na imprensa.

Finalmente não queria deixar de lado uma exposição sobre outra arte maior – a Fotografia. Para isso escolhi um grande fotógrafo português, do fotojornalismo, com grandes trabalhos dispersos pelos jornais. Magnífica!

_“EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DE CARTOON”, CT Vitória, Lisboa
_“IMPRENSA PRISIONAL COMUNISTA”, Exposição, Torre do Tombo, Lisboa
_“ALFREDO CUNHA” – exposição de fotografia


FESTIVAIS DE CULTURA

Por último os Festivais de Cultura. Por muito que gostasse de diversificar as referências, vou ter que voltar a salientar os mesmos, porque são os melhores e mais carismáticos que se realizam neste país.
Claro que há outros, sobre Música, em especial, mas falta-lhes aquela adesão fortíssima dos espectadores, como estes têm e que os tornam quase qualquer coisa de muito especial, em que se vive de facto Cultura e não meras manifestações de “obrigação” social.
No caso da Festa do Avante, é óbvio que não se esgota nos aspectos culturais, que abrangem aliás todos os domínios artísticos, visto ter também uma enorme componente política, mas, aí também num nível de qualidade que raramente se vê, e até uma componente desportiva notável, cujo momento grande talvez seja a Corrida da Festa.

_“DOCLISBOA” (14 – 24 de Outubro)
_“FESTA DO AVANTE” (3 – 5 de Setembro)
_“FESTIVAL DE TEATRO DE ALMADA” (4 – 18 de Julho)





L'ILLUSIONNISTE (O Mágico), de Sylvain Chomet

L'ILLUSIONNISTE (O Mágico), de Sylvain Chomet, (FRA), ***** (5)


A última obra-prima de animação de Sylvain Chomet, "L'Illusionniste" (O Mágico), com argumento de Jacques Tati. 

Chomet, admirador de Tati, presta-lhe aqui uma homenagem magnífica, mas suponho que mesmo aqueles que não conheçam as obras desse génio da Sétima Arte, não ficam indiferentes a esta belíssima obra de Sylvain Chomet, a grande distância em termos de qualidade, em minha opinião, do cinema de animação que normalmente podemos ver nas nossas salas. Em termos absolutos, uma das obras maiores que vimos em 2010.



PELO TEATRO AZUL - TEATRO MUNICIPAL DE ALMADA

Com um Ministério da Cultura (agora com Gabriela Canavilhas...), que actua como mero instrumento de um Governo e de umas Finanças, dirigidos por neoliberais, o Teatro de Almada é uma das vítimas da discriminação cega, que atinge os mais desfavorecidos e as actividades culturais que lhes dizem respeito, como é o caso exemplar do TMA, que faz um teatro de alta qualidade, mas popular, no sentido mais esclarecido da questão. Para os neoliberais, Cultura é apenas Lazer, e está tudo dito!




MOURNING BECOMES ELECTRA (O Luto vai bem com Electra), de Eugene O´Neill

‎"Mourning Becomes Electra" (O Luto vai bem com Electra), de Eugene o'Neill, encenada por Rogério de Carvalho, para a CTA


OS MEUS NOBEL (X) – EUGENE O’NEILL (Nova Iorque, 1888 – 1953), Prémio Nobel em 1936



Retomo a minha lista de “nobelizados de quem gosto muito”, que comecei a publicar no Facebook, não considerando o que está sempre presente, que é José Saramago (1998), e que encerrará a lista de cerca de 30 grandes nomes da Literatura Universal, que irei citar numa escolha pessoal, como leitor:


I – Gabriel Garcia Márquez – 1982
II – Pablo Neruda – 1971
III – Rabindranath Tagore – 1913
IV – Selma Lagerlöf – 1909
V – Romain Rolland – 1915
VI – Mikhail Cholokhov – 1965
VII – Ernest Hemingway – 1954
VIII – Harold Pinter – 2005
IX – Roger Martin du Gard – 1937
X – Eugene O’Neill – 1936

Não sei antes lembrar tantos mestres que foram esquecidos pelos júris do Nobel – Frederico Garcia Lorca, Leon Tolstoi, Bertold Brecht, Franz Kafka, James Joyce, Jorge Amado, Emile Zola, Aquilino Ribeiro, só para citar agora meia dúzia de nomes. 

Afinal, falar do Nobel é apenas um pretexto meu para lembrar escritores cuja obra (e muitas vezes, não só) admiro!

Salientemos também que outros dois grandes dramaturgos norte-americanos, Tennessee Williams e Arthur Miller não chegaram a ser nobelizados, apesar da sua grande qualidade.

Sobre Eugene O’Neill, relembrar que a sua notável obra, se centra principalmente nos excluídos do sonho americano. Entre os seus títulos avulta uma obra póstuma, por decisão expressa do autor, por se tratar de tema quase autobiográfico, retrato da sua família mais directa: “LONGA JORNADA PARA A NOITE”, de que vimos recentemente (2009) uma magnífica encenação de Rogério de Carvalho, para a CTA. 

Neste momento várias peças suas estão ou vão ser postas em cena: de novo a “LONGA JORNADA”, mas desta vez pelo TEP, com encenação de Nuno Cardoso. “HUGHIE” e “ANTES DO PEQUENO ALMOÇO”, pela CTA, com encenação de Joaquim Benite (que já vimos e de que gostámos muito). “O LUTO VAI BEM COM ELECTRA”, ainda pela CTA, com encenação de Rogério de Carvalho. O TEP em Gaia, no Auditório Municipal. A CTA, em Almada, no Teatro Municipal.

Outro grande texto de O’Neill, é “DESEJO SOBRE OS ULMEIROS”.

Relembremos duas adaptações de obras deste grande dramaturgo ao cinema:A “Longa Jornada para a Noite” (1962), por um grande cineasta de que gosto muito, Sidney Lumet, com Katharine Hepburn, Ralph Richardson e Jason Robards e “Desejo sobre os Ulmeiros” (Desire under the Elms) (1958), por Delbert Mann, com Sophia Loren e Anthony Perkins. E têm sido muitas as adaptações ao pequeno ecrã. 

Só para terminar, lembrar que, “HUGHIE”, agora em Almada, tem interpretação de Paulo Matos e Pedro Walter, um consagrado e um jovem, com excelentes interpretações. 

Em 1984, esta peça havia sido representada em Portugal, também em Almada, pela CTA, e também encenada por Joaquim Benite, juntamente com “ANTES DO PEQUENO ALMOÇO”. 

Foi então considerada pela crítica como um dos espectáculos do ano, cabendo a interpretação a dois grandes e inesquecíveis actores, António Assunção e Canto e Castro, tal como o papel desempenhado agora por Anabela Teixeira, o havia sido por Teresa Gafeira (que veremos agora em “O Luto Vai Bem com Electra”). Lamento muito não ter chegado a ver este espectáculo de 1984!

Não sei se gostam ou não de ler teatro. Eu gosto muito! Mas não há nada como irem ver as encenações que estão em cena destas quatro grandes peças de Eugene O’Neill!



Quanto a "O Luto vai bem com Electra", não percam esta extraordinária peça do grande dramaturgo norte-americano ("um dos dois ou três maiores"), pela primeira vez representada em 1931, nos EUA. 

O'Neill baseia-se nas tragédias gregas para criar este espectáculo de uma enorme tensão dramática, que prende quem o vê durante quase quatro horas (não se assustem! não cansa!). É pelas, por vezes muito escuras, profundezas da natureza humana, às suas neuroses, desejos, orgulhos, ódios, terrores, que O´Neill desce magistralmente.

Grandes actores e, principalmente, grandes actrizes, em primeiro plano - São José Correia e Teresa Gafeira.

Pessoalmente é um dos melhores espectáculos teatrais que vi este ano e já vi alguns muito bons!

Recomendo-o também aos meus amigos da Psicologia, que eventualmente me estejam a ler!



AGENDA DA CINEMATECA

Agendas da Cinemateca
Já percebi porque é que ficou sem resposta a minha pergunta: Este ano não vai haver Agenda... 
E assim se vai a minha fidelidade de 15 anos! Tenho muito pena!


A foto (e as agendas) são minhas

DOCLISBOA 2010 (Algumas Notas)

NOTAS SOBRE O DOCLISBOA 2010

1- Sessões de Abertura e Encerramento

Se a sessão de abertura, com a exibição do magnífico “José & Pilar”, indiscutível homenagem ao nosso Nobel da Literatura, mas também à belíssima história de amor que protagonizou com sua mulher, Pilar del Rio, continuou o espírito das anteriores edições do Festival, o mesmo já não se poderá dizer do encerramento, em que se perdeu o espírito socialmente contestador, que tanto nos agradava, e que as últimas presenças de obras de Michael Moore ou Emir Kusturica, lhe conferiram, por muito interessante que pudesse ser o filme de encerramento (não vi). Influência do programador deste ano (A.M.Seabra)? Não sei. Mas é pena.
E fico com a sensação, porque não acompanhei a programação com profundidade, que esta foi a edição mais fraca em termos de qualidade, cujo ponto mais alto residiu afinal na retrospectiva de Joris Ivens e Marceline Loridan. 

2-Público

Em sessões mais cinéfilas, voltei a reparar numa juventude que gosta de Cultura e que vai ver o que pensa que é muito bom e que quer conhecer. A existência dessa juventude nos tempos medíocres, que em muitos aspectos nos rodeiam e que os anúncios das cervejeiras às vezes querem fazer passar por norma, enche-nos de satisfação e faz-nos lembrar tempos idos, do movimento cineclubista, que tão importante foi no despertar de consciências, num tempo em que a censura e a repressão eram lei.
Hoje a censura foi substituída por programadores de confiança de quem lhes paga, seja de televisão ou outros Media, ou editores de conteúdos, ou como lhes queiram chamar, cujo objectivo continua a ser o mesmo, isto é dar a ver apenas o que interessa a quem manda. Tudo o resto é ignorado ou quando muito, dito, escrito ou mostrado a desoras ou em colunas interiores, que quase ninguém vê.

3-Um documentário sobre a propaganda no Terceiro Reich

À saída de uma das sessões, no S.Jorge, fui surpreendido por uma enorme fila de gente, que subia em massa pelas escadarias daquele cinema. Interroguei-me surpreendido: para ver que filme? Movido pela curiosidade fui consultar o programa e verifiquei que se tratava da polémica obra “Hitler’s Hitsparade”! Isto é, uma parada de êxitos comerciais do tempo do regime nazi, na Alemanha.
O que significará isto para as novas gerações, já que para minha não passa de propaganda nazi, tal como os seus cânticos, as suas Marika Rokk, tudo misturado com árias wagnerianas (pobre Wagner!), de que nós conhecíamos uma versão mais “soft” e provinciana, na Península Ibérica? Segundo quem viu, por baixa da capa do inócuo, havia algo de mais aterrador – racismo, xenofobia, anti-semitismo.
Será simples curiosidade intelectual ou haverá nela alguma atracção pelo abismo, pelo horror, pelo desumano, sinal inquietante de decadência civilizacional?
Relembremos que parte da crítica colocou sérias reticências à obra, considerando-a uma banalização do nazismo, não isenta de algum revivalismo por uma das épocas mais tenebrosas da História da Humanidade.


TOY STORY 3, de Lee Unkrich (EUA)

“TOY STORY 3”, Lee Unkrich, EUA, ** (2)

Um desenho animado da Pixar/Disney feito para agradar ao grande público, com o discurso moralista habitual destinado ao público infantil. Tom Hanks deu voz ao herói da fita, o cowboy Woody.
Nada de novo, portanto, por aqueles lados, apenas a confirmação da existência de uma máquina bem oleada para produzir sonhos, desde a mais tenra idade, com emoção e susto q.b.
Em termos de qualidade, muito longe das obras de Tim Burton ou da escola europeia.
** (2)
Num artigo do “Público”, em 16-8-2010, lê-se que o crítico de cinema do “Financial Times” confessou ter passado grande parte da projecção do filme a chorar. Por causa da tal moralidade “à Disney”? Posso rir-me?


INCEPTION (A Origem), de Christopher Nolan, (EUA)

INCEPTION (A Origem), de Christopher Nolan, EUA, ** (2)

Se o realizador gere com alguma eficácia a panóplia de efeitos especiais postos à sua disposição, no final, depois de 2h30’ de filme, fica para o espectador a frustrante sensação de “tempo perdido”.
Os incondicionais da obra dizem que “assume … a estrutura dos jogos de vídeo”.
No entanto, em minha opinião, o relativo mérito de Nolan é ter conseguido imergir o espectador num universo onírico, tal como as suas personagens, onde impera o “non-sense” e, a curto prazo, quem vê o filme abandona-se às imagens, deixando de procurar uma explicação racional para o que vê.
Pode ser interessante para quem ache que os efeitos visuais se bastem a si próprios, que não é o meu caso.
O argumento algo rebuscado, refere-se aos que tentam entrar no subconsciente de outrem, drogando-o primeiro, e interferindo depois, por “artes mágicas”, na mente da vítima. Algo parecido, nos efeitos, com as visões subliminares de que o consciente não chega a tomar nota, porque “não vê, nem ouve”, mas que, no entanto, parecem mais possíveis.
O relativo interesse da obra acaba por ser, para quem já experimentou, como nós, a inquietante interferência do subconsciente com o consciente (mas não através da utilização das drogas convencionais, descansem, mas sim numa cama de hospital, após operação muito delicada), o de levantar questões sobre campos algo difusos para o cidadão comum.
** (2)