Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

quarta-feira, 21 de abril de 2010

IN MEMORIAM - DEDE COROTHER ALLEN (1923 -2010)



A famosa montadora, nascida em Cincinnatti, Ohio, EUA, em 1923, que trabalhou com Arthur Penn em "Bonnie and Clyde" (1967), uma das obras-primas do cinema norte-americano, que lhe deu o reconhecimento publico pelo seu trabalho de montagem. «Foi durante a rodagem de "Bonnie and Clyde" que aprendi a confiar em Dede. Mais do que uma montadora, ela era uma criadora» (Arthur Penn, citado por Sérgio C. Andrade, "Público", 20Abr10). 
Depois voltou a montar outras grandes obras para ele. Tal como o havia feito para Robert Rossen ("The Hustler"), Paul Newman ("Rachel, Rachel"), Sidney Lumet ("Serpico"), Warren Beatty ("Reds"), entre outros, tudo obras maiores do cinema norte-americano. 
O seu último trabalho, em 2008, com 85 anos, foi uma obra delicada e sensível, "Fireflies in the Garden", de Dennis Lee, injustamente ignorada pela crítica que temos.
Sobre a obra que lhe a notoriedade, "Bonnie and Clyde", relembremos que estreou em Lisboa, em Dezembro de 1967, no saudoso Cinema Eden, altura em que vimos este filme pela primeira vez e nos impressionou desde logo fortemente. Surgiu de imediato uma enorme polémica à cerca  da obra, pró e contra, que extravasou para os jornais e revistas, apesar da feroz censura fascista de então (ainda a sete longos anos do eclodir da Revolução de Abril, em 1974). Os campos extremaram-se entre a crítica progressista e a conservadora (esta quase toda afecta ao regime salazarista e aos meios católicos mais retrógrados), enquanto nós, apaixonados pelo cinema, a  seguíamos entusiasmados. Era mais uma pedrada no charco estagnado onde tinham  enclausurado a cultura durante o regime fascista.

FRASES SOBRE CINEMA

"A mim já só me interessam os Mike Leigh do mundo. Quantas obras-primas, é que ele fez nestes últimos 20 anos? Dez? Que percurso incrível, o dele."
Sam Mendes, em entrevista, "Metro", 01Mar2010

domingo, 18 de abril de 2010

LES HERBES FOLLES, de Alain Resnais

“LES HERBES FOLLES” (As Ervas Daninhas), de Alain Resnais, (FRA), ***** (5)
Resnais volta a surpreender-nos com um filme moderno na linguagem e invulgar.
Tal como as ervas daninhas (talvez preferisse, silvestres), as personagens desta obra, crescem no filme aparentemente sem regras, desordenadas, com comportamentos por vezes inexplicáveis, desobedecendo à lógica rotineira. Não que a história não seja simples. É Resnais que lhe troca as voltas, como de outras vezes, e por isso nos fascina, com o seu narrador em off (Édouard Baer). Mesmo o final não é um só, mas dois, para o espectador quase poder escolher, a fazer lembrar o extraordinário “Smoking/ No Smoking”, baseado nas peças do dramaturgo inglês Ayckbourn.
Um filme que se vê com imenso prazer, também pela sua ironia e humor, tirando partido de dois grandes actores, incondicionais de Resnais - André Dussolier e a sempre fascinante Sabine Azéma. Embora não possamos esquecer as participações de outras duas grandes actrizes do cinema francês – Emmanuelle Devos e Anne Consigny. Como só acontece com meia dúzia de grandes criadores do cinema contemporâneo, parece que uma visão da obra não basta para saciar o espectador e dá vontade de permanecer sentado para assistir à sessão seguinte.
Até agora, em minha opinião, uma obra para discutir o lugar de preferida do ano.
***** (5)

GREEN ZONE, de Paul Greengrass

“GREEN ZONE” (Combate Pela Verdade), de Paul Greengrass, (GBR) **** (4)

Um magnífico thriller político, de guerra, que desmonta a mentira urdida por políticos sem escrúpulos, da existência de Armas de Destruição Maciça no Iraque, que serviu de pretexto para a brutal invasão daquele país independente, pelos EUA e seus acólitos, durante o governo Bush, de que um dos episódios mais caricatos foi a celebérrima reunião dos Açores, de Bush, Blair e Asnar, com o “mordomo” Durão Barroso (que, como prémio, viria a receber a presidência da U.E…).
O inglês Paul Greengrass (1955, Cheam, Surrey, Inglaterra), os seus argumentistas, entre eles, o norte-americano Brian Helgeland (1961, Providence, Rhode Island, EUA) e o famoso operador de câmara, Barry Ackroyd, também britânico (1954), que trabalhou com o famoso realizador Ken Loach e tinha feito o oscarizado “Hurt Locker” para a K. Bigelow, conseguiram, em minha opinião, uma obra superior à de Bigelow. Só que esta era politicamente bastante inócua, e por isso aceitável para a crítica dominante, enquanto “Green Zone” não o é. Libelo contra o gangsterismo político, principalmente da época Bush, com as suas lutas intestinas, e as manipulações para dar a Bush os pretextos para desencadear a agressão.
Matt Damon faz, uma vez mais brilhantemente, o papel do militar que não quer aceitar a corrupção vinda de cima, e se comporta como um dos muitos heróis do cinema norte-americano – em geral jornalistas ou polícias – que lutam contra os políticos corruptos e os bandos de gangsters.
Um belo thriller.
**** (4)


domingo, 11 de abril de 2010

AWAY WE GO (Um Lugar para Viver), de Sam Mendes

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“AWAY WE GO” (Um Lugar para Viver), de Sam Mendes, (EUA/GBR) **** (4)

Uma comédia quase perfeita, com belos momentos de puro humor, deste cineasta inglês, num estilo que faz lembrar o melhor do cinema independente. As escolhas e a direcção de actores, são brilhantes, com especial relevo para os dois principais papéis – John Krasinski (Burt) e Maya Rudolph (Verona).
Relembremos que havíamos visto a actriz na derradeira obra-prima de outro grande cineasta, recentemente desaparecido, Robert Altman, que era “Prairie Home Companion”.
 O jovem casal, em que ela está grávida, viaja pelos EUA e Canadá, visitando a família e alguns amigos, à procura do local ideal para assentarem e aí se dar o nascimento da filha. Sítio que por fim reencontrarão e o que o realizador filma maravilhosamente.
Sam Mendes e os argumentistas (Dave Eggers e Vendela Vida) traçam um belíssimo retrato de um relacionamento amoroso, ao mesmo tempo que, em estilo de comédia, fazem desfilar perante nós, através dos familiares e amigos que o casal vai visitando, algumas das taras e excentricidades da sociedade norte-americana (e não só, diga-se em abono da verdade), a começar pelos pais de Burt (John Krasinski).
O jovem casal fez-nos lembrar, no melhor dos sentidos, alguns amigos a quem o tempo não conseguiu destruir essa aura de felicidade e independência, a despeito de todas as dificuldades e do meio hostil. Só por isso, terminada a projecção, o filme conquista-nos.
Mas fica também a magnífica realização deste brilhante cineasta britânico, que no ano passado nos havia dado uma das suas obras-primas, “Revolutionary Road”.
Por tudo isto, não percam.
**** (4)