Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

domingo, 28 de março de 2010

ERNESTINA, de J.Rentes de Carvalho

Não é um filme, mas um livro. Publicado em 2001, mas só agora me chegou às mãos e o li. Romance mais ou menos autobiográfico, passado em Trás-os-Montes, ou melhor, em Portugal, entre os anos 30 e 50 do século XX.
O autor nasceu em 1930, em Vila Nova de Gaia, onde viveu até 1945. Liceu no Porto, universidade - Românicas e Direito - em Lisboa. Forçado a emigrar, devido ás perseguições políticas da época, a quem bastava pensava de maneira diferente do poder e não se eximir de o dizer. Viveu no Brasil, EUA e França. Acabou por fixar-se, nos anos 60, na Holanda. Foi professor na Universidade de Amesterdão, de 1964 a 1988. Escritor de sucesso no seu país de acolhimento parece ser, até agora, quase ignorado no seu país de origem e na língua em que escreve, alias admiravelmente. Como muitas vezes acontece neste país aos seus melhores.

"Ernestina" é um romance, que para além da beleza da linguagem, com uma aparente simplicidade que só os grandes conseguem atingir, e que acho extraordinária, me calou profundamente. Porque é uma história das mil histórias que vivi e vi ou me apercebi, durante esses anos em que fui crescendo neste país, miúdo da grande urbe mas rodeado de gente de lugares recônditos que pouco a pouco fui conhecendo. 

Para mim, também homenagem, masculina, à Mulher, através das duas Ernestinas, a Mãe e a Amante, iguais no nome e de certa maneira na condição, que fazem nascer a criança e depois o homem. Talvez por isso, com as suas admiráveis descrições da vida da maioria dos portugueses nesses anos sombrios, da descrição quase cinematografica das paisagens e das situações, comovente por vezes (e não me admiro que uma lágrima rebelde possa escapar aos mais sensíveis, porque se lê com muita emoção), de um regionalismo universal, o livro começou por ser sucesso editorial na Holanda. Será que agora irá ser também conhecido e amado, como julgo que merece, no nosso país?

sexta-feira, 26 de março de 2010

CARTOONS

Este blogue fala principalmente de Cinema, às vezes de Teatro (de que o autor confessa gostar muito: não há nada, de facto, que chegue à presença viva do actor). Mas, se quase todas as Artes o interessam, não deixa de ter um gosto especial pelas  artes que "podem contar histórias através da imagem", como a Fotografia, a Banda Desenhada e o Cartoon.

Sob o tema "EXPLORAÇÃO E DIREITOS DOS TRABALHADORES" abriu, no Centro de Trabalho Vitória, do Partido Comunista Português, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, uma exposição INTERNACIONAL DE CARTOON. Com o sub-título de "OLHAR CRÍTICO A TRAÇO DE HUMOR".
São, segundo o respectivo catálogo, trabalhos de 112 artistas convidados, de 37 países, tendo sido seleccionados para exposição 200 trabalhos. Das 10.00 às 20.00, de segunda-feira a sábado, até 9 de Abril.
O resultado é magnífico. Para quem possa, é de não perder.

quinta-feira, 25 de março de 2010

MORAIS E CASTRO

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HOMENAGEM

Ao grande actor Morais e Castro,  recentemente falecido, homenagem no Teatro Municipal de Almada, onde, com a CTA, teve duas interpretações brilhantes (que tivemos a felicidade de ver) em “Os Directores”, de Daniel Besse e “O Fazedor de Teatro”, de Thomas Bernhard. Em 27 de Março, Dia Mundial do Teatro. Se puderem não faltem.

ALICE IN THE WONDERLAND, de Tim Burton

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“ALICE IN THE WONDERLAND” (Alice no País das Maravilhas), Tim Burton, (EUA), **** (4)

Tim Burton é, suponho que indiscutivelmente, um dos grandes Autores da Sétima Arte, neste início de milénio. Talvez até já nem necessitasse de fazer este tipo de trabalho, em princípio bastante rentável, para a Disney (cuja produção média é no entanto de inferior qualidade), servindo de caução às “novidades tecnológicas” do momento (3D).
Confesso que a 3D não me seduz, como já tinha acontecido aliás há umas boas dezenas de anos (os óculos com lentes verdes e vermelhas, recordam-se?) e confesso que preferiria ver esta incursão de Tim Burton pela “Alice” do Lewis Carroll, sem esta modernice de sabor algo requentado, que esteticamente, em minha opinião, nada acrescenta, antes pelo contrário. Mesmo que Burton tenha conseguido por vezes suscitar a nossa admiração, com um ou outro achado só possível em “3D”.
No entanto trata-se de mais uma obra deste notável criador, cuja visão, como todas as outras, embora esta em menor grau, diga-se de passagem, nos dá muito prazer. Não nos esqueçamos que a última obra de Tim Burton havia sido uma indiscutível obra-prima, “Sweeney Todd”, numa adaptação do famoso musical de Stephen Sondheim, tornando-se um dos melhores filmes deste princípio do século XXI.
“Alice no País das Maravilhas”, a obra-prima do famoso escritor inglês (Cheshire, 1832 – Guilford, 1898) e professor de matemática em Oxford, que usou o pseudónimo Lewis Carroll nos seus livros, continua a causar a admiração dos seus leitores quase um século e meio depois, por, ao descrever as fantasias oníricas de uma rapariguinha de 10 anos, se prestar a várias interpretações, conseguindo suscitar curiosidade no leitor adulto. No entanto não esqueçamos que grande parte do fascínio da obra resulta também das várias interpretações dos personagens feitas por muitos ilustradores, desde que Carroll o editou pela primeira vez. Como a nossa extraordinária Paula Rego. E das adaptações principalmente ao cinema.
O que Tim Burton agora faz magnificamente é, baseando-se na obra original, adaptá-la a uma jovem no final da adolescência, criando algumas novas personagens, bastante mais complexas, que conseguem permanecer no nosso imaginário visual. Aliás, mesmo assim, não pude deixar de ficar admirado com o comportamento dos muitos adolescentes que estavam na sala quando assisti ao filme, que seguiram com a máxima atenção e admiração as peripécias de uma história em princípio muito infantil, mas obviamente misteriosa e inexplicável como todos os sonhos.
A imaginação delirante de Burton e o seu bom gosto, continuam a ser imagens de marca, sem notas dissonantes. Tal como a direcção actores, em especial, do seu preferido, Johnny Deep, com a sua mulher, Helena Bonham Carter, a também se destacar no papel da rainha má.
Para terminar relembrar apenas que Tim Burton, tem honras de ter parte da sua obra (cerca de 700 peças) exposta até 26 de Abril de 2010, no famoso museu nova-iorquino, “Museum of Modern Art” (MOMA), o que só os grandes criadores costumam conseguir. Tenho pena de não ver…
**** (4)

terça-feira, 23 de março de 2010

A SERIOUS MAN, de Ethan e Joel Coen

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“A SERIOUS MAN” (Um Homem Sério), de Ethan e Joel Coen, (EUA), **** (4)

A não perder esta comédia, escrita e realizada pelos manos Coen, passada nos meios judeus askhenazes do “Midwest” norte-americano (Minnesota), que eles conhecem bem, já que é desse meio que são oriundos.
Mesmo para um “goy” como eu (pejorativamente, alguém que não segue a religião judaica), esta obra vê-se com um sorriso constante, ante as “perseguições” do destino contra o sério professor universitário, de Matemática, Lawrence (Larry) Gopnick (grande interpretação de um actor de teatro, Michael Stuhlbarg), que incluem tentativa de corrupção por parte de um aluno reprovado, adultério que envolve um amigo com a mulher de Larry, um irmão alienado, apaixonado pelo jogo, etc, etc.
A obra passa-se entre real e onírico, nos anos 60 do século XX, onde estão presentes os complexos e frustrações resultantes dos medos e receios dos judeus da diáspora, perante o racismo e os seus extremos - Inquisição e Holocausto, concebidos pelas mentes perversas formadas pela outra grande religião concorrente no mundo ocidental (Larry sonha que o vizinho fascista abate a tiro o seu irmão e iria matá-lo também a ele se o pesadelo não terminasse abruptamente como todos os pesadelos, cena que começa aliás quase comicamente, com a fuga do alucinado irmão para o Canadá, de canoa, através dos grandes lagos!).
Em especial, as cenas com os rabis são de uma ironia e comicidade ao nível do melhor que os Coen têm concebido no cinema. Tal como as conversas com o membro do Conselho da Universidade, que irá julgar as candidaturas a professor catedrático.
Existe no filme uma cena que irá ficar certamente na antologia do melhor dos Coen, por ser paradigmática do seu estilo, que é a do quadro negro, onde Larry escreve as equações necessárias às suas demonstrações matemáticas, que de repente surge com a dimensão de um enorme ecrã.
Um prólogo estranho abre a obra, despertando o espírito do espectador para o que se vai seguir.
E o filme termina, no genérico (que infelizmente quase ninguém vê, por desinteresse a maior parte das vezes – e nunca me esqueço da “sumidade” que uma vez ouvi dizer - mas vocês ficam a ver isso?), com o aviso: “nenhum judeu sofreu durante a realização do filme”. Suprema ironia destes dois Mestres do Cinema contemporâneo.
A não perder para os que gostam de Cinema, indiscutivelmente muito mais interessante que a maioria do que está exibição (excluindo obviamente Scorsese e a sua magnífica “Shutter Island”, o Tim Burton e a sua “Alice”, Eastwood e o regresso ao seu melhor, com “Invictus”, Woody Allen com mais uma pequena jóia "Whatever Works" ou Lee Daniels e a sua maravilhosa "Precious", não falando na obra-prima, europeia, "O Laço Branco", de Michael Haneke).
**** (4)

PRECIOUS, de Lee Daniels

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“PRECIOUS” (Preciosa), de Lee Daniels, (EUA), **** (4)

Este filme é uma verdadeira pérola do Cinema Independente Nova-Iorquino, que começou por ser premiado justamente no Festival de Sundance, a mais importante mostra do cinema independente norte-americano e, depois de vários outros prémios, terminou com dois Óscares: para a melhor actriz secundária, Mo’Nique, no papel da mãe (Mary), que contracena com a extraordinária revelação, Gabourey Sidibe (Precious), nomeada para o Óscar de Melhor Actriz, que não seria injusto, diga-se de passagem, e para o melhor argumento.
Mas, talvez o mais importante dos prémios tenha sido no entanto o Prémio Especial do Júri do Festival de Cannes, e a ovação do público (europeu) nesse festival, que durou cerca de um quarto de hora (citado por João Moço, DN, 10fev10), para este filme claramente norte-americano, pela ambiência social e pelas personagens retratadas, pertencentes à enorme e quase sempre muito explorada comunidade afro-americana da sociedade daquele país, mas que não deixa de ser universal nas questões que aborda – desigualdade, iliteracia, miséria, droga, pedofilia, incesto, Sida.
Por este cunho de crítica social, não nos surpreende a desvalorização da obra que foi feita pela crítica ultra-conservadora portuguesa.
Em contrapartida, um crítico de qualidade superior no nosso meio, João Lopes, não hesita citar o grande John Cassavetes (1929-1989), como “referência tutelar”, em obras como “PRECIOUS”, o que é um enorme elogio!
O realizador, Lee Daniels (Filadelfia, 1959), pertence também à comunidade afro-americana e foi o segundo membro dessa comunidade a ser nomeado para um Óscar de melhor realizador (citado no IMDB)
Uma admirável obra a não perder. Recomendação que vai para além dos cinéfilos incondicionais.
Impressionante, comovente, mas não pessimista. Vão ver e depois digam-me se não tenho razão.
**** (4)

sexta-feira, 19 de março de 2010

JEAN FERRAT

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IN MEMORIAM JEAN FERRAT (Vaucresson, Hauts-de-Seine, 1930-2010)




Homenagem no desaparecimento de “um dos símbolos da canção de protesto francesa”, que cantou Aragon e tantos outros Poetas. Músico da estirpe de Jacques Brel, Leo Ferré ou Georges Brassens, todos infelizmente já desaparecidos, mas cuja música permanece.
De ascendência judaica, teve o pai deportado e depois assassinado em Auschwitz, pelos nazis, morte a que ele próprio escapou, aos 11 anos, devido a ter sido salvo por militantes comunistas, membros da Resistência Francesa à ocupação nazi.
Foi casado com a cantora Christine Sèvre, falecida em 1981. Tem uma obra longa e de qualidade, sempre empenhado nas causas sociais, apoiante do Partido Comunista Francês, por quem foi várias vezes candidato e eleito autarca durante mais de uma década (1970-1983).
“La Montagne”,  http://www.youtube.com/watch?v=vBh9BNGzROM , é uma das suas mais célebres canções, aliás cantada em coro pelos cinco milhares de pessoas presentes no seu funeral, em Ardèche. “Nuit et Brouillard” (Noite e Neblina) (1963) e “Potiómkine” (1995) são outras das suas mais famosas composições. No entanto a sua música foi sempre censurada e marginalizada nos Media controlados pelo poder capitalista: “Quando deixarem de proibir as minhas canções (..) então é porque já não valho nada (..) terei o futuro assegurado (..) glorificando a plenos pulmões a Europa dos super-patrões”.

quinta-feira, 18 de março de 2010

MANIFESTO PELO CINEMA PORTUGUÊS

Acabei de ler e assinar a petição online: «MANIFESTO PELO CINEMA PORTUGUÊS»

http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=P2010N1571

Eu pessoalmente concordo com esta petição e acho que também podes concordar.

Subscreve a petição e divulga-a pelos teus contactos.

sábado, 13 de março de 2010

PRÉMIOS

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OS FILMES PREFERIDOS DE 2009
Nos PRÉMIOS e nas ESCOLHAS DOS CRÍTICOS

Em época de rescaldos na indústria do cinema, sobre a época que findou (2009), convém chamar a atenção para o que estes prémios (César, Donatello, Goya, Orange (BFTA), Oscar, etc) efectivamente, em minha opinião, significam: o gosto médio da gente mais ou menos importante envolvida na indústria cinematográfica, não esquecendo também uma parcela da influência dos Media nesse gosto e do próprio carisma dos nomeados junto dos seus comparsas. E basta analisar os prémios conferidos ao longo do tempo, nomeadamente os mais conhecidos, pelo peso da respectiva indústria, que são os OSCARES (EUA). No entanto, a qualidade superior tem ficado, quase sempre, em segundo plano, embora, muito raramente, também consiga influenciar o gosto médio, no caso de obras de grandes mestres da Sétima Arte, isto é, aqueles que tem uma obra coerente e continuada, de inovação e brilhantismo, quer na linguagem, quer nos temas.

1-Relativamente à indústria, num breve resumo, atendendo que em ITALIA (com os David di Donatello) ainda não houve votação,

-Em FRANÇA, nos CESARES, “Un Prophète”, de Jacques Audiard, venceu nas duas principais categorias (filme e realizador). (sobre a minha opinião à cerca deste filme ver nótula respectiva no blogue)
E “Grand Torino”, de Clint Eastwood foi considerado o melhor filme estrangeiro.

-Em ESPANHA, nos GOYA, “Celda 211”, de Daniel Monzón, venceu também nas duas categorias principais, no entanto “Agora”, de Alejandro Amenabar (ver nótula respectiva no blogue), ganhou em muitas outras categorias, tais como argumento, fotografia e direcção artística.
Quanto a “Slumdog Millionaire” (ver nótula respectiva no blogue), foi considerado o melhor filme europeu.

-Na Grã-Bretanha, nos BAFTA, venceu "Hurt Locker", de Kathryn Bigelow, nas duas categorias principais. "Fish Tank", de Andrea Arnold foi considerado o melhor filme britânico e "Un Prophète", de Jacques Audiard, o melhor filme não falado em inglês.


-Nos EUA, nos OSCARES, venceu “Hurt Locker”, de Kathryn Bigelow (ver nótula respectiva no blogue), também nas duas categorias principais. É um aspecto secundário, mas não deixa de ser curioso notar que os norte-americanos tenham, pela primeira vez na história dos seus “Óscares”, entregue (através da votação secreta dos seus membros) os prémios mais importantes - filme e realização -, a uma mulher, no DIA INTERNACIONAL DA MULHER, data que daqui saudamos, pelo que significa de Luta pelos Direitos e Contra Todas as Discriminações.

E como melhor filme estrangeiro foi votado “El Secreto de Sus Ojos”, de Juan Jose Campanella, da Argentina, de que víramos em 2002, o interessantíssimo “El Hijo de la Nobia”, em nossa opinião um dos melhores filmes estreados em Portugal em 2002.

2-Na crítica, gostaríamos de conhecer as preferências das revistas de referência, com particular destaque para aquela que é em nossa opinião, neste momento, a melhor revista de cinema, que conhecemos, “POSITIF”, mas, tal como a credenciada “SIGHT AND SOUND”, preferem fazer balanços de década. O da POSITIF já saiu e colocou no topo do gosto dos seus críticos a extraordinária obra-prima de Terrence Malick, “The New World” (como aliás também é minha opinião, quanto a este filme) seguido de “Million Dollar Baby”, de Clint Eastwood e os dois cineastas partilham as duas primeiras posições, nas preferências de qual o mais apreciado cineasta da década (Eastwood, Malick), apesar de Malick só ter estreado um filme neste período!!!
Pessoalmente preferiria “Saraband”, de Ingmar Bergman, à obra de Eastwood, e quanto a este, considero “Mystic River” como o seu melhor filme.
Ainda sobre boas revistas de cinema convém não esquecer "NOSFERATU", publicada no País Basco.

3-Este ano, talvez por falta de atenção, não consegui ler todos os balanços nacionais, dos que escrevem nos Media dominantes, falhando alguns significativos, pela qualidade dos críticos envolvidos, pelo que não consigo fazer um balanço geral relevante
Entre os amigos cinéfilos, curiosamente só “Les Plages d’Agnès”, de Agnès Varda” (ver nótula respectiva no blogue), faz o pleno em 2009, incluindo eu próprio. Mas, pessoalmente, elejo “Che”, a magnífica obra em duas partes de Steven Soderbergh, sobre episódios da vida do grande revolucionário argentino, como o preferido do ano, por ser, indiscutivelmente, sob o ponto de vista meramente cinematográfico uma grande obra, e também por ir em contra-corrente, na indústria do cinema, sob o ponto de vista temático, razão pela qual foi desvalorizado pela crítica mais retrógrada (ver na nótula respectiva).


terça-feira, 2 de março de 2010

SHUTTER ISLAND, Martin Scorsese

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ATENÇÃO! As minhas estrelas (de 1 a 5) representam apenas o meu nível de gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente.

“SHUTTER ISLAND”, de Martin Scorsese, (EUA), **** (4)

Com argumento de Dennis Lehane (165, Dorchester, Massachusetts), o celebrado autor de “Mystic River”, o romance de que Clint Eastwood fez, em minha opinião, a sua obra-prima.
Belíssima realização cinematográfica de Martin Scorsese, para um argumento em que a paranóia norte-americana está bem presente, com os seus pesadelos e complexos de culpa, entre eles os que resultam dos anos fascizantes da sociedade norte-americana no pós-guerra (maccarthismo). Por outro lado, sabe-se como é difícil traduzir o onírico em imagens. E também pouco consensual. Será por isso que críticos muito conservadores tentam “chumbar” a obra (vide E.Barros, “DN”)? Ou por causa da paranóia?
“Afinal, como podemos definir o real?”, pergunta João Lopes na conclusão da sua nota sobre o filme (DN, 24fev10). Se calhar, só consegue compreender bem a resposta quem já atravessou situações limite, em que a questão se põe (como o autor destas linhas).
Esta é também uma das obras em que é proibido contar a história. Quem for ver o filme compreenderá porquê.
Leonardo Di Caprio, volta a ser brilhante, confirmando-se como um dos melhores actores da actualidade.
E Scorsese está aqui quase ao nível do seu melhor. Nunca é de mais relembrar um dos mais belos thrillers deste grande cineasta, embora pouco mencionado nos Media, e de que nos lembrámos durante a projecção, que é o magnífico “Cape Fear” (O Cabo do Medo) (1992), aí com outro dos seus actores preferidos, Roberto De Niro. Filme que, em minha opinião, também se pode filiar, como “Shutter Island”, no Cinema Negro.
Di Caprio é acompanhado nesta obra por outros grandes actores, em especial Ben Kingsley, numa inquietante interpretação, como outras que fez, entre as quais lembro a inesquecível do filme de Roman Polanski, “Death and the Maiden” (A Donzela e a Morte) (1994), uma das obras-primas do cineasta polaco, em boa hora premiado no Festival de Berlim deste ano, com a sua última obra “The Ghost Writer”, cuja estreia em Lisboa aguardamos com expectativa.
A não perder.
**** (4)