Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

AUS DEM NICHTS (Em Pedaços) (Uma Mulher Não Chora), de Fatih Akin


(texto publicado no Facebook)

Fiquei com curiosidade em perceber as razões por que uma obra europeia conseguiu o primeiro prémio da associação dos críticos de cinema nos EUA (Globos de Ouro) e foi considerada medíocre na Europa por alguns críticos conhecidos. 

(Os Globos de Ouro são considerados por muitos mais importantes que os Óscares, por serem resultado da votação dos críticos e estudiosos do cinema, enquanto os segundos resultam da votação dos trabalhadores dessa actividade - actores, técnicos, realizadores, etc)

Trata-se do filme franco-alemão "Aus dem Nichts" (In the Fade), (Em Pedaços) ou (Uma Mulher Não Chora), de Fatih Akin, cidadão alemão, descendente de imigrantes vindos da Turquia. 

O filme aborda o tema do nacionalismo, da xenofobia, do racismo e os protagonistas são alemães brancos enquanto as vítimas são imigrantes ou seus descendentes. O terrorismo neo-nazi surge em primeiro plano. Assim como a complacência da justiça para com ele, nas sociedades onde cresce inquietantemente.

Elementos para uma sinopse. Imagens:

Da 1ª Parte:



(1) A polícia tenta impedir Diane Kruger no papel de Katja Sekerci, uma alemã branca casada com um imigrante de ascendência curda, agnóstico, isto é não religioso, ex-preso por tráfico de droga, mas socialmente recuperado, Nuri Sekerci, de atravessar as barreiras policiais que rodeiam o local do atentado em que perecem o seu companheiro e uma criança, filho de ambos, desfeitos em pedaços pela bomba de pregos posta por neo-nazis para os matar. 

Da 2ª Parte:



(2) Cena no tribunal, com Katja e o seu advogado Danilo Faro (o actor Denis Moschitto), no julgamento do jovem casal de neo-nazis acusados do crime a partir do testemunho indiscutível de Katja - reconhece nos arquivos da polícia a rapariga que abandonara a bicicleta onde fora colocada a bomba. As provas da culpabilidade são avassaladoras - no local onde vivem são encontrados os indícios dos materiais utilizados no fabrico da bomba, e a família dos acusados testemunha contra eles. Todavia o tribunal, constituído por 5 juizes, "hesita" perante testemunhos falsos de gente ligada à extrema-direita, tendentes a lhes dar alibis, e acaba por os absolver.

Da 3ª Parte:



É porem na 3ª e última parte que a controvérsia surge perante a conclusão do argumento, escrito pelo próprio realizador e por Hark Bohm, um argumentista veterano. 

A sua heroína, perante a sua descrença de que os criminosos venham a ser condenados por um sistema judicial que está muitas vezes corrompido pelas ideias que levam os criminosos a actuar, e a despeito da vontade do advogado de recorrer, resolve vingar-se, fazendo justiça pelas próprias mãos. 

Em minha opinião trata-se de um aviso dos autores para os caminhos perigosos a que o desespero pode conduzir perante a falência da justiça, conduzindo a violências acéfalas.

O tema é vasto e delicado, para poder ser aqui analisado em profundidade. A questão do ódio e da vingança, que leva a protagonista da obra (magnífica interpretação de Diane Kruger, premiada este ano com o grande prémio em Cannes) ao acto desesperado, fez-nos pensar também nos que na maior parte das vezes são os utilizados por um terrorismo de ligações quase sempre tenebrosas, que estão nessa categoria de seres humanos, socialmente desintegrados, com poucos conhecimentos, que perderam tanto ou quase tudo, e que por isso ficam sem grandes esperanças de vida, restando-lhes principalmente o ódio e o desejo de vingança.

Recomendo a visão pelas questões levantadas.

Foi um regresso à sala escura após meses de ausência quase absoluta, por motivos de saúde. 



Gostava de poder prosseguir.

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