Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

SONHOS OU SORRISOS DE VERÃO

Em vésperas de ir ver mais uma encenação de O SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO, de William Shakespeare, lembrei-me desta obra-prima de Ingmar Bergman, que faz lembrar a obra shakespeariana. Quem não conhece que não perca, quer a peça, que o Intervalo Grupo de Teatro vai estrear, quer o filme, que pode ser alugado em qualquer boa videoteca. Mas, claro, o filme de preferência para ser visto num grande ecrã.

SORRISOS DE UMA NOITE DE VERÃO (SOMMARNATTENS LEENDE), de INGMAR BERGMAN

"No prosseguimento do CICLO INGMAR BERGMAN, em Lisboa no NIMAS, foi exibida mais uma obra-prima, absoluta, deste mestre da Sétima Arte.

Quando pensamos nos grandes mestres temos sempre, em minha opinião, que citar Ingmar Bergman entre os outros grandes, como Luchino Visconti, Serguei Eisenstein, Luis Buñuel, Jean Renoir, Federico Fellini, Stanley Kubrick, Akira Kurosawa, Kenji Mizoguchi, Satyajit Ray, Charles Chaplin, Orson Welles, e mais alguns. 
Pelo admirável conjunto das suas obras, quase que sem dissonâncias. 

O que não significa que não haja grandes filmes realizados por outros realizadores, muitos deles contemporâneos, alguns de língua portuguesa, de que gostamos aliás muito. 

Quanto a este SORRISOS DE UMA NOITE DE VERÃO , de 1957, é uma daquelas jóias inesquecíveis que tem como motivo a eterna luta dos sexos, fazendo pensar acima de tudo no teatro de Shakespeare, brilhantemente encenada por Bergman e interpretada pelos seus actores, entre os quais é justo destacar o belíssimo quarteto feminino (sem menosprezo pelos excelentes actores masculinos), constituído por Ulla Jacobson (Anne), Eva Dahlbech (Desiree), Margit Carlqvist (Charlotte) e a extraordinária Harriet Anderson (Petra), no papel da criada, que irá fechar o filme, num triunfo do amor e da vida sobre a morte (uma vez mais em Bergman!).

Tenho muita pena que a maioria dos amigos e amigas não possam ver este filme, porque é daqueles que nos faz gostar muito da arte das imagens. 

Não substitui, é óbvio, a vida, mas ao retratar, mesmo a sorrir, aspectos fundamentais dela, faz-nos pensar, também com um sorriso."

(nota publicada no facebook)

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

ON THE MILKY ROAD (NA VIA LÁCTEA), de Emir Kusturica




NA VIA LÁCTEA (On the Milky Road), de Emir Kusturica

Se dúvidas ainda houvesse sobre a grandeza deste cineasta o seu último filme, NA VIA LÁCTEA (ON THE MILKY ROAD) sobre o Amor em tempos de guerra, e a guerra neste caso é a da Bósnia, que ele viveu como ninguém, mostra uma vez mais que é um dos maiores contemporâneos.

Os crimes contra a Humanidade que as agressões à ex-Jugoslávia representaram, com o único objectivo de devolverem ao imperialismo norte-americano e aos interesses das grandes potências europeias, com a Alemanha à frente, o domínio dos Balcãs, custasse o que custasse e custou muitos milhares de vítimas em toda aquela zona. Relembro os heróicos concertos de música de Belgrado debaixo das balas assassinas da NATO. A coragem do povo jugoslavo não foi no entanto suficiente para derrotar a agressão imperialista.

Foi por acaso mas na hora em que via o filme e me impressionava com o sofrimento de um povo que ele relata, ia a enterrar um dos políticos com sérias responsabilidades nestes acontecimentos... e não deixei de pensar qual seria a sua reacção se fosse confrontado com a visão de uma obra de arte como esta. Teria ao menos uma réstea de consciência?

NA VIA LÁCTEA é mais uma obra profundamente humanista de Kusturica, mágica por vezes, comovente e alerta para os povos: "A guerra só vai parar quando o Big Brother for derrotado" ouve-se na inebriante canção do baile popular, em que a música de Kusturica e os seus músicos nos faz vibrar, com os seus acordes ciganos.

Um grande filme para começar o ano de 2017! Duvido sinceramente que vá conseguir ver melhor!

E diga-se ainda que Kusturica não conseguiria melhor para o papel da sua heroína que Monica Bellucci, "La Piu Bella" (Marino Marini), canta-se no filme!

Há também neste filme de Emir Kusturica algo de surpreendente, que é a participação dos animais, para além do Homem, (que é aliás o que se comporta pior... alguns!). Kusturica põe no genérico final (que é sempre bom ver até ao fim) o nome próprio dos animais que colaboraram na obra, como se de artistas humanos se tratasse (pelo que depreendi são na maior parte habitantes do zoo de Belgrado). 

Não deixem de ver porque é uma obra prima. Houve até um crítico que titulou magnificamente a sua crítica com "O Cinema é um Milagre", numa referência a outra inesquecível obra-prima deste grande realizador, "A Vida é um Milagre"!

Na foto Monica Bellushi com Emir Kusturica, que escreveu o argumento, realizou e interpretou. E claro, grande parte da música é da sua famosa banda.


ADENDA

Obrigado à Amiga que nos falou do filme e cujas palavras transcrevo com a devida vénia:

Teresa Ng

2/1 às 20:30 • 

Ontem fui ver o filme "Na Via Láctea" de Emir Kusturica.

Tocou-me profundamente, porque é um tema pelo qual ainda fico indignada e revoltada, a "guerra da Bósnia". 

Não consigo ficar indiferente ao sofrimento do povo Sérvio, por quem nutro enorme simpatia e admiração.

Finalmente volvidos todos estes anos, alguém teve a coragem de abordar este tema. Ninguém melhor para o fazer que Emir Kusturica. Colocado na personagem do filme, o leiteiro, que era Prof. de música antes da guerra rebentar. A forma como esta guerra transformou a vida das pessoas...

Um filme, com humor, muita energia, bela música, animais e tragédia. Um filme comovente.

Uma denúncia a partir da desordem e dum certo caos.

A interferência estrangeira como a NATO/SFOR e NU que protagonizaram esta guerra de forma errónea e vil para com os povos da Jugoslávia e em particular contra o povo Sérvio.

Aconselho vivamente a todos os amigos que tiverem oportunidade de ver este filme.



Bem haja Emir Kusturica.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

PREFERÊNCIAS EM CENA, EM 2016 - AS MINHAS RAZÕES

Com base em textos que fui escrevendo quando vi os espectáculos

CLARABÓIA, de José Saramago, enc. Maria do Céu Guerra, pel' A Barraca

"Através do microcosmos de um prédio urbano, com seis apartamentos, Saramago mostra-nos o que foram esses tempos sombrios em que viveu a sua juventude (e nós também) e de como o medo que o fascismo inculcou nas pessoas as tornou por vezes medíocres, quando não até capazes de malvadezas contra o seu semelhante, como a denúncia, quase sempre falsa, por mera vingança. Mas também de esperanças e anseios que nesses tempos obscuros dificilmente podiam singrar."
"é impossível esquecer a beleza do cenário de José Costa Reis, imprescindível para permitir esta encenação, ao mostrar-nos o interior do prédio e os seus moradores. Esse facto torna este espectáculo único, quando visto na velhinha sala do Cinearte, que aliás atravessou praticamente toda a nossa existência, já um pouco longa, entre muito cinema e teatro."



12 HOMENS EM FÚRIA, de Reginald Rose, enc. Armando Caldas, pelo Intervalo Grupo de Teatro

"Tanto que este espectáculo é muito actual, embora nem sequer aflore a questão da pena de morte, ainda hoje existente nos EUA, como noutros países do mundo, que deixa marcas nos espectadores, porque emociona e principalmente faz reflectir. É um microcosmos humano que Reginald Rose no fundo cria entre aqueles 12 homens e nenhum de nós, penso, deixará de o sentir, nele se revendo, por bons ou maus motivos. No fundo é nisso que reside a intemporalidade desta magnífica obra e se nos emocionamos, eu diria quase até às lágrimas, é por vermos que desta vez a inteligência e o humanismo derrotam a ignorância, o desespero acéfalo, a violência dos que não têm outro argumento.
Eu só posso sugerir que não falhem mais este grande e belo espectáculo do Intervalo Grupo de Teatro, com uma direcção de actores que temos que reconhecer magnífica, aliás como habitualmente naquela casa."




FREI LUÍS DE SOUSA, de Almeida Garrett, enc. Rogério de Carvalho, pela CTAlmada

"Confesso que para mim, fica o horror do preconceito, criado e levado ao extremo pela igreja, que leva a que aqueles dois seres, que se amavam e amavam a filha, Maria, tivessem que se enclausurar, morrendo para a vida, com o beneplácito, intriga e aplauso da Igreja (Irmão Jorge).
Em minha opinião, Rogério de Carvalho conduziu com mestria o espectáculo para nos fazer sentir como a falsa moralidade e o fundamentalismo conduzem à infelicidade. E tudo culmina com a cena da morte de Maria que, ao contrário do pensado por Almeida Garrett, que a imaginou de branco, apenas vítima (a época era outra), nos surge agora num poderoso vermelho, da cor do sangue e da revolta, dando à cena final um simbolismo de luta anti preconceitos e falsos moralismos. Por isso julgo que o grande poeta, um dos nossos maiores, que foi Eugénio de Andrade teria apreciado esta interpretação do Frei Luís de Sousa.
Por mim gostei muito."




DE AÇO E SONHO, pelo Teatro Extremo

"Belíssimo título!
O Teatro Extremo e a Associação Conquistas da Revolução organizaram na Casa do Alentejo um magnífico espectáculo teatral sobre a Constituição da República, aprovada na Assembleia da República em Abril de 1976, há 40 anos. Com Joana Manuel, António Boieiro e Rui Galveias.
As fotos que obtive na Net são de representações desta peça noutros locais.
A leitura da mensagem de Vasco Gonçalves ao Festival de Teatro de Nancy de 1977 abre o espectáculo, que durante cerca de uma hora nos relembra o que tem sido a luta pela defesa das conquistas da Revolução de Abril e da que é a mais progressista das constituições."



HEDDA GABLER, de Ibsen, enc. Juni Dahr, pelo Viojoner Teater, Oslo (FTAlmada)
"Para quem gosta de Ibsen imagine o que se poderá fazer num espaço belíssimo como é a Casa da Cerca, espaço de exposições e eventos da Câmara Municipal de Almada, com Lisboa em fundo.

Mas o que esperávamos foi superado por esta magnífica encenação da peça HEDDA GABLER, pela encenadora e actriz norueguesa, também cineasta, Juni Dahr, acompanhada por outros 4 magníficos actores, uma mulher e três homens, do Visjoner Teater, de Oslo.

Espectáculo dito em norueguês, mas com uma tradução para português excelente e muito visível para todos quantos estavam a assistir.

Espectáculo quase íntimo, para apenas 60 espectadores por sessão, como gostava o grande dramaturgo norueguês, Henrik Ibsen, para aproximar o público dos actores e da representação.

Um longo e caloroso aplauso no final, com todos os espectadores de pé, pareceu-me até surpreender os actores, que talvez não o esperassem da parte de um público de língua tão diferente. Mas Almada é Almada e o público que criou tem uma cultura teatral invejável e rara."




A GAIVOTA, de Anton Tchecov, enc. Thomas Ostermeier, pelo Théâtre Vidy-Lausanne (FTAlmada)


"Um famoso encenador alemão, Thomas Ostermeier, regressou a Almada com uma encenação muito moderna (mas não, pelo menos na parte principal, pos-moderna... felizmente!) de uma das grandes peças de Anton Tcheckov, A GAIVOTA. 
É um grande texto que continua a suscitar interrogações e dúvidas de quem o vê representado (ou o lê) sobre o comportamento das pessoas... e dos artistas:
"Artistas!..." comenta a certa altura um dos personagens, o médico. "




TRÓPICO DEL PLATA, de e enc. Rubén Sabadini, Vera Vera Teatro, Buenos aires (FTAlmada)


"E é quase sempre através da metáfora que o autor, o dramaturgo argentino Rubén Sabadini,  nos descreve a relação de poder que se estabelece entre um homem, Guzman, e a sua amante, Aimée, uma jovem que recorre à prostituição para sobreviver numa grande metrópole, e que ele utiliza  recorrendo à violência, como proxeneta e chulo. E as relações com os clientes, burgueses que se disfarçam, se escondem, para se servir daquela mulher.
" - O mercado da carne não funcionaria sem a cumplicidade de uma sociedade patriarcal prostituta que se sabe soberana e, no carnaval da história, a violência (institucional) contra a mulher disfarça-se de escolha pessoal e torna-se invisível por detrás da máscara."
"toda a violência (dos poderosos) é política porque a vítima é aquela que é tida por inferior."
"No mínimo este espectáculo procura não agradar a tantos espectadores de classe média que frequentam o teatro para expiarem as suas culpas de burgueses silenciosos e, como tal, complacentes." - (palavras do autor, transcritas na folha da sessão)"



O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS, de José Saramago, enc. Helder Costa, pel' A Barraca

"É de 1936 que se trata e de FERNANDO PESSOA e de um dos seus famosos heterónimos, numa genial recriação do nosso Nobel.
Creio que posso garantir-vos que se vão rir mas ao mesmo tempo relembrar com preocupação essa época difícil do nosso País, com o fascismo em ascensão aqui e em grande parte da Europa, com as suas atrocidades sem nome, os seus horrores aqui mesmo ao lado, na Espanha invadida e saqueada. 
Saramago, como genial escritor que foi, nunca se esquece de nos lembrar em que situações históricas viveram as suas personagens, reais ou imaginárias.
Interpretações brilhantíssimas, numa magnífica encenação de Helder Costa."



A ÚLTIMA VIAGEM DE LÉNINE, de António e Mafalda Santos, pelo Grupo de Teatro Não Matem o Mensageiro

"Lénine surge-nos nesta peça como um revolucionário de corpo inteiro, isto é, que não esconde a sua condição humana, o que o torna um ser extraordinário, por quem sentimos uma enorme admiração e simpatia.
A peça, que imagina uma viagem, nos tempos actuais, a Lisboa, do grande dirigente revolucionário, tem vários momentos emocionantes, muito por mérito da encenação e da interpretação. Um dos que suponho que mais toca os espectadores é o da celebração que Lénine e a sua companheira Najda Kroupskaia, fazem no 73º dia da Revolução de Outubro, dia em que ultrapassa a duração da Comuna de Paris. Julgo que ninguém que sonha com um Mundo melhor deixará de se emocionar. A Revolução haveria efectivamente de durar muito mais, algumas décadas, marcando decisivamente a História da Humanidade como um dos seus momentos mais altos, por ser a primeira vez, enquanto durou, que os trabalhadores tomaram nas suas mãos de uma maneira consequente o seu destino."




A NOITE DA LIBERDADE, de Ödön von Horváth, enc. Rodrigo Francisco, pela CTA
"Esta peça de Horváth, cujo título original é "Noite Italiana", em apoio à luta anti-fascista em Itália, contra Mussolini e seus sicários, foi escrita em 1929.

Um pouco antes portanto da chegada dos nazis ao poder na Alemanha, quando o partido nazi era ainda apenas uma ameaça e os partidos burgueses julgavam poder contê-la, apesar dos alertas dos comunistas, que defendiam a necessidade da criação de uma verdadeira frente popular contra o fascismo.

No final da peça imaginada por Horváth os jovens comunistas, que haviam sido expulsos do partido socialista dominado por políticos burgueses por apelarem à luta anti-fascista, surgem em defesa destes perante o ataque dos nazis. 

Sabemos no entanto que o anti-comunismo desses dirigentes prevaleceu nos anos seguintes, dando força aos nazis para atacarem a União Soviética, onde felizmente foram finalmente derrotados. Horváth já não viveu infelizmente para testemunhar isto, vitimado em Paris, onde se refugiara, por uma árvore em queda nos Campos Elíseos durante uma manhã tempestuosa.

A encenação de Rodrigo Francisco, pretende ligar a acção da peça à preocupante situação política e social dos nossos tempos, com o fascismo de novo a crescer na Europa e nos EUA (Trump) mas sem alterar o texto original de Horváth, o que implica um mínimo de conhecimentos por parte dos seus espectadores. 

A esperança de quem vê a peça é que ela seja bem entendida pela maioria dos seus espectadores. "




quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

PREFERÊNCIAS NO CINEMA, EM 2016 - AS MINHAS RAZÕES

BALANÇO CINÉFILO DE 2016 - As minhas justificações de gosto

45 YEARS (45 ANOS), de Adrew Haigh, com Charlotte Rampling, Tom Courtenay

" O argumento do filme é baseado numa novela de um poeta inglês, David Constantine (71 anos), que em entrevista disse que a ideia lhe tinha vindo duma notícia que leu na adolescência, e que o tinha impressionado, sobre o corpo de uma rapariga que havia sido descoberto praticamente intacto, envolvido no gelo de um glaciar alpino. 
Constantine e posteriormente Haigh construíram histórias cujo maior interesse tem obviamente a ver com o comportamento humano a partir da memória de um acontecimento que se julgava definitivamente terminado e que um corpo conservado no gelo vem lembrar."



THE BIG SHORT (A Queda de Wall Street), de Adam McKay, Christian Bale e Steve Carell

"Não será uma obra claramente anti-capitalista mas antes uma denuncia dos excessos a que o capitalismo em crise, cíclica, conduz, provocando milhões de vítimas, mas que para eles não passam de números... 
A obra, embora se limite aos especuladores menores, que gravitam na órbita do sistema, embora às vezes enriqueçam, e praticamente nunca nos mostre os que efectivamente comandam e ditam as decisões políticas que permitem que tudo continue na mesma, não deixa de impressionar os espectadores. Nem chegamos sequer a ver os émulos dos famigerados Constâncios e Carlos Costas, a não ser em imagens fugazes 
No entanto o filme vai dizendo meia dúzia de verdades sobre quem acaba por pagar de facto as crises capitalistas, ou seja, os trabalhadores e as massas populares. "



LA LOI DU MARCHÉ (A Lei do Mercado), de Stéphane Brizé, com Vincent Lindon e Karine de Mirbeck

"O autor diz que o seu filme é apenas político no sentido estrito do termo, mas que não quis fazer um panfleto ou uma bandeira da luta de classes, mas apenas debruçar-se sobre um homem em crise, por ter caído aos 50 anos no desemprego, não querendo no entanto perder a sua dignidade como ser humano.
O filme mostra, através de vários episódios na vida deste homem, o estado lamentável da sociedade resultante das políticas neoliberais (em muitos aspectos espécie de fascismo). Não tenho tempo agora para explicitar alguns aspectos a merecerem atenção mas que julgo que os espectadores não deixarão de sentir, como por exemplo o da "selecção de pessoal" nas empresas privadas. Aliás isso foi evidente na reacção dos espectadores da sessão a que assisti."



CINZENTO E NEGRO, de Luís Filipe Rocha, com Joana Bárcia e Flipe Duarte

"Vontade de rever esta magnífica obra, CINZENTO E NEGRO, tragédia de contornos clássicos, que a crítica dominante desconsiderou. 

De Luís Filipe Rocha, o grande realizador de, por exemplo, o famoso CERROMAIOR, em que adaptou a obra homónima de Manuel da Fonseca, o admirável escritor, poeta, narrador do País a Sul do Tejo.

Agora é principalmente a paisagem açoriana que domina, em especial do Pico e do seu mítico vulcão.

Brilhante direcção de actores e actrizes. Joana Bárcia e Mónica Calle com duas interpretações que ficam no nosso imaginário cinéfilo e isso nos tempos actuais não é fácil de se conseguir, pelo menos para mim."



WHERE TO INVADE NEXT (E agora invadimos o quê?), de Michael Moore


"O famoso documentarista norte-americano, MICHAEL MOORE, dá um panorama desolador do estado da democracia, dos direitos dos trabalhadores e dos direitos humanos no seu país. (...)
Em especial o episódio da luta pelos direitos das Mulheres é talvez o melhor momento do filme."



MARAVIGLIOSO BOCCACCIO (Maravilhoso Boccaccio), de Paolo e Vittorio Taviani

"É a adaptação de um grande clássico italiano, baseado nas histórias do seu DECAMERON, que Pasolini já havia adaptado também brilhantemente, à sua maneira. 
Em tempos de Peste (século XIV) há quem tente fugir-lhe. Também nós agora, com novas pestes (o fascismo e o neo-nazismo crescendo na Europa, na Turquia...) assolando os sítios onde vivemos, precisamos de força para lhes resistirmos e fazer-lhes frente, porque não adianta fugir... 
É um maravilhoso filme dos manos Taviani a não perder, transmitindo a beleza e sabedoria sobre a natureza humana, dos escritos de este grande autor, como o nosso Gil Vicente, Shakespeare, Molière..."



SNOWDEN, de Oliver Stone, com Joseph Gordon Levitt e Shailene Woodley

"Não só é excelente cinema, o que Oliver Stone fez uma vez mais, mas é também uma obra de grande importância, na denúncia da monstruosidade em que transformaram o seu país, os EUA, e dos perigos que isso representa para a Humanidade. 
Numa sala quase cheia o impacto sobre os espectadores foi grande, assistindo em silêncio preocupado ao desvendar da existência e acção de um sistema tentacular, que se abate sobre todo o mundo, com raras excepções, podendo atingir quase tudo e quase todos, onde quer que estejam. 
E muitos, por falta de conhecimento científico, nem se aperceberão verdadeiramente da gravidade do que está a acontecer. Porque não se trata de ficção, é a realidade."



JULIETA, de Pedro Almodóvar, com Emma Suárez e Adriana Ugarte

"Longe vão os tempos do estilo frenético, que a crítica mais burguesa adorava, sob o qual se escondia já um grande realizador.
O tempo vem dar-nos razão e é num estilo depurado que este grande cineasta nos oferece agora uma nova belíssima obra, comovente e brilhantemente interpretada, em que são os corações, através dos sentimentos, que batem por vezes descompassadamente
Almodóvar continua, a cada novo filme, a afirmar-se como um dos grandes autores do Cinema Contemporâneo."



CAFÉ SOCIETY, de Woody Allen, com Seve Carell e Kristen Stewart

Mais uma pequena jóia que Woody Allen, o realizador, escritor e músico de jazz, nos oferece. Para ver quase sempre com um sorriso. 
Talvez os diálogos sejam, como sempre neste autor, algo complexos e rápidos, às vezes difíceis de acompanhar para quem tem que ler as legendas, e exijam algum conhecimento por parte de quem os ouve, neste caso até cinéfilo, mas, pela sua inteligência, dão-nos sempre muito prazer.
Gostei da piada sobre o judaísmo e o cristianismo! Só não soltei uma gargalhada porque parecia mal... Boa!



I, DANIEL BLAKE (Eu, Daniel Blake), de Ken Loach, com Dave Johns e Hayley Squires


Retrato doloroso do Reino Unido Século XXI (United Kingdom), mas que é também o duma Europa capitalista, situação que está a abrir caminho de novo, como nos anos 30 e 40 do século passado, a um populismo, racista e xenófobo, que em geral conduz ao fascismo como forma última que o capital tem de tentar controlar e esmagar as massas trabalhadoras.



LES BEAUX JOURS DE ARANJUEZ (Os Belos Dias de Aranjuez), de Wim Wenders, com Sophie Semin, Reda Kateb, Jenz Harzer e Peter Handke


"Não se pode esperar que esta recentíssima obra de Wim Wenders, estreada no Festival de Cinema de Veneza deste ano, venha a ter grande sucesso junto do público ou da crítica dominante. 

No entanto trata-se de um filme belíssimo para quem aprecie a chamada Sétima Arte. 
É que Wim Wenders pegou num texto quase abstracto, escrito para o teatro pelo dramaturgo alemão Peter Handke, seu velho conhecido. E o resultado é puro fascínio, com os dois principais personagens, uma mulher e um homem, Sophie Semin e Reda Kateb, conversando perante nós enquanto a câmara se movimenta suavemente."