Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

sábado, 19 de agosto de 2017

VICEROY'S HOUSE (Adeus Índia), de Gurinder Chada



VICEROY'S HOUSE (Adeus Índia) 

A não perder o belíssimo filme da cineasta, nascida na comunidade indiana do Quénia (1960), Gurinder Chada, VICEROY'S HOUSE (ADEUS ÍNDIA). 

É que a obra passa-se nos meses que antecederam a independência daquele grande país asiático que os ingleses colonizaram durante 3 séculos mas que, antes de serem obrigados a sair, no final dos anos 40 do século XX, pela revolta e luta do povo indiano, manobraram, fomentando ódios religiosos entre hindus, muçulmanos e sikhs e protegendo os políticos que eram mais favoráveis à divisão que pretendiam (o muçulmano Jinnah, que seria o primeiro presidente do Paquistão), conseguindo provocar a fragmentação da Índia, para servir os interesses do capitalismo e do imperialismo, principalmente para não deixar a Índia libertada cair para o lado do socialismo, utilizando também a ingenuidade política do último vice-rei, Lord Mountbatten, escolhido para o lugar por isso mesmo, ainda que contasse com o apoio da sua mulher, humanista e mais inteligente. Mas tudo isso eles devem ter previsto... 

Dividir para reinar, foi sempre o lema dos colonialistas, qualquer que fosse o império colonial em causa, o britânico, o português ou outro qualquer.

E por trás de mais este crime contra os povos está a sinistra figura do político ultraconservador Churchill, que o conflito mundial de 1939-45 havia catapultado para o poder na Grã-Bretanha.
Ele causou, segundo a história, uma das maiores, senão a maior migração da história da Humanidade, com muitos milhares de vítimas. Só provavelmente o bárbaro ataque e invasão militar pelo imperialismo norte-americano e europeu ao mundo árabe, neste início do século XXI, terá causado maior número de deslocados. Crimes contra a Humanidade que a História não deixará esquecer.
 

Gurinder Chada, a realizadora, neta de gente vítima dos turbulentos tempos que os ingleses criaram, fez uma obra que emociona porque conseguiu transmitir-nos também, através de meia dúzia de personagens, os dramas humanos que acontecem em tais situações. 

Fez-me lembrar um outro filme, que retrata outro dos crimes do imperialismo contra a Humanidade, bem mais recente, que foi desmembramento da Jugoslávia, entre outros no Leste Europeu, em que o imperialismo também fomentou nacionalismos e divisões religiosas, utilizando grupos neo-nazis sempre que necessário. Refiro-me à obra-prima de Emir Kusturica, "A Vida é um Milagre". Em ambos os filmes, um homem e uma mulher são separados pela guerra, estúpida e irracional, entre as comunidades a que pertencem. 


É talvez por tudo isto que o filme passa quase ignorado do grande público, por ser desvalorizado, até pela omissão, pela crítica dominante nos media portugueses. E no entanto o filme é muito bom! Não fora um Amigo ter-nos chamado, no Facebook, a atenção para a obra e ela ter-nos-ia provavelmente passado despercebida.

Só duas notas finais: 
1- Prefiro o título original, porque o da versão portuguesa apenas traduz o ponto de vista dos colonialistas britânicos, o que não é todo o objectivo do filme
2-  Até nas legendas se nota a questão ideológica da classe dominante: ser de left (nos diálogos originais) é traduzido por esquerdista... Não! Não é ignorância... 

Na segunda e terceira foto está a realizadora do filme, colaboradora habitual do BFI - British Film Institute, equivalente à nossa Cinemateca e que aliás participa na produção da obra. A lista dos actores, que são quase todos magníficos, mesmo os que representam figuras históricas que muito admiramos - Nehru e Gandhi por exemplo, e dos demais técnicos, pode ser encontrada com facilidade na Net (IMDB, por exemplo).

(texto baseado no publicado no Facebook, em 18-Ago-2017)







ERÊNDIRA! SIM AVÓ... de A BARRACA, encenado por RITA LELLO


ERÊNDIRA, SIM AVÓ...

Bela e tocante encenação de Rita Lello, para uma companhia, que é sua também, A Barraca, de cujos trabalhos em geral gostamos tanto, porque se aproxima do tipo de teatro popular (sem ser populista, nas palavras dos seus próprios responsáveis) que mais me diz.

Da encenadora e também actriz que muito apreciamos (nos últimos tempos por exemplo em Clarabóia, aliás um espectáculo sob todos os títulos admirável), relembro sempre um dos seus trabalhos, em 2009, que para mim é inesquecível: A Bicicleta de Faulkner, encenando a peça de Heather McDonald.
Algumas horas depois de ver este espectáculo de A Barraca, fui reler o conto em que ele se baseia, texto mais ou menos longo de Gabriel Garcia Marquez: "A incrível triste história da cândida Erêndira e da sua avó desalmada",  e que é outra maravilha desse génio da literatura universal, de cujas obras tanto gostamos, dos romances e dos contos. 

Erêndira, visto no palco e lido, fez-me pensar em muita coisa, desde a América Latina, quase toda dominada pelo imperialismo ianque, aos seus povos, à sua cultura, à luta milenar, ao genocídio índio, etc, etc.  

Pena que tão depressa não seja possível rever esta magnífica adaptação ao teatro. Julgo que apenas no final do ano, se compreendi bem. Se estiver por cá, talvez me arrisque a uma noitada, se houver lugar.