Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

quarta-feira, 27 de abril de 2016

FREI LUÍS DE SOUSA, de Almeida Garrett, Rogério de Carvalho

FREI LUÍS DE SOUSA

Só uma brevíssima nota para chamar a atenção para o FREI LUÍS DE SOUSA, essa obra-prima da dramaturgia clássica portuguesa, de Almeida Garrett, uma vez mais nos palcos e agora quase em fim de carreira no Teatro Municipal Joaquim Benite, em Almada. 

Agora posta em cena por um grande encenador, Rogério de Carvalho, para a Companhia de Teatro de Almada, com os seus excepcionais actores, Teresa Gafeira, em Madalena, e Marques D' Arede, em Telmo, nos principais papéis. 




Já tanto se tem escrito sobre este drama que não vou ser eu, modesto mas interessado espectador de teatro, do grande teatro, que vai acrescentar alguma coisa. 

"Drama histórico ou político para uns, tragédia existencial ou psicanalítica para outros" (Luís Francisco Rebello), inicialmente proibido pelo governo de Costa Cabral, no reinado de D.Maria II (também citado por Luís Francisco Rebello). 

O caderno de textos da CTA dedicado a este espectáculo dá uma perspectiva das diferentes visões que a peça suscitou e até da rejeição das ideias que dela se podiam inferir, "anda por ali uma moral sexual que me repugna" (Eugénio de Andrade).


Mas... no final, o que fica para nós, hoje, deste drama complexo, aparentemente sobre as traições - menos grave a da mulher, Madalena, cujo marido, D.João, desaparece numa batalha donde poucos voltaram (Alcácer-Quibir) e se apaixona por outro homem, Manuel de Sousa, e com ele casa e tem uma filha, Maria; mais grave a do fiel aio, Telmo, que nunca esquece o amo, que ama como a um filho, mas que irá substituir no amor e dedicação pela filha, Maria, do casamento que ele achou errado por nunca acreditar na morte do amo apesar das duas décadas passadas - o que fica? 




Não deixa de ser curioso verificar (e não deixar de ler os magníficos ensaios de AJS no citado caderno) que quem considera este aspecto como fundamental seja, António José Saraiva, ele próprio um exemplo da traição aos ideais e aos amigos. 

Confesso que para mim, fica o horror do preconceito, criado e levado ao extremo pela igreja, que leva a que aqueles dois seres, que se amavam e amavam a filha, Maria, tivessem que se enclausurar, morrendo para a vida, com o beneplácito, intriga e aplauso da Igreja (Irmão Jorge). 

Em minha opinião, Rogério de Carvalho conduziu com mestria o espectáculo para nos fazer sentir como a falsa moralidade e o fundamentalismo conduzem à infelicidade. E tudo culmina com a cena da morte de Maria que, ao contrário do pensado por Almeida Garrett, que a imaginou de branco, apenas vítima (a época era outra), nos surge agora num poderoso vermelho, da cor do sangue e da revolta, dando à cena final um simbolismo de luta anti preconceitos e falsos moralismos. Por isso julgo que o grande poeta, um dos nossos maiores, que foi Eugénio de Andrade teria apreciado esta interpretação do Frei Luís de Sousa. 

Por mim gostei muito.

12 ANGRY MEN, de REGINALD ROSE

12 HOMENS EM FÚRIA

Em 1959, o filme, do grande e saudoso Sidney Lumet, um realizador em geral sempre menosprezado pela crítica oficial, mas que muito admiramos, também pela coerência da sua filmografia, "12 ANGRY MEN", (12 Homens em Fúria, no cinema, 12 Homens Fechados, no teatro, 12 Homens em Conflito, na TV) estreava em Lisboa e Rogério Paulo, o inesquecível grande actor, escreveu sobre ele na revista Seara Nova, um artigo de opinião crítica que o Intervalo Grupo de Teatro em boa hora juntou ao seu programa para o espectáculo. Texto que continua, como a peça, muito actual. Não há muito a acrescentar a essa belíssima reflexão de Rogério Paulo, apenas algumas notas pessoais.






Rogério Paulo, algum tempo depois, representaria no palco o papel principal de 12 ANGRY MEN, o do arquitecto, o 8º jurado daquele grupo de 12 que se preparava para dar o veredicto que equivaleria à morte ou não de um jovem acusado de um crime de parricídio; jurado que irá ser determinante na decisão do júri. 

Relembre-se que foi Francisco Ribeiro (Ribeirinho), o famoso actor, encenador, homem de teatro, quem encenou essa versão, estreada ainda em 1959, em Lisboa, no Teatro da Trindade, pela sua Companhia Teatro Nacional Popular. Armando Caldas, o director do Intervalo e encenador desta peça prestou-lhe a merecida homenagem no final do espectáculo, como um dos grandes homens do teatro possível nesses anos de enorme repressão e censura, em que muitos dos grandes textos da dramaturgia universal eram simplesmente proibidos. Há por isso que prestar homenagem a todos aqueles que lutaram, também no campo da Cultura, contra esse estado de coisas. 

Alguns dos que viriam a ser depois nomes maiores entre os actores do nosso teatro fizeram parte dos 12 homens do júri criado pelo dramaturgo norte-americano, Reginald Rose e representado pelo TNP. (ver programa do Intervalo). E Rogério Paulo viria a ganhar o prémio de Melhor Actor desse ano com a sua interpretação nesta peça.

Tanto que este espectáculo é muito actual, embora nem sequer aflore a questão da pena de morte, ainda hoje existente nos EUA, como noutros países do mundo, que deixa marcas nos espectadores, porque emociona e principalmente faz reflectir. É um microcosmos humano que Reginald Rose no fundo cria entre aqueles 12 homens e nenhum de nós, penso, deixará de o sentir, nele se revendo, por bons ou maus motivos. No fundo é nisso que reside a intemporalidade desta magnífica obra e se nos emocionamos, eu diria quase até às lágrimas, é por vermos que desta vez a inteligência e o humanismo derrotam a ignorância, o desespero acéfalo, a violência dos que não têm outro argumento.

Eu só posso sugerir que não falhem mais este grande e belo espectáculo do Intervalo Grupo de Teatro, com uma direcção de actores que temos que reconhecer magnífica, aliás como habitualmente naquela casa.




Gostava de terminar com um excerto do texto do Rogério Paulo a propósito do filme do Sidney Lumet e da peça do Reginald Rose:

"Muitas outras condições se têm de considerar, tais como a harmonia, o conceito filosófico, a extensão de pensamento ou o valor estético. Mas se o seu "sentido actual" não é um factor suficiente é com certeza um factor necessário."

É essa "actualidade" que nos faz não querer perder um só espectáculo que seja desta Companhia e de certa maneira, olhando para trás, é o que tem norteado desde sempre a nossa escolha no campo da Cultura, seja no Teatro, no Cinema e mesmo nas outras Artes. Um dia falarei sobre isso.


ADENDA

Depois de escrita esta breve nota verifiquei, por um amigo me chamar a atenção, que esta obra teve também uma adaptação para a televisão, em 1973, com o título de 12 HOMENS EM CONFLITO, realização de um grande nome do teatro, do cinema, da televisão e da cultura, o saudoso Artur Ramos, que juntamente com a sua mulher, Helena Ramos, adaptou o texto de Reginald Rose. Com uma nova geração de actores e, na opinião do meu amigo, sendo também um magnífico telefilme, até em sua opinião superior à versão cinematográfica, de Sidney Lumet.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

HOMEM MORTO NÃO CHORA, António Santos (texto) e Mafalda Santos (encenação)



HOMEM MORTO NÃO CHORA

De António Santos (texto) e Mafalda Santos (encenação)

Visto na Comuna, em Lisboa.
Só para lembrar que não devem perder!
Depois havemos de falar mais sobre este magnífico espectáculo, que nos põe questões que não podemos esquecer se desejamos lutar por um Mundo Melhor, ultrapassando a preocupante situação actual, de recuo civilizacional e de diminuição dos direitos humanos, com perigos vários para a Democracia e para a Liberdade. O individual e o colectivo em questão, e tudo o que daí deriva.
Teatro político, que fala da actualidade, da nossa actualidade. 
Os actores são André Levy, no ministro demissionário e André Albuquerque, no jornalista. 
A companhia é Não Matem o Mensageiro, que se define através das palavras de Bertold Brecht: queremos "estimular o desejo de compreender o mundo e o prazer de o transformar".  
A não perder, em alguma sala para onde forem, depois deste início, em Almada, no Teatro-Estúdio António Assunção (o antigo Teatro Municipal até ser substituído pelo actual Teatro Municipal Joaquim Benite) e em Lisboa, uma das salas da carismática Comuna. 



domingo, 3 de abril de 2016

HUMOR CINÉFILO



Um pouco de bom humor, cinéfilo, julgo que não faz mal. 
Encontrei  a foto no meu arquivo de deambulações lisboetas. 
Lembro-me que vi a cena e não resisti...
O cinema em causa já não existe. 
E que ninguém leve a mal, porque tenho muito respeito pelas crenças íntimas dos outros.