Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

terça-feira, 29 de março de 2016

OLGA, de Jayme Monjardim



Olga, de Jayme Monjardim ***** (5)




Apesar de ser uma obra magnífica, falada em português, tive que a ver fora do circuito comercial (no Festival de Cinema Brasileiro, em Almada)! É o país que temos… Mas consegui!

Desde 2005 que tentava ver esta obra (estreia do realizador na longa metragem), que em 2004 foi o maior sucesso de público no Brasil, (e seria também um sucesso cá, não tenho dúvidas). Aliás o anfiteatro do Fórum Municipal estava quase cheio.

Um filme sobre duas personagens extraordinárias, lutando por um mundo melhor, mesmo com sacrifício das suas vidas. 

Luiz Carlos Prestes, mítico secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro, que em 1935 liderou uma tentativa revolucionária através da Aliança Nacional Libertadora, apoiada pelo Partido Comunista, para derrubar o ditador de tendências fascizantes e inicialmente apoiante do nazismo, Getúlio Vargas. “O Cavaleiro da Esperança”, chamou Jorge Amado a Prestes, numa obra célebre.



Olga Benario (actriz Camila Morgato, numa interpretação inesquecível), alemã, filha de pais burgueses de origem judaica, ainda muito jovem torna-se militante comunista, emigra para a URSS, onde virá a ser destacada pelo Movimento Comunista Internacional para apoiar Prestes no seu regresso ao Brasil em 1935, por quem acaba por se apaixonar, tornando-se sua companheira, de quem tem uma filha, nos escassos anos que vivem juntos até à brutal repressão fascista que se abateu sobre os revolucionários. 


Ambos são então presos em 1936 e nunca mais se verão, porque Olga é entregue à Gestapo, deportada para a Alemanha, presa num campo de concentração onde nascerá a filha, de quem é separada ao fim de poucos meses pelos nazis, mas a criança sobreviverá à guerra. Olga acaba por ser morta no campo de extermínio de Ravensbruck, nas câmaras de gás, em 1942.

Prestes só será libertado em 1945. Após uma vida acidentada de revolucionário ao longo de grande parte do século XX, participando e assistindo a muitas vitórias e derrotas dos movimentos populares em todo o mundo, morre no Rio em 1990.

O filme, embora tendo como pano de fundo os conturbados acontecimentos históricos da época, em especial a vida nos campos de concentração e extermínio nazis, centra-se na curta existência de Olga, atravessada pelo momento de felicidade pessoal que constituiu o seu relacionamento apaixonado com Prestes. Porém ambos nunca abdicam dos seus ideais revolucionários de luta por um mundo melhor e mais justo, apesar da paixão que os une. 



Olga, em especial, atravessando anos de isolamento e tortura nos campos de concentração nazi, desde a deportação a que o governo brasileiro a condenou em 1936, apesar do intenso movimento internacional pela sua libertação, não renega nunca os seus ideais e o amor por Prestes e pela filha – Anita Garibaldi Leocádia, a qual virá a ser entregue, perante a enorme pressão da opinião pública internacional à mãe de Prestes, Leocádia Prestes (outro grande desempenho da grande actriz brasileira, do teatro e do cinema, Fernanda Montenegro).

O filme, que se baseia no romance homónimo de Fernando Morais (traduzido em 20 países, com mais de um milhão de exemplares vendidos). 



Apesar da sua longa duração (cerca de 2 horas e meia) vê-se sem uma única quebra de interesse, emocionante e comovedor por vezes.

A não perder se voltar a ser exibido.

***** (5)

Fórum Romeu Correia – Auditório Fernando Lopes Graça, Almada, 21jul06

ADENDA em 29-Mar-2016

“Minha indignação com a sordidez do noticiário do Jornal Nacional, agora à noite, fez subir a pressão. É o primeiro troco dos Marinho no Lula depois do cacete sem dó que o ex-presidente deu na Globo, sábado à noite, na festa do PT no Rio de Janeiro”, postou o escritor, que também já havia decidido não dar entrevistas à Veja
O jornalista e escritor Fernando Morais publicou, em seu perfil no Facebook, um texto com duras críticas à Rede Globo. Indignado com a perseguição da emissora com o ex-presidente Lula, o autor de livros como Olga e Chatô, o Rei do Brasil decidiu não dar mais entrevistas a nenhum veículo do grupo.




quinta-feira, 24 de março de 2016

HOMENAGEM NA CINEMATECA A HENRIQUE ESPÍRITO SANTO

HOMENAGEM A HENRIQUE ESPÍRITO SANTO

Dirigente cineclubista nos anos de chumbo do fascismo e depois, ainda antes que a liberdade fosse conquistada, produtor de cinema e depois nos anos da liberdade que se seguiram ao 25 de Abril. Decano dos produtores de cinema no nosso País e responsável por alguns dos melhores filmes que cá se fizeram. Uma vida dedicada à luta por um Mundo mais justo e fraterno.






Homenagem ao Henrique e à Guida (na foto no dia 30 de Abril de 1974 no Aeroporto de Lisboa, aguardando a chegada de Álvaro Cunhal a Portugal, poucos dias depois do derrube do regime fascista).



E na cerimónia de entrega do Prémio de Carreira pela Academia Portuguesa de Cinema, no Centro Cultural de Belém, em 2014.

Assistimos ao encontro com ele na Cinemateca Portuguesa, integrado no Ciclo de Homenagem que a Cinemateca organizou, onde foi referido por todos os participantes e alguns assistentes que quiseram intervir, da importância que o movimento cineclubista teve na resistência ao fascismo. Posso acrescentar que, era eu então estudante universitário - anos 50 e 60, fui dos para quem o cineclubismo, juntamente com as Associações de Estudantes, mais que a Universidade, foram fundamentais no esclarecimento da situação política no nosso País e  a nível mundial e de uma tomada de posição decisiva na luta contra a exploração e a repressão. 

Ao procurarmos nos exemplares que tenho da Seara Nova dos anos 50 as críticas que então escreveu para aquela revista de esquerda, na sua luta constante com a tenebrosa censura fascista, encontrámos uma crítica a "LONELY ARE THE BRAVES" (Fuga sem Rumo), filme dirigido por David Miller e com argumento do grande Dalton Trumbo, um dos nomes do cinema implacavelmente perseguidos pelo comité dirigido por Joseph McCarthy e Richard Nixon durante de um períodos mais fascistas da política nos EUA. Curiosamente está em exibição neste momento na nossa cidade um filme sobre Dalton Trumbo, que chegou ao ponto de ter que assinar com outros nomes os seus trabalhos em Hollywood.




Adenda:

excerto do que escrevi a propósito da sessão de homenagem a José Fonseca e Costa, realizada em 9-Out-2015, no Intervalo Grupo de Teatro, com a presença do grande realizador, embora já muito doente.
(...)

Poucos dos espectadores desta noite cultural se terão dado conta (e o homenageado só no final) da presença entre os que esgotaram o auditório Lourdes Norberto, de outro nome grande do cinema português, o decano dos produtores portugueses e às vezes também actor (como no magnífico "Tabu", de Miguel Gomes), Henrique Espírito Santo. É que ele participou nos anos 50 e 60, com José Fonseca e Costa, no movimento cineclubista, tendo ambos feito parte da mesma direcção do Cine-Clube Imagem, e pouco depois ambos seriam presos pela PIDE, acusados de "actividades subversivas", conduzidos ao Aljube, em trânsito para Caxias, onde Henrique Espírito Santo estaria  um ano e meio. Mas o fascismo não os conseguiu destruir ou amedrontar e ambos participaram nos primeiros projectos de José Fonseca e Costa no cinema, nomeadamente na curta-metragem "Regresso à Terra do Sol", realizada em Angola (1967), donde o realizador é natural, e da longa-metragem já citada "O Recado" (1971), nas quais Henrique Espírito Santo foi o Director de Produção. Ambos fariam depois notáveis carreiras, cada um na sua especialidade, e tendo o segundo colaborado nalgumas das obras do realizador, nomeadamente em "Balada da Praia dos Cães" e "Cinco Dias Cinco Noites". 






(baseado em notas que publiquei no facebook, antes e depois da homenagem na Cinemateca, em 26-Fev-2016)

quarta-feira, 23 de março de 2016

CLARABÓIA, de José Saramago, com encenação de Maria do Céu Guerra



A PROPÓSITO DE "CLARABÓIA"

José Saramago, um "escritor tardio" segundo alguns (posso rir?), teria pouco mais que trinta anos quando decidiu tentar publicar este que seria o seu primeiro romance, mas que um editor ignorante reteve na gaveta durante décadas (o original, dactilografado, estava exposto no átrio de A Barraca), e só voltando às mãos do escritor já ele havia recebido, em 1998, o Prémio Nobel da Literatura, acabando por ser, por decisão de Saramago, deixado para a posteridade. Felizmente que a Fundação e Pilar del Rio resolveram em boa hora publicar, apoiando também esta adaptação ao teatro.



Na sua aparente simplicidade estilística é um belíssimo romance que já faria antever, se tivesse conhecido então a luz do dia, o grande escritor em que Saramago se viria a tornar.



Através do microcosmos de um prédio urbano, com seis apartamentos, Saramago mostra-nos o que foram esses tempos sombrios em que viveu a sua juventude (e nós também) e de como o medo que o fascismo inculcou nas pessoas as tornou por vezes medíocres, quando não até capazes de malvadezas contra o seu semelhante, como a denúncia, quase sempre falsa, por mera vingança. Mas também de esperanças e anseios que nesses tempos obscuros dificilmente podiam singrar.






Quando ouço alguém afirmar que não consegue ultrapassar a complexidade do estilo de escrita de Saramago, em fase mais adiantada da sua obra, onde nos deu as suas grandes obras-primas e que tem como principal característica a ausência de pontuação explícita, não deixo de sorrir. É que a leitura atenta também exige esforço do leitor para compreender o que o escritor nos pretende contar. A verdade é que depois de interiorizado o estilo do escritor as suas obras se lêem de um fôlego e com grande prazer tal a sua intensidade (como de outros também enormes autores, como Faulkner, por exemplo). Confesso que "devorei" grande parte da obra do nosso Nobel. 



Obviamente que não podemos ignorar também a existência, em mentalidades retrógradas ou fundamentalistas, de preconceitos contra Saramago, baseados exclusivamente no facto de ele ter sido comunista a partir de muito jovem e continuando, em prova admirável de coerência e coragem, até ao fim dos seus dias. A esse respeito nunca será demais lembrar a perseguição que lhe foi movida por gente como o ex-presidente de triste memória, Cavaco Silva e de como este, quando primeiro-ministro, o tentou ostracizar e prejudicar, servindo-se do seu ministro Santana Lopes e de um peão político de nome Sousa Lara (este que viria a ficar ligado depois ao escândalo de corrupção da Universidade Moderna, que provocou o seu fecho definitivo e não mais que apenas algumas prisões...). Isto a propósito de um dos mais belos romances do nosso Nobel, "O Evangelho Segundo Jesus Cristo". 

Não tendo todavia conseguido evitar o reconhecimento universal do escritor que, finalmente, em 1998, recebeu o Prémio Nobel de Literatura, Cavaco viria a faltar vergonhosamente, como Presidente da República, às cerimónias públicas do funeral do nosso único Nobel a solo, que constituíram um grande momento de manifestação de apreço popular, principalmente entre a população alfabetizada.

Não ignoramos que este preconceito contra o nosso Nobel e principalmente contra a sua obra é no fundo um reflexo mais do ódio de classe dos poderosos (que os seus acólitos se aprestam a secundar - Cavaco) contra os que ousam lutar pela justiça social e pela liberdade.



Não pretendo alongar-me embora o romance e a sua adaptação teatral o merecessem. Fica para uma outra altura.

Gostaria, e muito, que os meus amigos (as) não deixassem de ver o espectáculo, chamando-lhes a atenção para meia dúzia de aspectos que a mim me tocaram especialmente.

As personagens que, em minha opinião, são as mais saramaguianas - o sapateiro Silvestre e a prostituta Lídia, destacando-se num plano moral e ético, e as extraordinárias interpretações dos respectivos actores (João Maria Pinto e Rita Lello). Embora deva dizer que para mim não houve falhas em todo este belíssimo elenco (até com uma estreia de todo inesperada, Hélder Costa!) e se torna obrigatória uma referência à sua encenadora, Maria do Céu Guerra, que também como actriz atinge o brilhantismo, em minha opinião, em duas personagens díspares. Relembrar especial a cena final de Lídia com a Mãe! Pena que alguns risos alvares entre alguns assistentes, revelando uma total incompreensão do que se passava em palco, tivessem acontecido no dia em que assisti ao espectáculo. Foram notas dissonantes numa sala cheia a transbordar que teve como remate final, depois de corrido o pano, nos surgirem na ribalta todos os actores, a falarem-nos de como tinham visto as suas personagens e trabalho. Foi um momento raro e inesquecível!


Claro que é impossível esquecer a beleza do cenário de José Costa Reis, imprescindível para permitir esta encenação, ao mostrar-nos o interior do prédio e os seus moradores. Esse facto torna este espectáculo único, quando visto na velhinha sala do Cinearte, que aliás atravessou praticamente toda a nossa existência, já um pouco longa, entre muito cinema e teatro.

(texto publicado na minha página do facebook, quando vi a peça, em 5-Mar)




O CASO SPOTLIGHT (Spotlight), de Tom McCarthy

FILMES PARA OS OSCARES (II)

SPOTLIGHT (O Caso Spotlight), de Tom McCarthy



"Partindo de uma história verídica, O Caso Spotlight devolve honradez e heroísmo à profissão de jornalista, que em tantos outros filmes tem sido exposta como um antro de abuso de poder sem escrúpulos e maleitas para a sociedade. O argumento original baseia-se na história de uma equipa de investigação do Boston Globe que investigou e denunciou abundantes casos de pedofilia na Igreja Católica, o que afectou estruturalmente os EUA. (...)" (M.Halpern, JL)




Comentário: A grande admiração que tenho pelo Jornalismo sério e empenhado na investigação, faz com que goste muito das obras que o abordam. Se me perguntarem quais os grandes nomes no Cinema que têm grandes obras sobre o tema lembro-me imediatamente de Orson Welles, Richard Brooks, Fellini, Zurlini, Rosi, Risi, Ettore Scola, Antonioni, Martin Ritt, Sidney Lumet, Robert Rossen, Woody Allen e Billy Wilder (The Front Page) e a lista continuaria.

SPOTLIGHT ganhou o Óscar para Melhor Argumento Original. Mais que merecido!





A QUEDA DE WALL STREET (THE BIG SHORT), de Adam MacKay



FILMES PARA OS ÓSCARES (I)

THE BIG SHORT - A QUEDA DE WALL STREET

de Adam MacKay, adaptando a obra homónima de Michael Lewis (The Big Short - A Grande Aposta)

Especulação, corrupção, crime social!


"(...) É o grande filme político do ano. E a academia, esmagadoramente democrata, gosta de filmes políticos, mas talvez não o suficiente para lhe dar o Oscar, (...) Há uma estética próxima dos documentários de Michael Moore, aplicada à ficção. (...) Mostra uma Wall Street dominada por excêntricos invertebrados bandos de loucos, autistas maníacos pelo lucro, sem quaisquer princípios de ética. (,..)" (M.Halpern, JL)

Comentário: 
Obviamente esses são os instrumentos que o grande capital e a grande finança manobram como querem. 

Não será uma obra claramente anti-capitalista mas antes uma denuncia dos excessos a que o capitalismo em crise, cíclica, conduz, provocando milhões de vítimas, mas que para eles não passam de números... 

A obra, embora se limite aos especuladores menores, que gravitam na órbita do sistema, embora às vezes enriqueçam, e praticamente nunca nos mostre os que efectivamente comandam e ditam as decisões políticas que permitem que tudo continue na mesma, não deixa de impressionar os espectadores. Nem chegamos sequer a ver os émulos dos famigerados Constâncios e Carlos Costas, a não ser em imagens fugazes 



No entanto o filme vai dizendo meia dúzia de verdades sobre quem acaba por pagar de facto as crises capitalistas, ou seja, os trabalhadores e as massas populares. 
Com ironia a obra termina dizendo que o resultado da especulação, corrupção e vigarice, nos USA foi o fecho de muitos dos grandes bancos e a prisão de dezenas de banqueiros, mas acrescenta logo a seguir que essa afirmação (que aparece escrita no ecrã) é uma brincadeira, isto é, concluindo que ainda não foi desta que o sistema capitalista ruiu. 

E adianta que o jovem consultor, que no filme se apercebe muito cedo do perigo do desvario da economia assente nas hipotecas do imobiliário e na especulação sobre elas construída, acaba no fim investigado pelo FBI como um inimigo público... é a "democracia" no sistema capitalista! 

E não é certamente por acaso que ao longo da obra, Cuba aparece referida por alguns dos personagens como algo desejável, nem que seja pela sua comida...

Em conclusão, uma obra a não perder e compreende-se a razão da pouca simpatia por ela dos críticos de cinema nos Media dominantes no nosso País.


Nota à posteriori: foi com agrado que verifiquei o acerto da escolha em Hollywood. Os dois Oscares para os Argumentos foram justamente para THE BIG SHORT (A Queda de Wall Street) (o adaptado) e SPOTLIGHT (O Caso Spotlight) (o original). Desta vez só me resta aplaudir!




O PRINCIPEZINHO, de Saint-Exupéry, com encenação de Miguel Assis

No Fórum Luísa Todi, em Setúbal, vi essa pequena maravilha que é O PRINCIPEZINHO, adaptação duma obra-prima universal, o conto homónimo de Saint-Exupéry, criada pelo ESPELHO MÁGICO (GATEM), especialmente para o público infantil, mas que acaba por nos tocar a todos.




"Um pequeno príncipe  de cabelo loiro e casaco azul resolve deixar o seu planeta, B612, em busca do segredo para viver feliz com a sua flor... Pelo caminho procura ajuda nos habitantes de outros planetas, mas é na terra que encontra o verdadeiro sentido para a palavra amizade e descobre que afinal, o mais importante é aquilo que se vê com os olhos da alma, ou seja, o coração...
O grupo de Animação e Teatro Espelho Mágico (GATEM) produziu o espectáculo poético para toda a família, e muito especialmente para todos os adultos que se  tornaram "gente crescida" sem esquecer a criança que foram. Uma obra intemporal, das mais traduzidas em todo o mundo que nos convida a viajar pelo sonho e da qual retiramos sempre um novo ensinamento através de mensagens simples e profundas como a própria vida..." 
Adaptação literária e encenação: Miguel Assis
Música: António Carlos Coimbra
Poética: Luís Filipe Estrela
Cenografia e figurinos: Céu Campos
Caracterização: Carolina Macedo
Desenho e operação de luz: José Santos
Apoio Técnico: Ricardo Pita e João Teixeira
(do programa do Fórum Luísa Todi). 




Na foto está também um simples espectador do Teatro, e da Cultura em geral. às vezes apaixonado, é verdade (quando é muito bom, como é o caso). 
Obrigado Ricardo Cardoso, obrigado Céu, obrigado GATEM.

(textos publicados no facebook, quando vi o espectáculo, em 7-Fev. 

ILUSÃO CÓMICA, de Pierre Corneille, com encenação de Manuel Jerónimo



SUGESTÕES DE CULTURA -
ILUSÃO CÓMICA, de Pierre Corneille, com encenação de Manuel Jerónimo





Agora que a Cultura está de novo na ordem do dia - 1% para a Cultura é imperativo, afastada que foi a política de direita do Parlamento, com a sua incultura e, mais do que isso, a sua anti-cultura. 

E a propósito, recomenda-se aos/às amig@s a visão de mais um magnífico espectáculo de teatro, no Intervalo Grupo de Teatro, em Linda-a-Velha, no Auditório Municipal Lourdes Norberto, numa adaptação daquela que segundo alguns críticos será uma das obras-primas do grande dramaturgo francês Corneille (Rouen 1606 - Paris 1684), contemporâneo de outros dois génios da dramaturgia universal, Racine e principalmente Molière. 



Sobre a peça agora em cena no Intervalo só vos posso adiantar que é uma belíssima metáfora sobre o Teatro, que nos faz sair daquele espaço com um grande sorriso, mesmo que a peça.de Corneille acabasse em tragédia. Parafraseando o director da Companhia, Armando Caldas acontece mais um momento mágico que não vamos esquecer, naquela carismática sala.
A interpretação das actrizes e actores do Intervalo é como sempre soberba. Mas é justo salientar o brilhantismo do desempenho de José Coelho e Miguel de Almeida nos dois principais personagens da peça. 


Apetece sair daquele Auditório Municipal com mais um grito de VIVA O TEATRO! VIVA A CULTURA!



Nota: a foto da assistência naquele teatro é uma foto de arquivo, feita em Outubro de 2015, no decorrer da Semana Cultural, neste caso no dia da Homenagem ao muito saudoso José Fonseca e Costa, no último acto público em que participou, segundo suponho. (foto oferecida pelo Intervalo Grupo de Teatro)

(texto publicado na minha página do facebook depois da visão deste espectáculo, em 5-Fev)

45 YEARS (45 ANOS), de Alexander Haigh



45 YEARS, de ALEXANDER HAIGH

A propósito de um excelente filme britânico, 45 ANOS (45 YEARS), realizado por Alexander Haigh, que fala de um casal em vésperas de celebrar com os amigos o seu 45º aniversário de casamento e que inesperadamente é assaltado por recordações de acontecimentos de que nunca havia falado antes. 

Tudo admiravelmente filmado e contado, em diálogos magníficos, que nada têm a ver com a mediocridade das séries e telenovelas televisivas, britânicas ou portuguesas. 

Dois grandes actores britânicos representam muitíssimo bem as personagens do filme: Charlotte Rampling e Tom Courtenay (Sir). Vale a pena ver. 

Aos que gostam de cinema e tenham disponibilidade, sugiro a visão desta obra e depois digam-me se gostaram ou não. Eu gostei muito.


AINDA A PROPÓSITO DO FILME "45 ANOS" (45 YEARS)

Na publicação de outro dia, sobre esse belíssimo filme, não tive tempo de escrever duas ou três coisas que julgo merecerem ser conhecidas (ou relembradas).
O argumento do filme é baseado numa novela de um poeta inglês, David Constantine (71 anos), que em entrevista disse que a ideia lhe tinha vindo duma notícia que leu na adolescência, e que o tinha impressionado, sobre o corpo de uma rapariga que havia sido descoberto praticamente intacto, envolvido no gelo de um glaciar alpino. 

Constantine e posteriormente Haigh construíram histórias cujo maior interesse tem obviamente a ver com o comportamento humano a partir da memória de um acontecimento que se julgava definitivamente terminado e que um corpo conservado no gelo vem lembrar. 





Sobre a actriz Charlotte Rampling (Sturmer, Inglaterra, 5-Fev-1946), cujos trabalhos no cinema sempre nos surpreenderam pela grande qualidade, vale a pena citar a sua participação em "OS MALDITOS" (La Caduta degli Dei) (1959) de um grande mestre, Luchino Visconti, que mostra como a ascensão do fascismo, particularmente do nazismo, se deve sempre aos apoios da grande burguesia e do grande capital a esta ligado, que se servem dos extremistas para conter as lutas dos trabalhadores em situações de grande crise. 







Ou "RECORDAÇÕES" (Stardust Memories) (1980), uma das obras minhas preferidas de Woody Allen, sobre a fascinação que três mulheres exercem sobre um realizador de cinema, "O VEREDICTO" (The Veredict) (1982), de Sidney Lumet, um filme profundamente humanista de um grande cineasta, sobre a reabilitação de um homem e, entre muitos outros, um dos seus filmes mais perturbantes, "MAX, MEU AMOR" (1986), do cineasta japonês Nagisa Oshima, grande provocador num país muito tradicionalista e conservador como é o Japão, (lembremos a propósito o seu famoso "Império dos Sentidos", em que era o sexo o leif-motif). Max é um chimpanzé por quem a mulher de um diplomata se apaixona. Foi filmado em França porque no seu país talvez não fosse possível...



Mas lembrar ainda que tivemos o raro prazer de ver em palco Charlotte Rampling em Portugal, num espectáculo teatral no âmbito do Festival de Teatro de Almada, de 2010, no Teatro Nacional D.Maria II, e na altura comentei para os amigos:

“YOURCENAR/CAVAFY”, com Charlotte Rampling, concepção de Jean-Claude Feugnet

Outro espectáculo admirável (deste Festival), que deu primado às palavras, por vezes acompanhadas à guitarra por Varvara Gyra. Foram ditos textos de Marguerite Yourcenar, a grande escritora francesa e do poeta grego Constantin Cavafy, falecido em 1933. Os poemas de Cavafy foram também ditos na língua original, com a ideia de os espectadores fruírem a musicalidade dos poemas tal como o poeta os concebeu. A actriz, Charlotte Rampling, que tantas memórias cinéfilas suscita, de Luchino Visconti a François Ozon, foi extraordinária na leitura.
(Jul-2010)



ADENDA

A exibição em Lisboa de um filme (45 Years) com a Charlotte Rampling, grande actriz inglesa fez-me lembrar um dos seus filmes mais perturbantes, "MAX, MEU AMOR" (1986), do cineasta japonês Nagisa Oshima, grande provocador num país muito tradicionalista e conservador como é o Japão, (lembremos a propósito o seu famoso "Império dos Sentidos", em que era o sexo o leif-motif). Max é um chimpanzé por quem a mulher de um diplomata se apaixona. Foi filmado em França porque no seu país talvez não fosse possível...



O filme é de 1986 mas bem mais actual é a obra O TERCEIRO CHIMPANZÉ, de Jared Diamond, cuja leitura me é recomendada pelos amigos:

"Sentimos necessidade intelectual de compreender de onde viemos e para onde vamos. Todas as sociedades humanas têm profunda curiosidade de entender suas origens e respondem a esse desejo com a sua própria história da Criação, desde a explicação bíblica de Adão e Eva, que religiosamente satisfaz à maioria da população cristã, até à Lenda dos Três Chimpanzés. Esta é a história científica da nossa era.
Ela deixa claro em que lugar nos situamos no reino animal. Somos primatas, o grupo de mamíferos que inclui os macacos e os primatas antropoides: gibões, orangotangos, gorilas e chimpanzés. Somos mais similares a estes do que a aqueles, confinados ao Sudeste Asiático. Os gorilas e chimpanzés existentes e os fósseis humanos estão confinados à África.
O DNA resolveu problema no qual a anatomia falhou: as relações entre humanos, gorilas e chimpanzés. Os humanos diferem dos chimpanzés comuns e dos pigmeus em cerca de 1,6% do nosso DNA, portanto, compartilham 98,4%. Os gorilas diferem um pouco mais de nós, em cerca de 2,3%. Logo, devem ter divergido da nossa árvore genealógica antes de nos separarmos dos chimpanzés comuns e dos pigmeus. Os nossos parentes mais próximos são os chimpanzés, não os gorilas.
A capacidade de falar, que os humanos têm, mas não os chimpanzés, certamente depende de diferenças nos genes que especificam a anatomia das cordas vocais e as conexões cerebrais. Entretanto, as diferenças comportamentais entre um humano e outro estão sujeitas a enormes influências ambientais, e o papel dos genes nestas diferenças individuais é muito controverso."


(notas que escrevi na minha página do Facebook, aquando da minha visão do filme, no Cinema Ideal, Lisboa, em 5-Jan)