Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

domingo, 25 de dezembro de 2016

BALANÇO TEATRAL de 2016 - As minhas preferências



Devo dizer que me faltou ver muita coisa nos palcos do nosso País, em 2016. E algumas estariam certamente aqui. Mas estes espectáculos, entre os que vi, foram os de que mais gostei por razões várias e muito diversas até. Mas, em minha opinião, sempre em espectáculos de qualidade superior. Como é habitual escolhi os 10 preferidos, com pena como sempre de deixar outros de fora.

A minha lista:

CLARABÓIA, de José Saramago, enc. Maria do Céu Guerra, pel' A Barraca

12 HOMENS EM FÚRIA, de Reginald Rose, enc. Armando Caldas, pelo Intervalo Grupo de Teatro

FREI LUÍS DE SOUSA, de Almeida Garrett, enc. Rogério de Carvalho, pela CTAlmada

DE AÇO E SONHO, pelo Teatro Extremo

HEDDA GABLER, de Ibsen, enc. Juni Dahr, pelo Viojoner Teater, Oslo (FTAlmada)

A GAIVOTA, de Anton Tchekov, enc. Thomas Ostermeier, pelo Théâtre Vidy-Lausanne (FTAlmada)

TRÓPICO DEL PLATA, de e enc. Rubén Sabadini, Vera Vera Teatro, Buenos aires (FTAlmada)

O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS, de José Saramago, enc. Helder Costa, pel' A Barraca

A ÚLTIMA VIAGEM DE LÉNINE, de António e Mafalda Santos, pelo Grupo de Teatro Não Matem o Mensageiro, com André Levy

A NOITE DA LIBERDADE, de Ödön von Horváth, enc. Rodrigo Francisco, pela CTA



OBS: Assim que tiver tempo tempo acrescentarei as razões das escolhas






BALANÇO CINÉFILO de 2016 - As minhas preferências (10+1)



As preferências de 2016: a ideia eram ser apenas 10. A visão à última hora da obra de Wenders, e ainda poderá aparecer mais alguma nas últimas estreias, forçou-me a incluir mais uma e por isso ainda não decidi quais vão ser as 10 definitivas

A lista:

45 YEARS (45 Anos), de Andrew Haigh, com Charlotte Rampling e Tom Courtenay

THE BIG SHORT (A Queda de Wall Street), de Adam McKay, com Christian Bale, Steve Carell

LA LOI DU MARCHÉ (A Lei do Mercado), de Stéphane Brizé, com Vincent Lindon e Karine de Mirbeck

CINZENTO E NEGRO, de Luís Filipe Rocha, com Joana Bárcia e Filipe Duarte

WHERE TO INVADE NEXT (E agora invadimos o quê?), de Michael Moore

MARAVIGLIOSO BOCCACCIO (Maravilhoso Boccaccio), de Paolo e Vittorio Taviani

SNOWDEN, de Oliver Stone, com Joseph Gordon Levitt e Sheilene Woodley

JULIETA, de Pedro Almodóvar, com Emma Suárez e Adriana Ugarte

CAFÉ SOCIETY, de Woody Allen, com Steve Carell e Kristen Stewart

I, DANIEL BLAKE (Eu, Daniel Blake), de Ken Loach, com Dave Johns e Hayley Squires

LES BEAUX JOURS D'ARANJUEZ (Os Belos Dias de Aranjuez), de Wim Wenders, com Sophie Semin, Reda Kaleb, Jenz Harzer, Nick Cave e Peter Handke (também autor do texto)

OBS: quando tiver tempo para as escrever acrescentarei a esta nota as razões destas preferências




quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

LES BEAUX JOURS D' ARANJUEZ (Os Belos Dias de Aranjuez), de Wim Wenders

Não se pode esperar que esta recentíssima obra de Wim Wenders, estreada no Festival de Cinema de Veneza deste ano, venha a ter grande sucesso junto do público ou da crítica dominante. 

No entanto trata-se de um filme belíssimo para quem aprecie a chamada Sétima Arte. 
É que Wim Wenders pegou num texto quase abstracto, escrito para o teatro pelo dramaturgo alemão Peter Handke, seu velho conhecido. E o resultado é puro fascínio, com os dois principais personagens, uma mulher e um homem, Sophie Semin e Reda Kateb, conversando perante nós enquanto a câmara se movimenta suavemente. 

Enquanto Sophie fala dos seus amores e desamores, indo até a pormenores da relação física, Kateb descreve a natureza luxuriante que os rodeia, embora nos arredores de Paris mas com memórias do belíssimo parque de Aranjuez. Por ser mais discreto ou porque essa é condição atávica do ser masculino? 

Wenders introduz no entanto uma diferença em relação à peça, porque cria o personagem do escritor (Jenz Harzer) e sendo embora discutível o que vemos, para mim o casal é apenas imaginação. Harzer vai pontuando a peça com músicas tocadas numa velha juke box e numa delas surge até ao vivo Nick Cave, numa das suas mais emblemáticas canções, tocando piano e cantando.

E para finalizar é o próprio Peter Handke, o dramaturgo,  que surge em silhueta no jardim, aparando as sebes.

Belíssima obra que suscita vontade de a rever. A dicção dos actores é aliás espantosa.

Adenda: 
Sophie Semin a bela e magnífica actriz desta obra é a companheira de Peter Handke, o escritor, dramaturgo e cineasta autor da peça original e que aliás surge também num pequeno papel, numa homenagem de Wim Wenders! 
Handke teve, no final dos anos 90, a coragem de se manifestar publicamente contra o ataque, a invasão e a destruição da Jugoslávia pela NATO, ataque que causou milhares de vítimas numa agressão que se manteve até à conquista dos Balcãs como nova área de influência do imperialismo norte-americano e dos seus acólitos europeus. Não tenho seguido a sua trajectória política e social mas esse facto torna-o ainda mais credor da nossa admiração.






NOITE DA LIBERDADE, de Ödön von Horváth



NOITE DA LIBERDDADE - de Ödön von Horváth

O grande dramaturgo e escritor de língua alemã, nascido no Império Austro-Húngaro em Susak, Rijeka, em 9-Dez-1901 e falecido em Paris em 1-Jun-1938, levou grande parte da vida a alertar para o perigo do fascismo, particularmente do nazismo, que viu nascer no seu país e pouco a pouco avançar como uma peste, como um mal de consequências imprevisíveis que ele, lamentavelmente falecido muito precocemente, não chegou a assistir em todos os seus efeitos que causaram milhões de mortos por todo o mundo.

No nosso País temos tido a fortuna de assistir a algumas das suas peças mais representativas, algumas delas em Almada, pela mão da Companhia de Teatro de Almada.

Mas mais que descrever as manifestações nazis que pouco a pouco influenciavam parte do seu povo - o racismo, a xenofobia, o egoísmo social, o nacionalismo, o desprezo pela condição feminina, o ódio às minorias - o autor ridiculariza-as por vezes até, Horváth alertou para a capitulação burguesa perante os fascistas, em quem a grande burguesia via apenas possíveis aliados para conter e reprimir as aspirações sociais do povo, ajudando a manter a exploração do trabalho em que assenta a sociedade capitalista.

Em 1933 o partido nazi, chefiado por Hitler, vence as eleições e ele é nomeado chanceler.

E a partir daí são conhecidos os factos históricos que terminariam com o desencadear da 2ª Grande Guerra Mundial e os anos de horror entre 1938-45, embora já antecedidos da preparação para a guerra pelos fascistas, em Espanha, onde as hordas fascistas de Franco apoiadas pelos nazis, destruiram a novel República Espanhola no meio de um horror de crimes e assassinatos.

Esta peça de Horváth, cujo título original é "Noite Italiana", em apoio à luta anti-fascista em Itália, contra Mussolini e seus sicários, foi escrita em 1929.

Um pouco antes portanto da chegada dos nazis ao poder na Alemanha, quando o partido nazi era ainda apenas uma ameaça e os partidos burgueses julgavam poder contê-la, apesar dos alertas dos comunistas, que defendiam a necessidade da criação de uma verdadeira frente popular contra o fascismo.

No final da peça imaginada por Horváth os jovens comunistas, que haviam sido expulsos do partido socialista dominado por políticos burgueses por apelarem à luta anti-fascista, surgem em defesa destes perante o ataque dos nazis. 

Sabemos no entanto que o anti-comunismo desses dirigentes prevaleceu nos anos seguintes, dando força aos nazis para atacarem a União Soviética, onde felizmente foram finalmente derrotados. Horváth já não viveu infelizmente para testemunhar isto, vitimado em Paris, onde se refugiara, por uma árvore em queda nos Campos Elíseos durante uma manhã tempestuosa.
A encenação de Rodrigo Francisco, pretende ligar a acção da peça à preocupante situação política e social dos nossos tempos, com o fascismo de novo a crescer na Europa e nos EUA (Trump) mas sem alterar o texto original de Horváth, o que implica um mínimo de conhecimentos por parte dos seus espectadores. 
A esperança de quem vê a peça é que ela seja bem entendida pela maioria dos seus espectadores. 

A ilusão de que o capitalismo se pode regenerar, tornando-se humano, é um erro que foi fatal em várias ocasiões ao longo do século passado e que não gostaríamos de ver repetida neste novo século pelo atraso que inevitavelmente trará para a luta dos povos por um mundo melhor, por uma sociedade socialista, em que a exploração do homem pelo homem, a discriminação e a pobreza sejam erradicadas.

O trabalho do encenador e actores é magnífico, com destaques vários, de Guilherme Filipe, no político burguês, a Tânia Guerreiro, na jovem revolucionária Anna, passando por Duarte Guimarães (Karl), João Tempera (Martin), Maria Frade, Marques de Arede e todos os restantes.

A não perder se vier a ser repetido na próxima época!






quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

EU, DANIEL BLAKE (I, Daniel Blake), de Ken Loach

I, DANIEL BLAKE (Eu, Daniel Blake) 

Mais uma belíssima e importante obra porque fala dos tempos que atravessamos, do grande cineasta inglês Ken Loach.
É em Newcastle que assistimos à tragédia de mais um trabalhador doente e desempregado, que as teias do sistema capitalista, que como bem sabemos só favorece o capital, prende e arrasta até ao limite. 
Sob a capa de um simulacro de serviço social assistimos ao calvário de um homem cujo apoio, que deveria ser obrigatório numa sociedade justa (mas isso claro só no socialismo), é negado.
Nessa trajectória encontra outros seres humanos em idêntica situação a quem procura ajudar.
O filme também mostra algo extremamento doloroso de ver, mas bem real, como sabemos por experiência própria no nosso País, que é como o sistema capitalista se serve de alguns miseráveis a  quem explora para oprimir os outros trabalhadores.
Interpretações brilhantes de Dave Johns, como Dan, e da jovem actriz Hayley Squires, como Katie,  a jovem mãe que, encostada à parede, vê na prostituição o último recurso para salvar os dois filhos da fome. 
Retrato doloroso do Reino Unido Século XXI (United Kingdom), mas que é também o duma Europa capitalista, situação que está a abrir caminho de novo, como nos anos 30 e 40 do século passado, a um populismo, racista e xenófobo, que em geral conduz ao fascismo como forma última que o capital tem de tentar controlar e esmagar as massas trabalhadoras.

Lembrar ainda que o primeiro filme que vimos deste grande cineasta foi o famoso KES (Os Dois Indomáveis), de 1969, passado na região mineira do Yorkshire, uma vez mais numa misérrima situação social de então a servir de pano de fundo à história de um miúdo e do seu falcão, Kes. Belíssima obra que logo nos alertou, mesmo que a contra-corrente, para a existência de um novo grande realizador. 
Não há muito vimos entre as suas últimas obras, o extraordinário documentário, "O Espírito de 45" (Spirit of '45), sobre a trajectória do seu país, entre e após as duas grandes guerras mundiais, mostrando com bastante clareza como se processou a recuperação económica pelas mãos de uma política de esquerda no pós segunda Grande Guerra, após a derrota eleitoral do político de direita, Churchill e de como o retorno da política de direita, através do dito neo-liberalismo, da inominável e fascizante Margaret Thatcher, veio nos anos 80 destruir os direitos sociais do povo britânico e entregar de novo o poder ao grande capital, envolvendo o país em novas guerras - Malvinas, invasão e destruição da Jugoslávia para controlo dos Balcãs, Afeganistão, Médio Oriente, etc, etc, num prenúncio de um 3º conflito à escala mundial, em que o imperialismo nazi é substituído pelo norte-americano, mas sempre com o grande capital por trás a comandar.

NÃO PERCAM! 
E não liguem à subtil desvalorização que é feita à obra e ao seu autor pela maioria da crítica de cinema dominante, aliás paga pelo grande capital...







terça-feira, 20 de dezembro de 2016

SUITE QUEBRA-NOZES, pelo GATEM



NO 20º ANIVERSÁRIO DO GATEM - GRUPO DE TEATRO ESPELHO MÁGICO - No Fórum Municipal Luísa Todi, em Setúbal (27-Nov)

Bela dramaturgia de um famoso conto de E.T.A.Hoffmann, O QUEBRA NOZES E O REI DOS RATOS. 

Relembrar, para os que já se esqueceram, que o escritor é o dos CONTOS DE HOFFMANN, obra-prima musical de Offenbach, que depois foi genialmente adaptada ao cinema pela famosa dupla Michael Powell e Emeric Pressburger. (esta é para os cinéfilos, porque foi a partir desse filme que vi nos anos 50 do século passado que passei a admirar o trabalho desses dois grandes cineastas) 
Este conto particularmente tem outras adaptações à música e ao bailado, a mais famosa das quais é a do grande e muito admirado Piotr Tchaikovsky.

Quanto a este espectáculo do GATEM é de novo belo e encantatório. Embora dedicado em primeiro lugar aos mais novos, em grande número na sala, agrada também muito aos graúdos.
Gostei muito! Parabéns a todos os intervenientes, nomeadamente aos que vimos actuar tão bem em palco.

Parabéns à Céu Campos e ao Ricardo Cardoso, que julgo são os principais responsáveis por estas maravilhas!

Aos Amigos que me lêem que não percam próximas representações! 
E eu fico a aguardar a estreia do próximo espectáculo do GATEM.

(texto publicado no Facebook)




quarta-feira, 16 de novembro de 2016

A ÚLTIMA VIAGEM DE LÉNINE



A ÚLTIMA VIAGEM DE LÉNINE, pela Associação Cultural NÃO MATEM O MENSAGEIRO




Só uma brevíssima e modesta nota para sugerir a todos os meus amigos facebookianos para não perderem este magnífico espectáculo assim que possam. Em Lisboa, as próximas sessões serão no Auditório Carlos Paredes, em Benfica.

Teatro político? Sim, e posto em cena com muita inteligência e qualidade - no texto de António Santos (gostaríamos de o ter!), na encenação de Mafalda Santos, na interpretação de André Levy (acompanhado de algumas grandes vozes do palco ou do áudio-visual).

Com o grande mérito de falar de acontecimentos importantíssimos na História da Humanidade, mas sobre os quais os poderes instituidos ligados ao capitalismo fazem cair uma cortina de silêncio, não vão os Povos porem-se a pensar. 

Sobre a Revolução de Outubro, sobre Vladimir Ilich Ulianóv (Lenine) e outros revolucionários. 

Lénine surge-nos nesta peça como um revolucionário de corpo inteiro, isto é, que não esconde a sua condição humana, o que o torna um ser extraordinário, por quem sentimos uma enorme admiração e simpatia.
A peça, que imagina uma viagem, nos tempos actuais, a Lisboa, do grande dirigente revolucionário, tem vários momentos emocionantes, muito por mérito da encenação e da interpretação. Um dos que suponho que mais toca os espectadores é o da celebração que Lénine e a sua companheira Najda Kroupskaia, fazem no 73º dia da Revolução de Outubro, dia em que ultrapassa a duração da Comuna de Paris. Julgo que ninguém que sonha com um Mundo melhor deixará de se emocionar. A Revolução haveria efectivamente de durar muito mais, algumas décadas, marcando decisivamente a História da Humanidade como um dos seus momentos mais altos, por ser a primeira vez, enquanto durou, que os trabalhadores tomaram nas suas mãos de uma maneira consequente o seu destino.

A NÃO PERDER!

(publicado originalmente no facebook)



MARATONA CINÉFILA - LA COMMUNE, DE PETER WATKINS




A Cinemateca exibiu, ainda no âmbito do DOCLISBOA, A COMUNA (LA COMMUNE), do cineasta inglês Peter Watkins. 

Uma tentativa de fazer um filme sobre um dos momentos mais importantes da História da Humanidade, a Comuna de Paris, utilizando meios modernos para descrever os acontecimentos iniciados a 18 Março de 1871, como se nesses tempos, há um século e meio, já houvesse meios audio-visuais como a rádio e a televisão para fazer reportagens em directo sobre o que ia acontecendo em Paris quando o povo se revoltou e tomou o poder na cidade.

São 345 minutos, quase seis horas de cinema, praticamente consecutivos. Para quem tiver resistência (eu já tive e não seria o meu recorde). Agora resta-me rever no pequeno ecrã. De visão anterior considero que a obra merece ser vista (em breve voltarei aqui a ela)

Em minha opinião, se a ideia era mostrar esta magnífica obra ao máximo de espectadores possível então faria sentido exibi-la em mais de uma sessão. Assim só os cinéfilos, e nem todos (como eu, por razões físicas) a verão.

A propósito não quero que julguem que considero as cinematecas apenas como locais onde temos oportunidade, às vezes, de ver as obras de Cinema mais amadas. Obviamente que não. São muito mais que isso, locais de estudo e possibilidade de ver obras esquecidas ou redescobertas. Essa é aliás a sua função mais importante. 
Mas já que se fala em obras muito amadas claro que há sempre meia dúzia que queríamos rever. 

Este mês por exemplo ainda vamos ter "Underground" (Kusturica), "Les 400 Coups" (Truffaut) ou o inesquecível "Os Contos da Lua Vaga" (Mizoguchi)!!! E já passaram "As Vinhas da Ira" (Ford), e o "Dr.Strangelove" (Kubrick).






CINEMA CUBANO REVOLUCIONÁRIO - SANTIAGO ALVAREZ

Três documentários do grande cineasta cubano, Santiago Alvarez, realizados nos primeiros anos da Revolução Cubana.

Vistos no DOCLISBOA / CINEMATECA PORTUGUESA, no Ciclo de Cinema Cubano 

CERRO PELADO (1966) - A vitoriosa participação de Cuba nos X Jogos Desportivos Centro-Americanos, apesar da tentativa de o impedir por parte dos norte-americanos. 
Cerro Pelado é o nome do navio onde a comitiva viaja e onde são filmadas algumas das grandes cenas da obra. 
O regresso a Cuba, depois dos espectaculares resultados dos atletas cubanos e o encontro com Fidel Castro é emocionante.
Alguns só conseguem  ver lamentavelmente nesta magnífica obra principalmente propaganda. É uma questão ideológica, de direita,  de quem não consegue aceitar a realidade quando ela não convém às suas ideias. 

HANOI MARTES 13 (1967) - sobre a heróica luta do povo vietnamiano, conduzida pelo Partido Comunista dirigido por Ho-Chi- Minh. A obra filmada em grande parte no Vietname atacado pelos EUA. Impressionante documento da violência sobre populações indefesas e da luta tenaz de todo um povo contra o agressor imperialista.

HASTA LA VICTORIA SEMPRE (1967) - Uma grande e bela homenagem ao heróico revolucionário, Che Guevara, a quem a Revolução Cubana tanto ficou a dever, realizada depois da sua morte, assassinado pelas tropas governamentais  na Bolívia. 









EXPOSIÇÃO RETROSPECTIVA DE JOSÉ ESCADA



Um dos grandes pintores portugueses, prematuramente desaparecido (1934-1980). 
Os cravos de Abril, ocupam um lugar de destaque na sua obra, que pela multiplicidade de meios utilizados nos fascina.





"A Colecção Moderna apresenta a primeira exposição retrospectiva dedicada ao pintor José Escada (Lisboa, 1934-1980), dando a conhecer um artista que desenvolveu uma obra singular, num vai e vem constante entre abstracção e realismo" (na Fundação Calouste Gulbenkian)



DR. STRANGELOVE, DE STANLEY KUBRICK


DR.STRANGELOVE OR HOW I LEARNED TO STOP WOORRYING AND LOVE THE BOMB (Dr. Estranhoamor)



Um dia depois das eleições nos EUA, cujo resultado surpreendeu a maioria, com a vitória de um candidato extremamente reaccionário e muito perigoso, também pelo seu populismo fascizante e completa inexperiência política, Donald Trump, a Cinemateca Portuguesa exibiu, embora já o tivesse programado há muito, uma das principais obras-primas de Stanley Kubrick (Manhattan 26-Jul-1928 - 7-Mar-1999), o famoso DR.STRANGELOVE OR HOW I LEARNED TO STOP WOORRYING AND LOVE THE BOMB (Dr. Estranhoamor), estreado em 1964. 

Porém este grande filme foi proibido em Portugal pelo fascismo e só viria a ser exibido uma década depois, logo a seguir ao 25 de Abril de 1974.

Com um genial actor inglês, Peter Sellers (Southsea, Hampshire, Inglaterra 1-Set-1925 - 24-Jul-1980), em três papéis principais (o presidente norte-americano, o Dr.Strangelove, um estranho e diabólico cientista cujo passado vem da Alemanha nazi, que agora trabalha para os EUA e o oficial britânico Mandrake que é adjunto do general Jack D.Ripper (nome que é uma alusão ao assassino em série, Jack O Estripador), Ripper que sofre de paranóia, problemas sexuais e acaba desencadeando uma agressão nuclear à União Soviética, papel desempenhado por outro grande actor norte-americano, Sterling Hayden, actor que todavia ficaria marcado por ter falado e denunciado camaradas do partido comunista em que militou, perante o comité das actividade anti-americanas dirigido pelo senador McCarthy. Todavia Hayden, ao contrário de outros denunciantes (Elia Kazan, Edward Dmytryc, Cecil B.de Mille) sempre lamentaria amargamente não ter conseguido resistir à repressão, e acabado por falar (curiosamente neste filme o tema das revelações arrancadas através da tortura é abordado pela personagem Ripper, que Hayden desempenha magistralmente).

A obra é uma sátira magistral à Guerra Fria e aos altos quadros militares norte-americanos, com cenas de antologia.

Esta exibição teve na habitual folha da sessão um excelente texto do antigo programador e depois director da Cinemateca, João Bénard da Costa (sem data).






sexta-feira, 21 de outubro de 2016

CAFÉ SOCIETY, de Woody Allen

Mais uma pequena jóia que Woody Allen, o realizador, escritor e músico de jazz, nos oferece. Para ver quase sempre com um sorriso. 
Talvez os diálogos sejam, como sempre neste autor, algo complexos e rápidos, às vezes difíceis de acompanhar para quem tem que ler as legendas, e exijam algum conhecimento por parte de quem os ouve, neste caso até cinéfilo, mas, pela sua inteligência, dão-nos sempre muito prazer.
Gostei da piada sobre o judaísmo e o cristianismo! Só não soltei uma gargalhada porque parecia mal... Boa!

Actores principais:
Jesse Eisenberg (Bobby Dorfman)

Kristen Stewart (Vonnie -Veronica)




O CINEMA NA 38ª SEMANA CULTURAL DO INTERVALO - ALEXANDRA LENCASTRE

A Semana Cultural de 2016, do Intervalo Grupo de Teatro, no seu 47º ano de actividade, que inclui o 1º Acto, teve ontem mais uma sessão, magnífica, com a homenagem a uma grande actriz, Alexandra Lencastre, cujos desempenhos, no teatro, no cinema e na televisão, muitas vezes nos tocaram profundamente pela sua rara qualidade. Por isso gostámos muito de a ver, com o seu eterno ar jovem, de quem não se leva muito a sério.

Só gostava de lembrar, entre as suas muitas participações no cinema, algumas pela mão de grandes realizadores, as três magníficas obras que protagonizou. 

Em "O Delfim" (2002), de Fernando Lopes, que embora seja uma obra na minha opinião relativamente falhada em relação à obra-prima literária do José Cardoso Pires, atingiu na representação, de Alexandra e seus companheiros de elenco, um grande fulgor.

Em "A Mulher que Acreditava ser Presidente dos EUA" (2003), uma jóia de humor sarcástico na filmografia de João Botelho. O tema obviamente valeu-lhe ser desancado pela crítica neoliberal, caninamente subserviente em relação ao patrão (deles) norte-americano. Alexandra foi admirável no papel principal.

Em "Lá Fora" (2004), de Fernando Lopes, que foi lamentavelmente menosprezado pelo mesmo sector da crítica, a qual infelizmente é dominante, mas é em minha opinião uma das grandes obras daquele notabilíssimo cineasta. A interpretação, uma vez mais de Alexandra e de quase todos os participantes, é magnífica.

Alexandra participou também no elenco daquele que é, para mim, um dos grandes filmes portugueses de sempre, "Os Mutantes", de Teresa Villaverde.

No Teatro, relembrar principalmente os desempenhos em obras famosas de Tennessee Williams e Tcheckov, onde foi extraordinária.

E tem ainda uma carreira à frente!

Quem melhor poderíamos ter para acompanhar esta actriz que um dos grandes intérpretes da Música Portuguesa, dos maiores que temos e tivemos. 

Foi mais um concerto de Camané, que num espaço intimista como é o do Anfiteatro Lourdes Norberto, mais uma vez completamente cheio, em companhia daquela gente do Intervalo Grupo de Teatro, que respira fraternidade, com o seu director e encenador Armando Caldas à frente (e eu gostaria de poder citar o nome de todos), Camané chega ainda com mais intensidade à sensibilidade e ao coração dos espectadores. Não conheço outra sala que seja superior a esta nesse aspecto.







BREVÍSSIMA NOTA SOBRE A 38ª SEMANA CULTURAL DO INTERVALO

A 38ª Semana Cultural, organizada no 47º ano de existência do Intervalo Grupo de Teatro, que nasceu sob o nome de 1º Acto, em Algés, e depois o seu núcleo fundador, marginalizado por um grupo de sócios que logrou tomar conta do clube, foi forçado a "exilar-se", definitivamente mas em boa hora, criando o Intervalo. Entretanto os usurpadores, cumprida a missão política, desapareceram.

Gostava de chamar a atenção para este admirável evento cultural, que tem levado a salas do concelho de Oeiras homenagens a alguns dos maiores nomes da Cultura Portuguesa, de José Saramago a Maria João Pires, de Siza Vieira a Júlio Pomar, de Eduardo Gageiro a Joaquim Benite, de Urbano Tavares Rodrigues a Jorge Palma, de José Fonseca e Costa a Eunice Muñoz, etc, etc. Dos nomes maiores diria que não faltam muitos, tendo em conta que se trata de homenagens a longas carreiras artísticas, superiores a 30 anos e que alguns artistas, agradecendo o convite, não o puderam aceitar por razões várias.

Este ano por lá passaram entre os homenageados, António Macedo (rádio), Alexandra Lencastre e João Vasco (teatro e cinema), Jorge Fernando e José Cid (música) e Carlos Santos (fotografia). Acompanharam-nos em concerto, com as respectivas equipas, aliás sempre de grande qualidade, Miguel Ângelo, Pedro Jóia, Fábia Rebordão, Paula Oliveira, Camané, Júlio Resende (piano) e Ricardo Ribeiro. E falaram do respectivo perfil e obra do homenageado, Carlos Avilez, Fernando Dacosta, Viriato Teles, António H.Cardoso, Armando Carvalheda, Maria Helena Serôdio, Carmen Dolores (de quem foi lido texto), Maria do Céu Guerra, Fernando Alvim, João Paulo Guerra, sendo algumas das intervenções, brilhantes. Particularmente a homenagem aos 31 anos de carreira de Alexandra Lencastre esgotou a capacidade da sala, com uma das maiores enchentes de que me consigo lembrar naquele auditório, que não me canso de repetir, tem condições excepcionais para espectáculos onde a proximidade com os artistas, propensa a uma grande comunicação e intimismo sejam importantes e são-no quase sempre em eventos deste género.

Mas, que me desculpem, um grande momento da semana, foi a inesquecível representação que a encerrou, mesmo já tendo visto a mesma peça representada no mesmo local e com os mesmos actores, de "12 Homens em Fúria", escrita pelo dramaturgo norte-americano, Reginald Rose, e encenada pelo Armando Caldas.
 Aquilo que escrevi então (ver neste blogue) mantem-se e sai até reforçado pelo simples facto que grande parte do ano já passou e não vi espectáculo que me tivesse emocionado mais ou até de que tivesse gostado mais e posso citar, entre os espectáculos de Teatro de que gostei muito este ano, a "Clarabóia", adaptação do romance de José Saramago, pela Barraca, "O Ano da Morte de Ricardo Reis", do mesmo autor pela mesma companhia, "Trópico del Plata", com texto e encenação do autor/encenador argentino Rúben Sabadini e interpretado por uma companhia da mesma nacionalidade ou "Hedda Gabler", de Henrik Ibsen, com encenação e interpretação da actriz e encenadora norueguesa Juni Dahr, que utilizou, com uma companhia de Oslo, a Casa da Cerca para um espectáculo inesquecível. Todas têm em comum uma coisa que é o primado do actor, que aliás acaba por ser, em minha opinião, o que distingue fundamentalmente o teatro de outras artes de palco.

Só gostava de terminar fazendo um apelo para que jovens e seus educadores não deixem de ver esta extraordinária peça de Reginald Rose, a que os actores do Intervalo (doze homens e uma mulher) dão o seu melhor, vibrando e fazendo-nos vibrar com eles. Julgo que contribuiria para um mundo melhor!

Todas as fotografias seguintes são de arquivo, de anteriores espectáculos do Intervalo Grupo de Teatro: