Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

domingo, 1 de novembro de 2015

DIÁRIO



Estas notas. pequenas e despretensiosas, que são principalmente sobre filmes, mas também sobre teatro ou outras artes de palco e até sobre algumas leituras relacionadas com a Sétima Arte, acabaram por quase se transformar numa espécie de diário, partilhando algumas das notas escritas na minha página do Facebook. 
Há diários que têm servido de referência para mim, na sua forma apenas, como o da revista francesa de cinema, "Positif", que entrega a secção em cada mês a um dos seus redactores. Por isso é desigual na qualidade e no interesse, mas gostamos sempre de lhe deitar uma olhada, concordemos ou não com os textos do crítico encarregado da função.
No meu caso optei apenas por falar do que gostei ou do que me possa eventualmente indignar. Espero que alguém ache ao menos interessante.



Trabalho de casa

REVER HAMLET



REVER HAMLET


O nosso maior actor vivo, no Teatro e no Cinema, grande encenador também, anunciou há menos de uma semana, na Cornucópia, para grande desgosto de todos os que amam o Teatro, a sua retirada.

Mais uma razão para não deixar de rever a sua brilhante encenação de HAMLET (reposta de 23 de Outubro a 15 de Novembro no Teatro Municipal Joaquim Benite, em Almada).

Lembrar que esta encenação da peça, integral (ou quase), foi criada a partir da tradução de Sophia de Mello Breyner Andresen (1987) que por sua vez seguiu a edição, talvez a mais completa, que abrange os "Quartos" (publicados ainda em vida de William Shakespeare) e o "Fólio" (póstumo). (eu não sabia e fiquei a saber ao ler uma nota do ilustre estudioso shakespeariano, Professor Grahame Broome-Levett, na edição de 1987).



As fotos seguintes são do famoso HAMLET, no cinema, realizado e interpretado por um enorme actor inglês, Laurence Olivier, em 1948. 

Brilhantes, a interpretação desse grande actor e dos que o acompanham nesse filme, e a realização nesta versão para o cinema, mais reduzida, de uma das mais famosas tragédias da dramaturgia universal. A luta contra a mentira, contra a intriga, contra a traição em mais que um aspecto, contra a ambição que tudo tenta esmagar à sua volta para atingir os seus fins (fez-me lembrar os esforços cavaquistas de manter o poder nas mãos dos seus correlegionários meio fascizantes...). 





O herói da peça hesita em punir os culpados e acaba assassinado às mãos de um amigo, também ele enganado pela mentira e pela calúnia e que, num supremo acto de traição, ataca Hamlet "pelas costas", contra toda a ética de um combate leal que aquele era suposto ser.

Laertes, Ofélia, Gertrudes, Hamlet, perecem vítimas da ambição de poder absoluto de Cláudio, o rei da Dinamarca.

NOTA: Não, não é a Ofélia que está sentada na relva à beira do castelo de Kronborg, o castelo de Hamlet, em Elsinore (ou Helsingor) na foto feita por mim.



AS MIL E UMA NOITES _ 1º VOL - O INQUIETO



Pequena nota sobre AS MIL E UMA NOITES, de Miguel Gomes

1º VOL - O INQUIETO

A crítica de cinema em França aplaudiu quase unanimemente: "uma obra sem equivalente, nunca se viu nada assim, um fogo de artifício, galvanizador, causa estupefacção" (citado na mais prestigiada revista da especialidade, a Positif, em Outubro deste ano).

Recomenda-se aos que gostam de bom .cinema e aos que gostam de ver a actual e lamentável realidade social do País, consequência das politicas de direita dos passos, portas e cavaco, reflectida cruamente no grande ecrã. Este filme é de facto uma obra anti-fascista!

Tal como outros grandes criadores, também Miguel Gomes foi seduzido pelas mil e uma noites, as dos contos que a escrava Xerazade vai narrando ao rei que a queria matar no final de cada noite, por vingança contra a sua mulher que se apaixonara por um escravo.

Tal como Rimsky-Khorsakov (1888) e Michel Fokine (1910), na Música e na Dança, tal como Pasolini, no Cinema (1974), tal como Nagib Mahfouz, o grande escritor egípcio, na Literatura (1982). 

Tenho a sorte de conhecer todas estas obras e gostar muito de todas elas. Tal como gostei muito do magnífico 1º Volume de "AS MIL E UMA NOITES", de MIGUEL GOMES. Falta-me ver as duas partes seguintes...

Não percam!




SICÁRIO (INFILTRADO)

SICARIO (Infiltrado)

do canadiano Denis Villeneuve (3-Out-1967, Trois Rivières, Quebec, Canadá)
Um thriller intenso e violento, a merecer uma visão.

Na fronteira, separada pelo Muro (magnifica a cena em que é sobrevoado), entre o México e os EUA, as lutas dos gangs da droga e das polícias venais.
Numa sociedade em que a droga tem um enorme peso, quase tanto quanto a indústria das armas, e depois dos magníficos "Raptadas" e "Homem Duplicado" (adaptação do romance homónimo do nosso Nobel, José Saramago), outra obra muito interessante, até pelos problemas que põe, na linha de outras obras do realizador.

Nos principais papéis, com excelentes desempenhos, a londrina Emily Blunt (23--Fev-1983) (na imagem) e o porto-riquenho Benicio del Toro (19-Fev-1967). 

Benicio, grande actor, com especial destaque para os desempenhos em "CHE", de Steven Soderbergh (2008), "Trafic", também de Soderbergh (2000) e "Selvagens", de Oliver Stone (2012), entre muitos outros, que lhe valeram 39 prémios e 37 nomeações - "CHE", em Cannes e um Goya, Trafic, um Óscar. Realizou um pequeno filme para a obra colectiva "7 Dias em Havana" (2012), que é bastante interessante, aliás como o conjunto. 


"Sicario", por causa do tema, fez-em vir à memória uma obra-prima absoluta, no entanto um tanto ou quanto esquecida (será que hoje continua incómoda?), TOUCH OF EVIL (A Sede do Mal) (1958), de um mestre, Orson Welles, que também a interpretava, no papel de um polícia estado-unidense corrupto,  contra o qual luta o polícia honesto, mexicano, interpretado por Charlton Heston, que aqui deve ter tido o seu melhor desempenho no cinema, ele que era um medíocre actor e  no aspecto cívico tornar-se ia notado por ter sido o presidente da associação norte-americana dos possuidores de armas de fogo (NRA - National Riffle Association of America). Aliás Michael Moore, o grande documentarista, tenta entrevistá-lo no seu famoso "Bowling for Columbine" (2003), onde abordava a violência nos EUA, tendo como ponto de partida o primeiro dos mediáticos grandes massacres numa escola, perpetrado por dois jovens estudantes!...



SEMANA CULTURAL DO INTERVALO GRUPO DE TEATRO - ENCERRAMENTO



A 36ª Semana Cultural do Intervalo Grupo de Teatro, terminou com a representação do último grande sucesso do Intervalo, a dramatização do romance RATOS E HOMENS, de John Steinbeck. Ver actores e espectadores não conseguiram suster as lágrimas e faltar-lhes a voz, tomada pela emoção, é muito raro e só pode acontecer quando um texto admirável chega ao coração e inteligência dos espectadores através da voz dos actores e da encenação. Aconteceu hoje de novo no Auditório Lourdes Norberto. Quem ainda não viu não perca as derradeiras representações este ano desta peça naquela sala (próxima semana, sexta e sábado, salvo erro). Não me envergonho de dizer que desta vez a emoção me venceu.

Agora estou cansado, depois de um mês e meio muito complicado para mim (mas o mau tempo por agora passou) e por isso não vou agora comentar a belíssima noite de ontem, com a homenagem ao Manuel Freire, o grande cantor da Pedra Filosofal (António Gedeão) e de Ouvindo Beethoven (José Saramago)! Depois falarei disto. 

Fica aqui o meu grande obrigado a este fantástico Grupo por estes espectáculos magníficos que nos dá, num trabalho admirável de Cultura para o povo! 

E que a interpretação da grande revelação, o jovem José Coelho, em Lennie, venha a ser premiada, porque este ano ainda não vi melhor, e já vi muito e muito bom ! 

11-Out-2015



ADENDA: Este é um texto sobre o encerramento da Semana Cultural do Intervalo Grupo de Teatro. Atenção que a peça ainda é exibida hoje, 17 de Outubro. Não percam, Amig@s, quaisquer que sejam as vossas ideias ou credos, porque julgo que é impossível ficar-se indiferente perante um espectáculo destes. Se ficassem também julgo que não seria vosso amigo. A Amizade para mim é incondicional mas pressupões meia dúzia de princípios fundamentais - um deles é obviamente o Humanismo e o respeito pelo Outro, seja em que condições Ele estiver.

17-Out-2015

As imagens seguintes são dos ensaios do Intervalo Grupo de Teatro, no Auditório Lourdes Norberto



NOTÍCIAS CINÉFILAS E NÃO SÓ



Ao ver televisão, aliás num dos programas que acho mais interessantes no momento, "Fora de Horas", fiquei satisfeitissimo ao ouvir citar por uma cantora de quem gosto muito - Manuela Azevedo, dos Clã, obras que não são só excepcionais, porque além disso gosto também muito delas. No cinema o "Homem Tranquilo" (Quiet Man), do John Ford e "Ran", do Akira Kurosawa (este baseado numa das obras máximas de Shakespeare, "Rei Lear", de que Álvaro Cunhal fez uma notável tradução). Dois filmes de que gosto muito e estarão sempre entre as minhas obras preferidas. 

Como se isso não bastasse ela lembrou também dois nomes da Música, que estão também muito ligados à 7ª Arte, Dmitri Shostakovich (o genial compositor soviético) e Tom Waits (lembrar as suas colaborações com Francis Ford Coppola, principalmente no admirável "Do Fundo do Coração"). 
Foi uma alegria e satisfação, até porque se prova uma vez mais que a grande qualidade e o belo são transversais às gerações!

A propósito gostava ainda de lembrar um momento único, em 27 de Fevereiro de 2003, num Forum Lisboa superlotado, com a projecção do "Nosferatu", de Murnau, com acompanhamento musical dos Clã, com a voz de Manuela Azevedo. 

Foi brilhantíssimo, o que aliás já havia sido ouvido no Porto, no âmbito do Porto 2001, Cidade Europeia da Cultura. Do tempo em que o Porto ainda era cultura porque depois viriam os anos cinzentos do pouco culto (entre outras coisas politicamente pouco recomendáveis..) Rui Rio, a partir do momento que este teve maioria absoluta...

No Forum Lisboa assisti e foi excepcional!


NA QUINTA NOITE



NA QUINTA NOITE

A 36ª Semana Cultural do Intervalo Grupo de Teatro continua a dar-nos grandes momentos, depois daquele início brilhante e quase insuperável, da homenagem ao Fernando Tavares Marques. 

Ontem foi mais uma noite que não esqueceremos, principalmente nós que somos cinéfilos, mesmo que modestos, com a homenagem a um dos nossos realizadores preferidos, e que em nossa opinião pertence ao top 10, por isso um dos nomes mais importantes do Cinema Português que, convém dizê-lo, é considerado pela crítica da especialidade, estrangeira e mais credível, como um dos mais interessantes da actualidade (Pedro Costa, Teresa Villaverde, Miguel Gomes, Manoel de Oliveira, recentemente desaparecido, etc e mais alguns novíssimos).

Jorge Leitão Ramos, crítico de cinema desde os idos anos 70 e autor do famoso Dicionário do Cinema Português (a que continua a faltar o 1º volume, dos primórdios até 1962 e uma actualização recente, obviamente) fez uma interessante cronologia da obra de José Fonseca e Costa, o homenageado dessa noite, dando-nos até a magnífica notícia de que o grande realizador não está parado e continua a filmar "Axilas", escrito em conjunto com Mário Botequilha, o autor da notável peça "Al Pantalone", que o Miguel Seabra encenou para o Teatro Meridional e ganhou o prémio do público em 2014 no Festival de Teatro de Almada, de que aliás gostámos muito de ver este ano, com honras de espectáculo de encerramento, naquele que é um dos mais importantes festivais de teatro por esse mundo fora.

Em 1971 Fonseca e Costa realizou a sua primeira longa-metragem, um surpreendente "O Recado", que era um recado contra o fascismo salazarista que então continuava a asfixiar e destruir aos poucos o nosso País e o melhor no nosso povo. A terrível, omnipresente, muitas vezes tacanha (provocando até às vezes as risadas dos censurados), a sempre medíocre censura deixou-o passar praticamente incólume por pensar provavelmente que não chegaria ao "bom povo português", como os fascistas gostavam de caracterizar um povo revoltado mas amordaçado de quem os melhores eram lançados nas prisões depois de torturados e muitas vezes assassinados.

Poucos dos espectadores desta noite cultural se terão dado conta (e o homenageado só no final) da presença entre os que esgotaram o auditório Lourdes Norberto, de outro nome grande do cinema português, o decano dos produtores portugueses e às vezes também actor (como no magnífico "Tabu", de Miguel Gomes), Henrique Espírito Santo. É que ele participou nos anos 50 e 60, com José Fonseca e Costa, no movimento cine-clubista, tendo ambos feito parte da mesma direcção do Cine-Clube Imagem, e pouco depois ambos seriam presos pela PIDE, acusados de "actividades subversivas", conduzidos ao Aljube, em trânsito para Caxias, onde Henrique Espírito Santo estaria um ano e meio. Mas o fascismo não os conseguiu destruir ou amedrontar e ambos participaram nos primeiros projectos de José Fonseca e Costa no cinema, nomeadamente na curta-metragem "Regresso à Terra do Sol", realizada em Angola (1967), donde o realizador é natural, e da longa-metragem já citada "O Recado" (1971), nas quais Henrique Espírito Santo foi o Director de Produção. Ambos fariam depois notáveis carreiras, cada um na sua especialidade, e tendo o segundo colaborado nalgumas das obras do realizador, nomeadamente em "Balada da Praia dos Cães" e "Cinco Dias Cinco Noites". 

Não quero concluir esta nota sem referir que as minhas obras preferidas entre as realizadas por José Fonseca e Costa e que considero aliás grandes filmes da cinematografia portuguesa, são o já citado "O Recado" (72), "Kilas, o Mau da Fita" (80), "Sem Sombra de Pecado" (83), "A Balada da Praia dos Cães" 

(adaptando o romance homónimo de José Cardoso Pires) (87), "Cinco Dias Cinco Noites" (adaptação da novela homónima de Manuel Tiago, pseudónimo de Álvaro Cunhal) (96) e não esquecendo uma obra injustamente esquecida, mas que Jorge Leitão Ramos citou, que é "Viúva Rica Solteira Não Fica" (2006), filme de que gostei muito a quando da estreia, apesar das reticências da maior parte da crítica. 

E, na segunda parte deste evento cultural, surgiu o excepcional momento musical com o concerto dado por um dos maiores nomes da actual Música Portuguesa, Camané. Foi brilhante em várias interpretações do seu magnífico repertório. É que não é só a voz que é de superior qualidade, são também os textos dos seus fados e canções que são muito interessantes. Foi um fecho para o qual é difícil arranjar palavras, dada a sua enorme qualidade artística.

Obrigado, ao Intervalo Grupo de Teatro e a todos os que o compõem, por mais esta noite memorável.





SEMANA CULTURAL DO INTERVALO GRUPO DE TEATRO (II)



NA SEMANA CULTURAL DO INTERVALO GRUPO DE TEATRO

Ontem, 7 de Outubro, Quarta-Feira, foi a homenagem a um grande nome da rádio, da Antena 1, Armando Carvalhêda, uma voz que nos habituámos a admirar e respeitar, nomeadamente através do programa que apresenta (e pode ser visto ao vivo, actualmente no Auditório do Teatro da Luz) o magnífico VIVA A MÚSICA, que Ana Sofia Carvalhêda, sua filha, também apresenta.
Ambos são os produtores do belíssimo clip sobre os 80 Anos da Rádio Pública. Reconheço que nunca consigo vê-lo sem uma certa emoção. Porque sou, como diz o Armando Caldas, também um ouvinte que continua a gostar muito da rádio, mais que de televisão (tem também a ver com a qualidade dos programas, mas não só...) .

“Um não sei quê de alegria”, hino dos 80 anos da rádio pública - YouTube



A intervenção principal da sessão, a cargo do músico António Manuel Ribeiro (UHF), foi interessantíssima e a parte musical a cargo do Rogério Charais excelente, até porque ele não se esqueceu do seu grande sucesso, o famoso SUBMARINO IRREVOGÁVEL que voltou a entusiasmar (e a fazer rir) os espectadores que mais uma vez esgotaram o auditório Lourdes Norberto. Parabéns ao Armando Caldas e ao Intervalo Grupo de Teatro!