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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

sábado, 12 de dezembro de 2015

MIA MADRE (MINHA MÃE), de NANNI MORETTI



MIA MADRE (MINHA MÃE), de Nanni Moretti (19-Ago-1953, Brunico, Itália)

“Mia Madre”, film di Nanni Moretti: 10 minuti di applausi al Festival di Cannes 2015 (lido na Net)

Considerada por muitos como uma grande obra de maturidade do celebrado realizador italiano, de quem tanto apreciamos a maioria dos seus filmes, o que concordo. 

Com muito de autobiográfico, embora seja ficção e o papel que o próprio Moretti, como actor, desempenha no filme não seja o seu. Podemos pensar que seja Marguerite Buy (magnífica interpretação como irmã!) que em parte o representa.

Homenagem à Mãe, admirável personagem, nas suas vertentes cívica (cidadã empenhada e anti-fascista) e intelectual (professora amada pelos alunos), a cujo final de vida assistimos no filme. 

E uma vez mais Moretti não se esquece de fazer um enquadramento político e social à sua obra, em pano de fundo suficientemente claro todavia. A filha (Marguerite Buy) é realizadora e assistimos a filmagens do seu novo filme sobre a actualidade das lutas dos trabalhadores numa época de exploração crescente.


Um dos aspectos muito interessantes do filme é a presença dos sonhos, vários ao longo da obra, que não deixam de nos fascinar, em especial, suponho, àqueles que sonham... 

Uma referência para o sonho mais cinéfilo de todos eles (haverá algum cinéfilo que não se emocione?) quando os dois irmãos percorrem a longa fila, imenso caudal humano, à porta de uma sala romana carismática, hoje encerrada devido à política fascizante e anti-cultura dos neo-liberais de que Berlusconi é o mais famigerado exemplo (e como nós compreendemos bem isso depois de pelo menos 4 anos de política igual, com gente igual!). 


 Claro que há nela uma referência óbvia ao mais ou menos longo caudal da vida, mas também há a nostalgia do tempo em que cinema era sinónimo de cultura para grandes massas e recordamos as "nossas filas", aquelas que nunca vamos esquecer, como a de "António das Mortes" (do grande Glauber Rocha), em Lisboa, que foi um acto de cultura e também de resistência anti-fascista (1972). 

Muito mais haveria a dizer sobre esta obra, mas aqui tenho que ser o mais sintético possível e nem sequer vou falar nos actores e actrizes, que são quase todos magníficos, apenas referir a interpretação de John Turturro, um grande actor (e também realizador) norte-americano, de ascendência italiana, que muito admiramos, e que é brilhante no papel do "grande astro estrangeiro" convidado, mas um tanto ou quanto cabotino, trazendo ao filme também algum humor.

No final da obra é difícil resistir à emoção, que me pareceu generalizada na sessão a que assisti, com a presença de vários escalões etários, mas admitindo que a experiência de vida, mais ou menos longa, possa ainda pesar mais. 

Emoção todavia nunca num sentido negativo, de mágoa desesperada. 


Uma vida termina, de alguém sem uma grande notoriedade pública, mas fica a memória dos que a conheceram, admiraram e amaram.

Um belíssimo filme, que as notícias vindas do Festival de Cannes deste ano dizem ter sido aceite pela grande maioria da crítica presente, mesmo ficando-se apenas pelo Prémio Ecuménico. Julgo que merecia mais.

(publicado no facebook) 
(não publicado no Cartaz de Cinema do Público...)

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