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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

ENQUANTO SOMOS JOVENS (While We're Young) de NOAH BAUMBACH



Pequenas notas cinéfilas sobre "ENQUANTO SOMOS JOVENS" (While We're Young) de NOAH BAUMBACH

(texto de 17-Jun-2015, já publicado no facebook)

Do Baumbach já conhecíamos, e gostamos muito, "A Lua e a Baleia"(The Whale and the Squid) (2005), "Greenberg" (2010) e "Frances Ha" (2012). 
Nascido em 1969, em Brooklyn, Nova Iorque. Vindo do cinema independente é filho de pais que escrevem ambos crítica de cinema. 
Julgo que esta sua nova obra é do mais interessante neste momento em exibição na nossa cidade, Lisboa.
Porque muitos dos aspectos da vida actual nesta parte do mundo, que é dominada por um sistema económico baseado na exploração do homem pelo homem, um capitalismo predador em fase de agudização, esses aspectos são aflorados, nesta história de desencontros de gerações, muitas vezes aos sons barrocos de Vivaldi.
É também uma homenagem a um grande dramaturgo, referência maior, que é Ibsen, através do seu Construtor Solness, que muito apreciamos.
Filme passado entre gente do Cinema, nomeadamente daqueles que utilizam o documentário como forma privilegiada de expressão.
Não admira a citação a Wiseman, uma das referências maiores do documentarismo feito nos USA (lembrar "National Gallery", em exibição entre nós). Poderia citar também Michael Moore mas aí pesará, talvez, o aspecto político (Moore é "demasiado" à esquerda).



O cerne da questão, e do conflicto, nesta obra, é a necessidade de autenticidade, de verdade dos factos, apesar da relatividade do olhar, que nunca é neutro, o que os mais jovens (no filme), fruto do mundo em que vivem, parecem (ainda) não entender. E mesmo que a ficção se possa imiscuir mas sempre claramente expressa. 
Questão ética, portanto, que rejeita a mentira e a manipulação. Mas esta é, obviamente, uma questão de sempre, embora ganhe novo relevo nos tempos actuais, com a ideologia mais reaccionária no poder, servindo-se da propaganda mentirosa para atingir os seus objectivos.
Há por isso referências ao domínio da informática, ao nascimento e crescimento exponencial da internet e das comunicações que utilizam a digitalização, aos equipamentos portáteis de massa, ao Google (e podiam ser outros) e à sua utilização e instrumentalização pela NSA (serviços secretos dos EUA) para espiar cidadãos e o resto do mundo (a que nem os amigos ideológicos escapam - a Europa neo-liberal de Fraulein Merkel e seus acólitos, cada vez mais acompanhados no poder por neo-fascistas e neo-nazis).



Também há referências à política imperialista dos EUA, às suas agressões e invasões das últimas décadas, aos massacres de populações indefesas, às torturas inimagináveis nas prisões do novo império. Ao terrorismo, cujas origens ficam quase sempre na sombra.
E há na obra uma referência a Karl Marx, através da fala de uma das personagens do filme, que não deixa de surpreender os espectadores. Diz a personagem da obra que num inquérito feito aos cidadãos norte-americanos, sendo-lhes apresentadas várias frases sobre princípios sociais e pedindo-lhes que indicassem quais as que faziam (ou deviam...) parte da Constituição dos USA, a maioria escolheu:


"A cada um segundo as suas necessidades, de cada um segundo as suas possibilidades" !
(para quem não se lembre: em "Crítica do Programa de Gotha")


Noah Baumbach, nascido em Brooklyn, Nova Iorque, 1969, mostrou, através de pequenas referências ao longo da obra, que estas questões continuam presentes na mente de muitos dos seus concidadãos. Pela inteligência com que o fez, mesmo que a obra seja por vezes, no início, um pouco lenta, merece uma visão. Não percam.
Para terminar referir que há uma cena final com uma criança que ainda não fala, que não vou contar, que para mim é um aviso, que não deixa de ser inquietante, sobre aquilo em que o mundo tende a transformar-se se as inevitáveis mudanças no sentido da humanização e do esforço colectivo contra a exploração e a desigualdade, vierem a tardar.




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