Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

A PROPÓSITO DE UM TÍTULO



A PROPÓSITO DE UM TÍTULO



Um acidente googliano afectou em tempos este blogue. Espécie de "acidente cardio-vascular", que interrompeu as ligações de imagem. Não teve solução imediata. E também não sei o que o provocou... Sabotagem? Não acredito. Sou um simples e modesto cinéfilo. Publiquei alguma imagem carecida de autorização? Talvez.

Recarreguei pacientemente parte das imagens, mas como quase todos os textos eram acompanhados de uma delas, mais de uma centena desses textos continuaram sem ilustração... Obviamente que não vou ter tempo para voltar à forma inicial.

Nota: a foto actual foi feita por mim no Jardim da Estrela, em Lisboa (23-Set-2012)


A fotografia de capa já não é, devido a esse acidente (?) googliano, o célebre fotograma do filme “Na Cidade Branca” (Dans la Ville Blanche) (1983), do cineasta suíço Alain Tanner (Genebra, 1929), uma obra magnífica sobre a nossa cidade, de um realizador de quem sempre gostámos muito. Houve um crítico (Yann Lardeau, Cahiers du Cinéma) que escreveu nessa época que o filme se poderia ter chamado “Lisbonne, Symphonie d’une Ville”.



A escolha que fiz para nome deste blogue mais ou menos cinéfilo, foi uma forma de homenagem ao cinema do velho continente europeu, onde aliás o cinema nasceu (Méliès, os manos Lumière), que tanto aprecio. 

Homenagem também a um cineasta, o suiço Alain Tanner, de quem tanto gostamos desde os anos 60 do século XX. "Na Cidade Branca" (Dans la Ville Blanche) é um dos seus titulos mis conhecidos entre nós (e mais amados) por ter sido filmado na nossa bela cidade, Lisboa, onde a actriz portuguesa, do teatro e do cinema, Teresa Madruga, em Rosa, personagem pela qual ficará na história do Cinema. contracena com Bruno Ganz, no papel de Paul, o marinheiro que aporta a Lisboa e se vai deixando ficar, e se apaixona por Rosa, até ter de partir outra vez. 



Não terá sido provavelmente Alain Tanner o primeiro a utilizar o nome "cidade branca" para designar Lisboa, o que tem a ver com a luminosidade, suave e rara, desta velhíssima urbe, muito mais antiga que a nossa nacionalidade de quase nove séculos, cidade localizada à beira do Atlântico mas que, pela sua configuração e gentes, tem muito de mediterrânica, de árabe, de africana. Agora até já há quem lhe chame "cidade negra", mas desta vez por causa da imigração, que pouco a pouco misturou velhos com novos lisboetas, tornando-a. no dizer de muitos, na cidade mais africana da Europa, o que não deixa de ser um belo elogio.








sábado, 15 de agosto de 2015

ELOGIO DO CINEMA



ELOGIO AO CINEMA: HÁ MAR E MAR... ESTE É APENAS UM. HÁ OUTROS, TÂO OU MAIS IMPORTANTES. 

Não fui eu que programei mas podia ter sido (e não sei quem foi) atendendo às obras escolhidas. A não perder porque é quase sempre muito belo. Não vou dizer que concordo com tudo o que está escrito nas notas da respectiva programação (embora concorde com muito, quase tudo), da responsabilidade da Cinemateca Portuguesa, mas vale a pena ler para relembrar as obras que vão ser exibidas neste ciclo de Julho, antes da instituição fechar um mês, para férias.




Excertos de notas na programação da Cinemateca Portuguesa:

Dia 3, Sexta-feira, 22:30 SUMMER OF 42 Verão 42 de Robert Mulligan com Jennifer O’Neill, Gary Grimes, Jerry Houser, Oliver Conant Estados Unidos, 1971 – 103 min / legendado em espanhol | M/12 Eis seguramente um dos mais célebres filmes de Robert Mulligan. História de uma iniciação no amor, filmada com a sensibilidade e a atenção ao detalhe emocional tão típicas do cineasta. (...)

Dia 10, Sexta-feira, 22:30 PIERROT LE FOU Pedro, o Louco de Jean-Luc Godard com Jean-Paul Belmondo, Anna Karina, Samuel Fuller França, 1965 – 109 min / legendado em português | M/12 Emblema dos anos sessenta, emblema do cinema moderno, PIERROT LE FOU adquiriu há muito tempo o estatuto de clássico. O mais famoso filme de Godard, de “uma beleza sublime” no dizer de Louis Aragon, continua a entusiasmar as novas gerações que o descobrem. (...)

Dia 17, Sexta-feira, 22:30 PAULINE À LA PLAGE Pauline na Praia de Eric Rohmer com Arielle Dombasle, Amanda Langlet, Féodor Atkine, Pascal Grégory França, 1982 – 94 min / legendado em português | M/12 A série “Comédias e Provérbios” consta de seis filmes, como os “Contos Morais”. (...)PAULINE À LA PLAGE, terceiro filme da série, confronta os jogos de sedução e desejo de adolescentes e de adultos, no período estival, em Deauville. 



Dia 24, Sexta-feira, 22:30 LE RAYON VERT O Raio Verde de Eric Rohmer com Marie Rivière, Vincent Gauthier, Rosette França, 1986 – 98 min / legendado em português | M/12 Sexto e último filme da série “Comédias e Provérbios”, sob a epígrafe de um verso de Rimbaud: “Ah, que venha o tempo / em que os corações se apaixonam!”. (...)

Dia 31, Sexta-feira, 22:30 AGOSTO de Jorge Silva Melo com Christian Patey, Olivier Cruveiller, Marie Carré, Manuela de Freitas, Pedro Hestnes, Glicínia Quartin, Isabel Ruth Portugal, 1988 – 98 min | M/12 Jorge Silva Melo adaptou muito livremente o romance de Cesare Pavese A Praia. A paisagem física é a serra da Arrábida e as suas praias, de uma luz deslumbrante e dourada no verão. As pessoas singulares que aí habitam, vivem um vazio “antonioniano” que Jorge Silva Melo transpôs para o cinema português.


REGRESSO A CASA (GUI LAI) de ZHANG YIMOU



"REGRESSO A CASA" (GUI LAI)

"Regresso a Casa" (Gui Lai) é um belíssimo melodrama, uma história de um grande amor, realizada pelo cineasta chinês, Zhang Yimou, um dos mestres do cinema contemporâneo, com o lirismo, a contenção e a beleza formal habituais, permitindo mais uma grande interpretação à muito bela actriz Li Gong (Feng Wanyu), magnificamente acompanhada por Chen Daoiming (no seu companheiro Lu Yanshi) e Huiwen Zhang (em Dandan, a filha bailarina).

O autor de obras admiráveis de movimento e espectáculo, como "Herói", "O Segredo dos Punhais Voadores", "A Maldição da Flor Dourada", etc, oferece-nos agora uma obra intimista, tendo como pano de fundo anos conturbados da vida social no país mais populoso do mundo, no seguimento das brutais invasões do seu território pelo imperialismo japonês, antes e durante a 2ª Grande Guerra (que Yimou aliás mostrou no seu extraordiário filme anterior, "As Flores da Guerra", baseado num romance da mesma autora de "Regresso a Casa") e da libertação do povo chinês da escravatura e da miséria em que vivia sob o regime colonial britânico (Revolução de 1 de Outubro de 1949, conduzida pelo Partido Comunista). 

O argumento do filme é passado durante e depois do período da revolução cultural chinesa, que durou uma década (1966-1976), em que o protagonista, um professor tal como a companheira, é preso, acusado de desvios ideológicos (não chegamos a perceber quais, apenas que defendeu, a contra-corrente na família, que a filha podia dedicar-se como gostava à profissão de bailarina) e mais tarde reabilitado. Na altura da prisão perde os apoios da família, incluindo o da filha, a jovem bailarina, e dos amigos.

Obra para ser vista com emoção - história de um amor que já não pode regressar igual, pela perda irreversível da memória de um dos amantes, mas também com muita atenção por todos os que almejam um mundo melhor, em que o povo seja poder e a exploração do homem pelo homem erradicada, para que não se esqueçam nunca das dificuldades de um período histórico iniciado por uma revolução progressista e popular e dos grandes perigos do radicalismo, mesmo no seio de um partido comunista, que no caso da China fez a Revolução e tomou o poder. 

Saliente-se que o argumento da obra não tende, em minha opinião, em nenhum momento para o reaccionarismo ideológico, tão comum hoje na comunicação social dominante, a que não escapam sequer e em geral os prospectos da distribuição...

A obra é uma adaptação do romance homónimo da famosa escritora chinesa da diáspora, Geling Yan (Shangai, 16-Nov-1958), actualmente vivendo em Berlim. Com dezenas de obras publicadas, na China onde são das mais lidas, justamente como "Regresso a Casa", e no estrangeiro, incluindo em português. 

A obra foi filmada em Beijing, na República Popular da China







sexta-feira, 14 de agosto de 2015

HOMENAGEM A SEBASTIÃO SALGADO

Nem todas as fotos são de GÉNESIS, a belíssima exposição que esteve uns meses em Lisboa, no edifício da Cordoaria Nacional. 

A nossa admiração é muito grande por este grande fotógrafo, em nossa opinião um dos melhores de sempre e de que mais gostamos. 

O seu olhar sobre o outro tem sempre o consentimento deste e procura sempre dar-lhe toda a dignidade, ainda que muitas vezes o fotografado esteja em condições de vida e trabalho muito difíceis. 

Em GÉNESIS a Terra é o tema principal, em zonas do globo em que a poluição parece não ter ainda chegado, Salgado fotografa também os seres que nelas habitam, incluindo principalmente os humanos. 

Sai-se desta exposição com a convicção que nada está perdido e é que possível mudar, politica e económicamente, e cortar com o caminho a que o sistema capitalista tem conduzido nos últimos dois séculos a evolução das sociedades, pondo em perigo a vida, principalmente a humana, no nosso planeta. 

O projecto, de Sebastião e da sua companheira Lélia, de reflorestamento na sua área de naturalidade, no Brasil, é outro factor para a nossa admiração pelo casal Salgado.








Adendas: 
Numa das fotos Sebastião está com o seu filho Julião e o grande cineasta Wim Wenders, autores de "O SAL DA TERRA", belíssimo documentário sobre o seu álbum GÉNESIS, aliás estreado este ano em Lisboa (ver neste blogue uma nota sobre essa obra, vista em 20 de Abril).
Numa outra foto ele e Lélia estão com dois dos nomes maiores da fotografia, ambos franceses - Willy Ronis (14-Ago-1910 - 19-Out-2010) e Robert Doisneau (14-Abr-1912 - 1-Abr-1994). 
O texto sobre Sebastião Salgado, numa das imagens, foi escrito em Maio de 2009, por este modesto escriba.




















VIVÓ BODE III, pelo INTERVALO GRUPO DE TEATRO



VIVÓ BODE III

 Era suposto que se destinava apenas a divertir-nos e a fazer-nos rir. Afinal emocionou-nos, com um daqueles finais à Intervalo Grupo de Teatro que não vamos esquecer. Com a companhia quase toda presente no palco a emoção foi partilhada entre actores e público. O final foi um cante alentejano cantado em coro por todos os que tinham e não tinham voz. Emocionante. 

O título tem a ver com estórias regionalistas de um bode oeiriense, chibo em trânsito entre as vizinhas (e às vezes rivais) Linda-a-Velha e Carnaxide, do qual se discute a naturalidade, o que tem a ver com estórias de escárnio e mal-dizer, sobre os maus costumes que grassam neste momento no nosso País (e não só): Sim, são principalmente esses maus costumes, os dos seguidores do Deus Dinheiro, que nos desgovernam e dirigem as nossas principais instituições públicas já que das privadas já nada nos espanta...!

Entre o humor directo do Millôr Fernandes (1923-2012) e a ironia do Woody Allen (1935), com alguns portugueses muito bons pelo meio. Do segundo, Woody, grande cineasta, também actor e músico, e autor de textos vários e brilhantes pelo humor (julgo que não gosta por modéstia que lhe chamem escritor mas obviamente também o é), um texto delirante sobre o testemunho em tribunal do Rato Mickey (Fernando Tavares Marques, no juiz e Miguel de Almeida, no Mickey, que parece ingénuo mas se calhar não é) no julgamento de um dos administradores da empresa do patrão do rato, Walt Disney. Ironia cáustica sobre o meio hollywoodense, sobre as suas personagens e os seus escândalos, sexuais e financeiros, também sobre o sistema capitalista que explora milhões no seu país (e no resto do mundo). Quem conheça as personagens da banda desenhada, criadas por Disney e seus seguidores - Pato Donald, Pateta, Tio Patinhas, sobrinhos e amadas - e nem o Dumbo e o Bambi, salvo erro escapam, etc, etc), rirá ainda mais pelas suas semelhanças com a realidade que Woody captou com mestria...

Todos os actores presentes (desta vez com quase toda a companhia participante), vão como sempre magnificamente, desde a Adriana Rocha (e permitam-me que relembre duas das suas grandes interpretações, nos papéis de Sóror Mariana e da rapariga de Ratos e Homens) até ao jovem Samé (ver lista de actores no programa), e desejava referir em cada caso particular o muito bom que de cada um temos visto mas fica para próximo texto para não alongar este. Claro que seria injusto não referir a nova aquisição do Intervalo, o jovem José Coelho, que depois de nos ter surpreendido com o seu excepcional papel em "Ratos e Homens" demonstra aqui a sua versatilidade ao interpretar e muito bem o texto poema "FMI", de José Mário Branco e terminar com uma apresentação de todos os elementos da companhia, em que foi também magnífico. Os restantes membros do Intervalo que me perdoem mas sabem quanto os aprecio como actores, como declamadores, como cantores (sim, até isso!) e nalguns casos como excelentes poetas (Fernando Tavares Marques). O maestro de todos estes artistas é Armando Caldas, que deles consegue maravilhas através dum trabalho colectivo notável. 

Como espectador só me resta dizer uma coisa: Muito obrigado pelo que nos têm dado e feito pensar e também pelo prazer que nos têm proporcionado! 





segunda-feira, 10 de agosto de 2015

PEQUENAS NOTAS SOBRE BONS ESPECTÁCULOS VISTOS NESTE VERÂO (PARTE II )





14 de Julho, FRÄULEIN JULIE (A Menina Júlia), baseado na peça de August Strindberg, dramaturgia e encenação de Katie Mitchell e Leo Warner, pelo companhia berlinense Schaubühne am Lehniner Platz



Se nesta apresentação o texto, que à época (1888) foi considerado por muitos como maldito e até impedido de ser representado pelas suas conotações sociais - a dama grande burguesa que tenta seduzir John, criado do solar, culminando o drama nas festas do solstício de Verão, que naquelas paragens do norte tem uma noite quase inexistente, propícia a todos os excessos - só será provavelmente reconhecido pelos que o apreciam.
Restarão portanto as relações entre cinema e teatro, que os encenadores quiseram mostrar. colocando neste caso o olhar principalmente na terceira personagem da peça, a criada Kathleen, que está noiva de John. 

Julgo que, para os que não conhecem a obra-prima de Strindberg, e mesmo para alguns de entre eles, o resultado seja decepcionante. 

Espectáculo de festival, controverso, pelas visões muito diferentes que origina. Há saída ouvi, de um publico que já de si é em princípio conhecedor, os "adorei" e os "detestei"...

Acaso, ou não, já tínhamos visto no início deste ano uma uma belíssima adaptação d' A MENINA JÚLIA, no cinema, pela actriz e realizadora sueca Liv Ullmann, uma das preferidas de Ingmar Bergman. Obra que no entanto também suscitou polémica e basta recordar as críticas então lidas... 

Este exercício da Schaubühne acabou por ser para nós um complemento, um termo de comparação, sendo a movimentação dos homens das cãmaras, no seu estranho "bailado", o que para nós foi mais interessante, procurando sempre seguir-lhes o resultado no grande ecrã do fundo palco, onde a imagem segundo os encenadores era sempre real e directa.



17 de Julho, HOMENAGEM AO BALLET GULBENKIAN, pela Companhia Nacional de Bailado, na Sala Grande do Teatro Municipal Joaquim Benite, Almada

Homenagens

Mais um belo momento no 32º FESTIVAL DE ALMADA, com a homenagem ao saudoso Ballet Gulbenkian (1961-2005), em espectáculo da CNB - Companhia Nacional de Bailado (criada em 1977, por Armando Jorge), e também, no bailado "Será que é uma Estrela?" (2015), de Vasco Wellenkamp à sua companheira e grande bailarina, Graça Barroso (1950-2013), estrela maior do Ballet Gulbenkian.

Este bailado foi momento alto do espectáculo no Festival de Almada, emocionante e belíssimo, também com a voz, ao vivo, da Maria João, acompanhada ao piano por João Farinha.

O espectáculo foi magnífico, com trabalhos que foram êxitos do BG, dos grandes coreógrafos que são Olga Roriz, Hans Van Manen e Ohad Naharin.
Para nós foi um retorno à memória dos anos 60, 70, 80, em que acompanhámos como espectadores a maioria dos espectáculos (alguns inesquecíveis!) da companhia extinta, destruída em 2005 por razões que nunca chegámos a compreender bem mas que foi obviamente um lamentável acto de lesa cultura. 

Não esquecer que a criação do Ballet Gulbenkian, nos anos 60, foi pedrada no charco da quase total mediocridade cultural do fascismo salazarista, tal como o foram por exemplo, em diferentes alturas, o novo cinema português, o teatro independente ou o movimento cineclubista.

Nunca é demais lembrar os pares Walter Gore e Paula Hinton, Carlos Trincheiras e Isabel Santa Rosa, Vasco Wellenkamp e Graça Barroso, a ele ligados ao longo das cerca de 4 décadas de existência. Mas seria injusto esquecer Jorge Trincheiras, Armando Jorge, Isabel Queiroz, Mirko Sparembleck, Jorge Salavisa, entre muitos outros.



18 de Julho, AL PANTALONE, de Mário Botequilha, encenado por Miguel Seabra, para o Teatro Meridional, no Palco Grande do Festival de Teatro de Almada

A Comédia dell' Arte mais uma vez em Almada e a fechar o seu famoso festival de teatro!

"(...) Não têm vergonha nenhuma! Aldrabões! O que me espanta é que ainda haja quem acredite nesta gente... A propósito, o "AL PANTALONE", a peça do Mário Botequilha, encenada pelo Miguel Seabra para o Teatro Meridional, que ontem vi no Festival de Teatro de Almada no espectaculo de encerramento, retrata-os bem, aos banqueiros, aos desgovernantes e a essa gente que os rodeia e que tenta entrar-nos em casa... pela televisão... Eu não deixo!"

O 32º Festival de Teatro de Almada terminou.





Brilhantemente com "AL PANTALONE", texto de Mário Botequilha, encenação de Miguel Seabra, representação (excepcional!) do Teatro Meridional, homenageado esta noite por ter sido o vencedor da votação do público em 2014. 

As imagens são de um vulgar espectador (eu), no Palco Grande e só dão uma pequena imagem da grande bancada a transbordar com as várias centenas que conseguiram arranjar lugar.
E já tenho programa para o 33º! (se conseguir estar presente) 
Não vou falhar o espectáculo que o público escolheu este ano - "Um museu vivo de memórias pequenas e esquecidas", que Joana Craveiro criou e interpretou, com sua companhia "Teatro do Vestido". 
Confesso que o director do Festival, Rodrigo Francisco, me pregou um susto quando por brincadeira disse que o prémio teria ido para uma companhia distante, num espectáculo com muitos actores. Cheguei a imaginar o pior... Mas assim a satisfação ainda foi maior... 

Até para o ano, Amig@s festivaleir@s!





24 de Julho, RUMO À FELICIDADE (Till Glädge), de Ingmar Bergman

Quem se lembra de mais esta obra-prima do mestre sueco Ingmar Bergman? Dramática obra que percorre sentimentos que vão da felicidade à tragédia. Belo e trágico, realizado em 1950, continua a emocionar os espectadores. Maj-Britt Nilsson (Marta), Stig Olin (Stig Ericsson) são o casal de violinistas e o grande actor e realizador Victor Sjöström, o maestro Sönderby, num dos seus grandes desempenhos. 

Em exibição num mini ciclo de obras restauradas de Bergman, a decorrer este Verão no cinema Nimas em Lisboa e também no Porto no TM Campo Alegre e depois no Medeia Monumental. Se gostam de cinema e puderem não faltem.


(continua)

PEQUENAS NOTAS SOBRE BONS ESPECTÁCULOS VISTOS NESTE VERÂO (PARTE I )



25 de Junho, O CONTRABAIXO (1980), de Patrick Süskind, dramaturgia e encenação de António Mercado, interpretação de António Fonseca, pel' O Teatrão, visto no Auditório Lourdes Norberto, Linda-a-Velha



Brilhante interpretação, num sedutor espectáculo, entre a palavra. a música e a representação, tendo como personagem, principal e única em palco, um ignorado músico de orquestra. 





4 de Julho, ESCREVER, FALAR, de Jacinto Lucas Pires, encenação de Jorge Silva, interpretação de João de Brito e João Pedro Dantas, pelo Teatro dos Aloés, no Teatro Estúdio António Assunção, Almada

Uma avalanche de palavras, ideias, sons, caem sobre cada espectador e "amarram-no" à cadeira. Chame-se-lhe ensaio teatral ou outra coisa qualquer mas a verdade é que nos fascina pela inteligência do texto. É um personagem, são dois, são mais? A imaginação do espectador acabará por decidir (se for capaz). Suscita o desejo de uma nova visão.


6 de Julho, E OS TEMPOS MUDAM..., com canções e textos de Bertold Brecht, encenação de Manfred Karge, pelo Berliner Ensemble, no Palco Grande do 32º Festival de Teatro de Almada 


Foi um dos grandes momentos do festival deste ano. Suponho que o maior! 
Foi no dia do BERLINER ENSEMBLE, a companhia criada em Berlim por Bertold Brecht (1898-1956), em 1949 pouco depois de regressar do exílio a que foi obrigado devido às perseguições que o nazismo lhe moveu. Fundada em Berlim, na RDA (Alemanha Democrática). 

Esta companhia apresentou, com encenação de Manfred Karge, uma belíssima homenagem ao seu fundador através de 26 canções e 1 texto escolhidas em obras de Brecht, a que deu o nome, baseado numa delas, E OS TEMPOS MUDAM... (da peça Schweyk na Segunda Guerra Mundial). 

Este espectáculo havia sido estreado em 2014, em Paris.




No Auditório do Palco Grande, ao ar livre, cerca de 8 centenas de espectadores aplaudiram esta maravilha de composição e interpretação. 

Brilhante!


9 de Julho, AS FACES DE PESSOA, de Judite Lima, com encenação de Armando Caldas, pelo Intervalo Grupo de Teatro, no Auditório Lourdes Norberto, em Linda-a-Velha


Gostei muito desta bela homenagem ao Poeta (1988-1935), que tem uma obra genial que nos toca a todos. Apesar do eu muito presente, a sua obra é de um universalismo e complexidade admiráveis, que distribuiu pelos seres que criou (heterónimos).

A leitura e interpretação dos poemas de Fernando Pessoa e de textos de José Saramago (de "O Ano da Morte de Ricardo Reis) é magnífica, pelos actores consagrados mas também pelos mais jovens. Não me importarei de rever se conseguir.


"A criança que fui chora na estrada.

Deixei-a ali quando vim ser quem sou;

Mas, hoje, vendo que o que sou é nada,

Quero ir buscar quem fui onde ficou."

"(...), tenho em mim todos os sonhos do mundo."

Não percam no próximo Outono, quando for reposto no mesmo teatro.

Uma nota pessoal:
Um dia houve alguém que me contou que os familiares tinham sido os patrões de Pessoa e se referiam a ele como "o bêbado". Eis como a alta burguesia, medíocre e arrogante, na sua veneração ao deus dinheiro, trata os que explora, ignorando-os e desprezado-os como seres humanos. Por acaso este ser humano era um Génio, mas isso eles nem sequer compreenderam, na sua insignificância de gente rica, estúpida e ignorante! Nem, lamentavelmente, o descendente...

Questões de classe!



(continua)

ENQUANTO SOMOS JOVENS (While We're Young) de NOAH BAUMBACH



Pequenas notas cinéfilas sobre "ENQUANTO SOMOS JOVENS" (While We're Young) de NOAH BAUMBACH

(texto de 17-Jun-2015, já publicado no facebook)

Do Baumbach já conhecíamos, e gostamos muito, "A Lua e a Baleia"(The Whale and the Squid) (2005), "Greenberg" (2010) e "Frances Ha" (2012). 
Nascido em 1969, em Brooklyn, Nova Iorque. Vindo do cinema independente é filho de pais que escrevem ambos crítica de cinema. 
Julgo que esta sua nova obra é do mais interessante neste momento em exibição na nossa cidade, Lisboa.
Porque muitos dos aspectos da vida actual nesta parte do mundo, que é dominada por um sistema económico baseado na exploração do homem pelo homem, um capitalismo predador em fase de agudização, esses aspectos são aflorados, nesta história de desencontros de gerações, muitas vezes aos sons barrocos de Vivaldi.
É também uma homenagem a um grande dramaturgo, referência maior, que é Ibsen, através do seu Construtor Solness, que muito apreciamos.
Filme passado entre gente do Cinema, nomeadamente daqueles que utilizam o documentário como forma privilegiada de expressão.
Não admira a citação a Wiseman, uma das referências maiores do documentarismo feito nos USA (lembrar "National Gallery", em exibição entre nós). Poderia citar também Michael Moore mas aí pesará, talvez, o aspecto político (Moore é "demasiado" à esquerda).



O cerne da questão, e do conflicto, nesta obra, é a necessidade de autenticidade, de verdade dos factos, apesar da relatividade do olhar, que nunca é neutro, o que os mais jovens (no filme), fruto do mundo em que vivem, parecem (ainda) não entender. E mesmo que a ficção se possa imiscuir mas sempre claramente expressa. 
Questão ética, portanto, que rejeita a mentira e a manipulação. Mas esta é, obviamente, uma questão de sempre, embora ganhe novo relevo nos tempos actuais, com a ideologia mais reaccionária no poder, servindo-se da propaganda mentirosa para atingir os seus objectivos.
Há por isso referências ao domínio da informática, ao nascimento e crescimento exponencial da internet e das comunicações que utilizam a digitalização, aos equipamentos portáteis de massa, ao Google (e podiam ser outros) e à sua utilização e instrumentalização pela NSA (serviços secretos dos EUA) para espiar cidadãos e o resto do mundo (a que nem os amigos ideológicos escapam - a Europa neo-liberal de Fraulein Merkel e seus acólitos, cada vez mais acompanhados no poder por neo-fascistas e neo-nazis).



Também há referências à política imperialista dos EUA, às suas agressões e invasões das últimas décadas, aos massacres de populações indefesas, às torturas inimagináveis nas prisões do novo império. Ao terrorismo, cujas origens ficam quase sempre na sombra.
E há na obra uma referência a Karl Marx, através da fala de uma das personagens do filme, que não deixa de surpreender os espectadores. Diz a personagem da obra que num inquérito feito aos cidadãos norte-americanos, sendo-lhes apresentadas várias frases sobre princípios sociais e pedindo-lhes que indicassem quais as que faziam (ou deviam...) parte da Constituição dos USA, a maioria escolheu:


"A cada um segundo as suas necessidades, de cada um segundo as suas possibilidades" !
(para quem não se lembre: em "Crítica do Programa de Gotha")


Noah Baumbach, nascido em Brooklyn, Nova Iorque, 1969, mostrou, através de pequenas referências ao longo da obra, que estas questões continuam presentes na mente de muitos dos seus concidadãos. Pela inteligência com que o fez, mesmo que a obra seja por vezes, no início, um pouco lenta, merece uma visão. Não percam.
Para terminar referir que há uma cena final com uma criança que ainda não fala, que não vou contar, que para mim é um aviso, que não deixa de ser inquietante, sobre aquilo em que o mundo tende a transformar-se se as inevitáveis mudanças no sentido da humanização e do esforço colectivo contra a exploração e a desigualdade, vierem a tardar.