Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

domingo, 17 de maio de 2015

HOMENAGEM A OLIVEIRA - O ESPELHO MÁGICO



“O Espelho Mágico” de Manoel de Oliveira

“Esta semana, por exemplo, a estreia do mais recente filme de Manoel de Oliveira foi menos vista (e muito menos repetida) (na TV) que as cuspidelas (*) de alguns arruaceiros… Alguém falou em jornalismo cultural? Importa-se de repetir?” (* no Mourinho)
João Lopes, DN, 12mar06

Baseando-se (uma vez mais) num romance de Agustina Bessa Luís “A Alma dos Ricos”, Oliveira, tal como aconteceu naquela que é, em nossa opinião, a sua obra-prima, “Vale Abraão” (e o tempo eventualmente o confirmará), subverte o espírito do romance, centrando a acção em Alfreda (Leonor Silveira) tal como o havia feito ainda mais com a personagem de Ema - a Bovarinha, segundo Agustina, (de quem a escritora obviamente não gosta e Oliveira transformou num símbolo de uma certa revolta feminina contra o ambiente fechado e medíocre onde vivem muitas mulheres). 

Em “O Espelho Mágico”, Oliveira transforma o discurso cheio de preconceitos da escritora - que recorre constantemente às metáforas e às frases que coloca na boca das personagens, para definir as suas ideias um tanto ou quanto elitistas e conservadoras, em imagens subtilmente irónicas sobre a decadência das famílias solarengas da região duriense. 

Alfreda, uma mulher ainda em plenitude física, casada com um marido muito rico e mas muito mais idoso, cujo único grande interesse é a escola de música que instalou no solar (o mestre é o Maestro José Atalaya), contrata como motorista um jovem ex-passador de drogas, que por isso esteve alguns anos preso. 

Frustrada, rodeada de padres, um dos quais, doutor em teologia (Michel Piccoli), que a convence de que a Virgem Maria teria sido afinal uma jovem filha de abastada família, passa a sonhar com as aparições desta, como forma de salvação pessoal, enquanto José Luciano (Ricardo Trepa), o motorista, de conluio com um antigo companheiro da prisão, agora transformado em providencial afinador de pianos (Luís Miguel Cintra), para resolver o que consideram ser uma tara da patroa, resolvem inventar uma aparição da Virgem, contratando para o efeito uma jovem, por quem o afinador se acaba por apaixonar… 

As imagens, de grande beleza, como sempre em Oliveira, são por vezes cheias de sensualidade – os banhos de Alfreda na piscina ou no rio ou os ensaios com a falsa Virgem Maria.



Omnipresente estão os espelhos, através dos quais Oliveira, magicamente por vezes, filma as suas personagens femininas, e através dos quais elas se miram e remiram. Até a enfermeira, mulher aparentemente de outra condição, não resiste à tentação, numa das mais curiosas cenas do filme.

Leonor Silveira é a grande actriz de Oliveira, como já sabemos, magnificamente acompanhada pelos restantes. Mesmo que por vezes o discurso tenha alguma teatralidade, o que não é defeito, antes pelo contrário, num cinema em que a palavra é rainha, em longuíssimos planos fixos, e suponho que exija mais dos actores.

Gostei muito, embora possa não ser uma das suas melhores obras, mas não deixa de ser um magnífico filme, com a marca do seu autor, um dos grandes cineastas vivos, pela coerência das suas obras, e pela genialidade revelada nalgumas delas. 

Amoreiras, 12mar06

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