Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

quarta-feira, 22 de abril de 2015

THE SPIRIT OF '45 (O ESPÍRITO DE 45) - (II)



THE SPIRIT OF '45 (O Espírito de 45)

Documentário realizado pelo grande director britânico, Ken Loach, que tanto apreciamos.

É um filme sobre a vida britânica, a começar nos anos 30 e a centrar-se no pós 2ª Grande Guerra Mundial e vindo depois até à actualidade.

Sobre o realizador, relembrar que o primeiro filme que dele vi, e aliás o primeiro que realizou, em 1969, KES (Os Dois Indomáveis) causou-me logo uma grande surpresa pela enorme qualidade do filme de um realizador então praticamente desconhecido, nesse final dos anos 60. Como de outras vezes, sem referências críticas, fomos tocados apenas pela realização magnífica de Ken Loach. 

E nunca mais quisemos perdemos uma estreia sua, sempre que aqui acontece, muitas vezes não chegando a vir, mas isso são os problemas da péssima distribuição que vamos tendo neste país, a maior parte completamente comercial...

Sobre O ESPÍRITO DE 45, relembrar que foi o único período histórico, o do pós-Guerra, que eu tenha conhecimento, em que na Grã-Bretanha houve de facto uma política à esquerda e os trabalhadores e o povo melhoraram as suas vidas e em certos aspectos colaboraram efectivamente na construção da sociedade. 

Há um momento no filme que nunca vou esquecer que é quando o velho trabalhador mineiro fala no chamado no período de ouro do império britânico, mas afirmando ele que nessa época o bem-estar e a riqueza era só para os ricos, porque os trabalhadores e o povo viviam na maior das explorações e miseravelmente! 

O que o filme de Ken Loach mostra também é que ao regressarem de novo ao poder, principalmente a partir dos anos 80 e 90, os ricos e poderosos apressaram-se a destruir o que de social havia sido conseguido para as classes trabalhadores. Destruindo a política de nacionalizações, e voltando a entregar rapidamente tudo aos privados. Destruindo praticamente o Serviço Nacional de Saúde. Voltando a criar desemprego e miséria. Atirando a juventude desocupada para as garras das drogas. Eis a obra da Thatcher, que Blair e seus sucessores continuaram. 

A semelhança com o que se passou no nosso País, com o regresso da política de direita ao poder, no pós-Revolução dos Cravos e depois dos anos em que a sua influência ainda foi sobrevivendo dada a correlação de forças, é mais que evidente. 

Daí o grande sucesso desta obra, mesmo que escondida numa sala marginal à grande distribuição. O renovado Cinema Ideal, histórico cinema do Calhariz / Camões, muitos anos entregue à mais medíocre pornografia.



terça-feira, 21 de abril de 2015

O SAL DA TERRA, de Wim Wenders e Julião Salgado



O SAL DA TERRA, de Wim Wenders e Julião Salgado

Fortíssima sugestão a quem ainda não viu para não perder!

É um filme documentário sobre a obra do fotógrafo brasileiro SEBASTIÃO SALGADO, nascido no Estado de Espírito Santo (não, isto nada tem a ver com medíocres salgados e espíritos santos, de outro jaez, que abominamos).

Realizado pelo famoso cineasta alemão Wim Wenders cuja obra apreciamos e que já homenageou outros grandes artistas seus contemporâneos, que admirava, nomeadamente Nicholas Ray e Michelangelo Antonioni, que já nos deixaram infelizmente há muito mas que colaboraram nos filmes que Wenders sobre eles fez, 

O Sal da Terra foi premiado em 2014 no mais famoso dos festivais de cinema, o de Cannes, com o Prémio Especial do Júri na secção Un Certain Regard. 
Trata-se obviamente apenas de uma das muitas visões possíveis sobre a riquíssima obra do grande fotógrafo. O filme foi realizado em colaboração com o filho Julião Salgado. 

Está em exibição no Monumental, ao Saldanha, e no Cinema Ideal, ao Calhariz!

Paralelamente temos uma exposição sobre o seu último trabalho, GENESIS, na Cordoaria Nacional, aquele compridíssimo edifício, para poder albergar o cordame lá feito em tempos idos, situado na Junqueira, quase paredes meias com o novo e mastodónico Museu dos Coches (que ainda não foi inaugurado... sabe-se lá porquê... mas calcula-se). 

Relembremos a propósito duas grandes exposições sobre a obra de Sebastião Salgado, que vimos, ambas com muitos milhares de visitantes: no CCB e na FESTA DO AVANTE!, tendo o fotógrafo estado presente. 

Pena que no filme de Wenders não tivesse sido referida a presença do fotógrafo durante a REVOLUÇÂO DOS CRAVOS,1974 em Portugal, dela existindo belíssimas e emblemáticas fotografias por ele tiradas. Pena também que no filme só fosse referido a correr aquele que em minha opinião talvez seja, pelo seu significado, o mais belo dos seus álbuns: RETRATOS DE CRIANÇAS DO ÊXODO.

Mas como disse atrás este filme é apenas uma visão e muito mais poderia ser dito sobre a obra deste homem. 

Se Sebastião Salgado, mesmo na mais delicada das suas fotografias, manifesta sempre um grande respeito pelo Homem e pela condição humana, coisa que outros infelizmente não têm, nos RETRATOS DE CRIANÇAS fez uma coisa rara: captou o olhar de esperança no futuro de vários jovens, alguns deles vivendo em atribuladas e perigosas condições. Isso é admirável e comovente porque é um olhar de confiança no Futuro, apesar de toda a desesperança que dele se apossa ao ter estado em locais de guerra e luta, onde o respeito pela vida humana se perdeu, nomeadamente no Ruanda e na Jugoslávia. Não foi dito no filme mas é óbvio para quem vê que os grandes culpados são os que desencadeiam esses conflitos para satisfazer interesses económicos e políticos... e não lhes interessa as consequências humanitárias desde que dominem áreas petrolíferas ou de outros recursos naturais e que consigam o domínio estratégico que lhes interessa...

O filme termina com a tarefa em que Sebastião e a sua mulher, Lélia, se empenharam na última década, de reflorestar e repovoar a zona em que o fotógrafo nasceu, e que as secas e o abate de árvores haviam destruído, num projecto de grande significado humano e ecológico.São de Sebastião Salgado, o maior dos fotógrafos vivos em minha opinião, as palavras que serviram para título do filme. "o Homem é o sal da terra".

Na foto Julião Salgado,  Sebastião Salgado e o cineasta Wim Wenders

NÃO PERCAM!!!