Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

OS MAIAS, de João Botelho



CINEMA E LITERATURA

A recente visão da adaptação de "Os Maias - Cenas da Vida Romântica", por João Botelho, que uma vez mais demonstra ser um dos nossos melhores realizadores, fez-me pensar nas relações entre a grande Literatura e o Cinema. 

O romance, todos sabemos, quer o tenhamos lido ou não (eu li mais de uma vez e espero ainda rele-lo), é uma das obras-primas absolutas da literatura portuguesa, magistral obra de Eça de Queiroz, na qual, a pretexto de histórias mais ou menos passionais, traça um retrato mordaz dos tempos finais da monarquia, em que grassa a corrupção, a falta de escrúpulos e uma certa dissolução de costumes, embora os heróis do romance sejam apenas personagens quase ingénuas apanhadas pela voragem dos tempos. Nada que seja novo para nós, neste início do século XXI, de novo num período histórico em que as classes mais poderosas voltam a ganhar terreno na luta de classes, tal como nessa época e esperemos que também por pouco tempo, como então...

Sobre o filme apenas meia dúzia de constatações, baseando-me só na versão curta (2h15') já que ainda não vi a integral (mais de 3h) mas que quero ver:

Uma excelente adaptação, que melhorará obviamente na versão integral. Com a utilização quase sempre (ou sempre?) de cenários nas cenas de exteriores, o que se compreende pelas razões económicas óbvias. Aliás cenários excelentes que, em minha opinião, não chocam o espectador, muito pelo contrário, porque também são olhados como obras de arte. Uma belíssima direcção de actores, com alguns consagrados e outros que não conhecia. João Perry, um grande nome do teatro, é magnífico em Afonso da Maia, o avô, os dois amantes (e mais não digo), Maria Flor e Graciano Dias são convincentes e Pedro Inês é um João da Ega simplesmente brilhante, isto para falar só dos principais desempenhos porque há outros verdadeiramente magníficos. João Botelho optou inteligentemente pela existência de um narrador (aliás de uma dicção magnífica, o cantor de ópera Jorge Vaz de Carvalho), permitindo-lhe uma ligação ao texto soberbo do Eça. E conseguiu que o humor quase sarcástico do grande escritor aflorasse por vezes, fazendo-nos sorrir às vezes à beira da gargalhada, perante os ridículos da grande burguesia retratada. 



Noutra ocasião referirei os grandes clássicos da Literatura Universal que o cinema tem adaptado às vezes ao nível da obra literária. Dos grandes clássicos russos (Fedor Dostoievski, Leon Tolstoi, Máximo Gorki, Mikhail Sholokhov, etc e outros mais recentes, Chingiz Aitmatov) que principalmente os cineastas da era soviética adaptaram brilhantemente, aos grandes dramaturgos (William Shakespeare, Tennessee Williams, Anton Tcheckov, Bertold Brecht, Eugene O´Neill, Harold Pinter, John Osborne, etc), aos grandes escritores que cultivaram o policial (Dashiell Hammett, Raymond Chandler, Horace McCoy, Georges Simenon, Ruth Rendell, John Le Carré, etc), aos grandes clássicos (Charles Dickens, Victor Hugo, Thomas Mann, Gabriel Garcia Marquez, José Saramago, Cervantes, Rabindranath Tagora, D.H.Lawrence, etc), aos grandes escritores portugueses (Eça de Queiroz, Camilo de Castelo Branco, José Rodrigues Miguéis, Manuel da Fonseca, Agustina Bessa Luís, Manuel Tiago (Álvaro Cunhal), Carlos de Oliveira, José Cardoso Pires, etc). 

Disso falaremos depois procurando seleccionar as adaptações que vimos e que na nossa opinião são as mais brilhantes. Não devemos esquecer todavia que o cinema tem tido ao longo de mais de um século de história grandes argumentistas, alguns dos quais também foram ou são grandes escritores. Mas isso já será outro domínio.

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