O MELHOR de CINEMA e de OUTROS EVENTOS de CULTURA em 2006
Nº 39/06_18SET06
Conforme já várias vezes escrito, estes textos são uma
mera justificação de gosto, dirigida exclusivamente aos amigos, e não são
CRÍTICA DE CINEMA! Muito menos de Teatro…
“Aparajito” (O Invicto), de Satyajit Ray (ÍNDIA) (1956)
***** (5)
A segunda
parte da obra prima “Trilogia de Apu”, descreve a passagem de Apu da infância à
adolescência. Não quero contar agora a história, apenas lembrar que a trilogia
encerrará no dia 23 no mesmo local.
Mas não se
pode deixar de salientar a emoção com que se assiste a este belíssimo filme do
grande mestre indiano, ainda hoje, cinquenta anos depois, e com tanto o que se
passou entretanto na história do mundo, num século (o XX) riquíssimo de acontecimentos
determinantes na história da Humanidade, com enormes avanços (e também recuos)
em todos os aspectos.
Contado com
a serenidade que só os grandes criadores conseguem, sem imagens a mais, apenas
o necessário para transmitir de uma maneira extremamente bela e comovente a
história deste jovem num país imenso, de uma cultura e sabedoria milenares, mas
cheio de contradições, de enormes desigualdades sociais, que persistem apesar
dos esforços de muitos para as minorar.
Há meia
dúzia de cenas neste filme que, pela sua grandeza, pela sua beleza, apesar de
trágicas, fazem parte do nosso imaginário. A delicadeza que ressalta do
pagamento dos fiéis que acompanham as pregações do pai, em Benares; a morte
deste, uma vez mais dada elipticamente; a longa espera da mãe (essa admirável
actriz, e muito bela diga-se de passagem, Karuna Bannerjee (1919-2001) (em
Sabojaya Ray ), que trabalhou com Satyajit Ray mas também com
outro grande cineasta indiano Mrinal Sen, entre outros), mãe que, já muito
doente, espera pelo filho, vindo de Calcutá onde trabalha e estuda, mas que o
comboio que passa ao longe não trará dessa que será para si a última vez. Virá
por fim, ao saber da mãe doente, mas tarde demais, outro momento admiravelmente
representado e comovente.
Apu voltará
desta vez irremediavelmente só para Calcutá, para estudar e trabalhar. A
aprendizagem da vida, as etapas da infância e da adolescência, marcadas por
trágicos acontecimentos - a morte dos entes mais próximos e mais amados – a
irmã, os pais, a mãe em especial, está
ultrapassada. Agora Apu regressa só à grande urbe, Calcutá, para enfrentar a
nova etapa, a da passagem à idade adulta, começando pela aquisição do
conhecimento, tão querida ao cineasta.
Repito:
filme parte de uma obra cimeira da Arte do século XX.
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