NEBRASKA,
de Alexander Payne
Uma surpreendente obra,
pela realização a preto e branco, com particular utilização dos grandes planos
dos rostos das personagens e, principalmente pelo realista retrato de uma
população envelhecida, enfraquecida, desiludida, mesmo entre alguns, ainda mais ou menos jovens
(trintões), desempregados, ou com empregos de ocasião, quase todos tendo no álcool
um refúgio e lenitivo.
E alguns, os mais
velhos, acreditando nas patranhas dos sorteios, dos milionários surgindo do
nada através dos jogos de azar, num país em que os milionários abundam mas por
outras razões - a exploração de milhões, dos quais eles fazem parte. Sonhos impossíveis
numa sociedade de mentira. Pai e filho percorrem milhares de quilómetros, entre
Billings (Montana) e Lincoln, para ir em busca de um desses sonhos, de uma
fortuna falsamente sugerida pelo marketing, que quer vender a qualquer preço,
ainda que o filho, mais jovem, saiba que se trata de um logro, mas não tem
coragem para destruir o último sonho daquele homem envelhecido e frustrado.
Grandes interpretações de Bruce Dern (pai), Will Forte (filho mais novo) e June
Squibb (mãe) e mais alguns magníficos secundários.
Ao verificar que a
obra de Payne se passa em parte em Madison County, mas no estado de Nebraska, fez-nos
recordar o contraste com uma obra célebre, “As Pontes de Madison County”, de
Clint Eastwood, aliás, em minha opinião, um dos bons filmes desse realizador,
que nele contracenou com Meryl Streep, numa das obras românticas mais
conseguidas das últimas décadas, no Iowa, não sendo aliás os dois locais muito
afastados.
Preto e branco versus
cor. Desalento versus romantismo. Duas facetas opostas da arte das imagens - o
Cinema, em cenários distintos, embora com o mesmo nome e não muito afastados.
Fotografado por dois homens decerto diferentes, até em idade, um relativamente jovem
(Payne: 1961), um relativamente velho (Eastwood: 1930). Com objectivos diversos,
também. Da crítica social, obviamente.
Mais realista e preocupada a do jovem, porque não se conforma, julgo.
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