Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

terça-feira, 11 de março de 2014

A PROPÓSITO DOS "ÓSCARES"

Publicado em 2 de Março de 2014, no Facebook

A PROPÓSITO DOS ÓSCARES

Vão ser atribuídos esta noite, no Teatro Dolby, em Hollywood, Los Angeles, Califórnia, EUA. Com apresentação da actriz Hellen DeGeneres.

Não tenho, em geral, nada contra os prémios, quaisquer que eles sejam, apesar de toda a sua relatividade. Este em particular espelha o gosto (só?) da maioria dos sócios votantes da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, organização estado-unidense, julgo que constituida maioritariamente por pessoas ligadas à indústria de cinema naquele país, mais alguns convidados, como aqueles que já foram premiados. E é obviamente aproveitado pela estratégia de tentativa de dominação mundial, gizada pelos políticos no poder nos EUA. São claramente muito mais universalistas os resultados do famoso inquérito, a cada década, desde a de 50, lançado pela revista britânica do BFI (British Film Institute), SIGHT AND SOUND e obviamente muito mais interessantes.

Esta é a 86ª edição dos Óscares, desde 1927/28, anos em que começou.. E na primeira edição os principais prémios foram para o quase esquecido “WINGS” (Asas) de William Wellman e para a obra-prima “SUNRISE” (Aurora), de um dos génios do cinema, F.W.Murnau, o autor do famoso “NOSFERATU” (1929). Neste aspecto até não começou mal.

Mas já na escolha dos actores foi preferido o simpatizante nazi Emil Jannings (conhecido principalmente, além da sua colaboração nos filmes de propaganda nazi, pelo seu papel de velho professor de “O ANJO AZUL” (1930), de um mestre, Josef von Sternberg, com a inesquecível Marlene Dietrich, esta principalmente nas obras do seu companheiro na vida real, Sternberg) ao génio que foi Charles Chaplin, brilhante numa obra-prima que teria merecido muito mais o prémio do melhor filme que “ASAS”. Era o maravilhoso “THE CIRCUS” (O Circo). 

De certa maneira começou como haveria de ser ao longo dos 86 anos. Espelhando o gosto (muitas vezes medíocre) dos seus associados, e por isso escolhendo irrelevâncias, logo esquecidas, em detrimento de algumas obras-primas.

Mas voltando à 86ª edição e aos nomeados pelos associados daquela organização, do que vi, e julgo que vi o melhor, a obra-prima do inglês STEVE MCQUEEN, “12 YEARS A SLAVE” (12 Anos Escravo) seria o meu voto, se fosse sócio (posso rir?), quer para o melhor filme e quer para o melhor realizador.

Mas também gostei muito de “THE WOLF OF WALL STREET” (O Lobo de Wall Street), de Martin Scorsese. 

Quanto ao badalado, por alguma crítica, “AMERICAN HUSTLE” (Golpada Americana), de David Russell, pareceu-me, pelo “trailer”, mais um típico exemplo de um estilo televisivo, de algumas séries de sucesso, com a mesma proveniência, de ritmo algo frenético e desmiolado, que não aprecio nada. Por isso ainda não vi, nem provavelmente conseguirei arranjar tempo para isso... mesmo que venha a ser premiado. 

Fiquei todavia algo surpreendido por aparecer na lista, a obra “PHILOMENA”, do inglês Stephen Frears, que tinha achado muito interessante e bem interpretada. Talvez isso acontecesse como resultado do seu sucesso junto do grande público... Por mero acaso revi há 2 dias na TV um excelente, e esquecido, “HERÓI ACIDENTAL” (Accidental Hero), do mesmo realizador (1990), com Dustin Hoffman, Andy Garcia e Geena Davis, que apesar do seu pessimismo tem alguns aspectos muito interessantes, como a contundente crítica aos Media sem escrúpulos, aliás cada vez mais nas mãos dos poderosos e por isso armas de efeitos muito perversos, contribuindo para a ignorância e engano de grandes massas de utilizadores acríticos. Veja-se a propósito os últimos escândalos com a manipulação de imagens feita pela CNN, a propósito da violência desencadeada pela extrema-direita, evidentemente apoiada pelos EUA, na Venezuela, contra um governo democrático, defensor dos interesses de todo um povo...

Quanto a actrizes e actores, as minhas preferências vão para as personagens de “12 YEARS A SLAVE” (Chiwetel Ejiofor, Michael Fassbender e Lupita Nyong’o) e de “BLUE JASMINE” (Cate Blanchett), este de Woody Allen, um realizador de que gosto muito.

Mas é nas nomeações de cinema estrangeiro que se nota mais a falta de cultura cinéfila das escolhas. Entre alguns filmes muito bons vistos o ano passado destaca-se, quanto a mim, uma obra de Roman Polanski, “LA VÉNUS À LA FOURRURE” (A Vénus de Vison), sobre um tema que noutras mãos se poderia transformar numa grosseria. Polanski no entanto, com a sua elegância habitual, não só formal, transforma-a numa obra muito sedutora sobre a eterna guerra dos sexos. Obviamente que nem sequer aparece na lista...

Como nota final: duvido no entanto que o meu gosto vá ser seguido... Vindo de onde vem nem sequer fico preocupado. Posso rir?

Nota à posteriori - em 3 de Março de 2014
Afinal o resultado das votações não se afastou muito do meu gosto... Porque a grande qualidade às vezes é difícil de esconder...