Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

sábado, 11 de janeiro de 2014

12 ANOS ESCRAVO


12 YEARS A SLAVE (12 ANOS ESCRAVO) de STEVE MCQUEEN 

Em termos de estreias de cinema o novo ano começa bem. 

Na opinião do melhor da crítica (e não só), este filme é outra obra-prima deste jovem artista inglês, nascido em Londres, 1969, pintor mas já aclamado autor de um dos melhores filmes britânicos das últimas décadas, o famoso FOME (HUNGER), escrito em colaboração com outro grande nome da cultura actual, o dramaturgo irlandês ENDA WALSH, que já tem algumas peças representadas em palcos portugueses (que vi e gostei muito, diga-se de passagem). 

FOME falava-nos da greve da fome de prisioneiros irlandeses em cadeias britânicas, na época do governo fascizante dessa nefanda criatura que dava pelo nome de Margaret Thatcher. Do protesto contra as condições prisionais que levou á morte Bobby Sands e outros activistas pela liberdade e independência do seu país, a IRLANDA.

Volto a repetir que não sou (nem quero ser) crítico de cinema ou de outra coisa qualquer, porque não tenho competência (nem me pagam para isso... Posso rir?). Isto é apenas uma mera opinião de espectador, que espero que apreciem. E se não gostarem, paciência.

O tema da presente obra é, como o título indica, a escravatura e o racismo nos EUA, como sempre a coberto da religião e dos interesses económicos. 

Passa-se em meados do século XIX, em vésperas da Guerra da Secessão, que dividiu o país entre os progressistas que queriam abolir a escravatura e os grandes proprietários que a pretendiam manter (no Sul). 

Mais de século e meio depois, e apesar do actual presidente ser pela primeira vez na história dos EUA um negro, os problemas do racismo continuam todavia a existir na sociedade norte-americana, em geral em relação a todas as minorias, inclusive em relação aos judeus pobres. As organizações racistas, aparentemente não legalizadas, continuam a constituir uma ameaça ( como a Ku-Klux-Klan). E a extrema-direita (Tea Party, do Partido Conservador) continua a difundir ideias de segregacionismo.

Steve McQueen adaptou brilhantemente um livro de memórias de um activista negro que, em meados do século XIX, já cidadão livre, foi raptado e levado como escravo para as plantações do Sul, ainda antes da Guerra da Secessão. Onde passará 12 anos nessa situação e só a sua inteligência e determinação na luta pela liberdade possibilitaram a sua libertação. 

Mas foi, como é dito no filme, uma excepção. Todavia a sua libertação não implicou a condenação dos que o tiveram preso 12 anos, em trabalho escravo. À boa maneira da justiça norte-americana os culpados ficaram impunes. Curiosamente Steve McQueen não conseguiu obter sequer dados sobre a última parte da vida de Solomon Northup (grande interpretação de Chiwetel Ejiofor). Estranho, não é?

As filmagens decorreram in loco, na Louisiana. E a direcção de actores é, de novo, brilhante, com uma referência especial para Michael Fassbender, no fazendeiro branco, católico e racista, que trata os seus escravos como animais, mas que não deixa de ter as suas amantes negras a quem protege até certo ponto, enquanto lhe servem...

Não se surpreendam com as estrelas da crítica da especialidade nos jornais dominantes portugueses. Poder-se-ia esperar que os críticos de extrema-direita viessem defender a obra, ao menos pelos seus evidentes méritos como grande cinema? Conhecendo-os, julgo que não.

Não percam, por favor. Mas preparem-se para que o vosso ritmo cardíaco suba, na tentativa de controlar os sentimentos de revolta, ira, que se apossam dos espectadores de uma obra que sabemos tão realista como esta. Aqui não há escapes à Tarantino, tornando os seus escravos em super-heróis que ninguém consegue deter (embora eu também tenha gostado muito da obra de Tarantino). 

Aqui é a realidade nua e crua.


Na foto o realizador com os seus intérpretes principais.

Depois de escrita esta pequena nota tive o prazer de receber o último número da famosa revista de cinema, “Positif”, “luxo” que ainda vou conseguindo manter a despeito do saque e roubo nas reformas e salários a que a actual desgovernação tem procedido, neste e noutros países europeus, ao arrepio das mais elementares regras de convivência numa sociedade democrática, entre Estado e cidadãos. Mas esta, em que vivemos, parece sê-lo cada vez menos... 

E verificar que uma imagem desta obra mereceu as honras de capa da “Positif”. Com uma excelente e extensa entrevista do director da revista a Steve McQueen, neste mesmo número, com a qualidade a que já nos habituaram, mesmo que discordando ás vezes de alguns pontos de vista da direcção da revista. Não é o caso nesta entrevista diga-se.




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