Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

REDEMPTION





“REDEMPTION” (REDENÇÃO), de Miguel Gomes (duração: 27’)

Não tendo previamente lido nada sobre o filme, o que prefiro se possível, em geral, para evitar preconceitos, confesso que até perto do final da obra, tentei compreender em vão o que nos queria transmitir o incontornável autor de “AQUELE FELIZ MÊS DE AGOSTO” e de “TABU”, duas obras de grande qualidade, mas que também tiveram, um raro sucesso de público e crítica, em Portugal e fora dele. 

Que infâncias e juventudes eram aquelas, já assimilando o pior, parecia-me, e que justificações adultas eram aquelas outras, procurando ir à juventude encontrar justificações para o mau comportamento adulto?

De repente, porém, fez-se luz e tudo passou a fazer sentido. Com textos da autoria de Miguel Gomes e da sua co-autora, Mariana Ricardo, a constatação de quem eram os quatro personagens que os autores resolveram caricaturar, num acto de revolta suponho, imaginando-as quando crianças (Passos Coelho), jovens (Angela Merkel), ou recordando episódios juvenis (Nicholas Sarkozy e Silvio Berlusconi), conferiram clareza e coerência à obra, perante o que conhecemos do trajecto humano e político destes personagens na triste Europa em que vivemos. E um sorriso amargo despontou nos rostos dos espectadores. 

Eles são afinal modelos (outros podiam ter sido os escolhidos – Cavaco, Durão Barroso, Blair, Aznar, Sócrates, etc, etc) de vários tipos de fazer política na área do neo-liberalismo, a nova forma que as classes dominantes encontraram nas últimas décadas de manter e aumentar os níveis de exploração dos trabalhadores e de condicionarem a luta dos povos pelos seus direitos, surgindo até entre esses políticos, e os seus porta-vozes, principescamente pagos na comunicação social, nos mais radicais de entre eles, o incitamento à repressão e à retirada de direitos fundamentais, duramente conquistados ao longo de gerações, como o direito inalienável em Democracia, que é o direito à greve.

Miguel Gomes imaginou, com algum humor sarcástico, e cáustico, o que, na infância e juventude desta gente, pode ter pesado nos homens e mulheres em que eles se vieram a transformar, para mal de todos nós. 

Um documentário político, que não agradará obviamente a “gregos e troianos”. Ainda bem! 

Um hiato no conjunto da sua obra, com o humor que todos lhe reconhecem. 

Um protesto, com o seu quê de iconoclasta para a toda poderosa indústria do cinema, de um jovem cineasta português. 

Um protesto também contra a incultura que grassa entre estes políticos e que põe em risco a própria indústria do cinema em países como Portugal. E muito mais, obviamente, o cinema como representação artística.



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