Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

LEITURAS - HENNING MANKELL



LEITURAS

DEN OROLIGE MANNEN (Um Homem Inquieto) (2009)

De Henning Mankell (Estocolmo, 3-Fev-1948)

1-Uma pequena nota para os meus amigos facebookianos, nomeadamente para os que apreciam a chamada literatura policial, sobre a última obra publicada entre nós daquele escritor sueco, e que tem como protagonista principal o inspector Kurt Wallander. Será aliás a última em que ele surgirá, tomando em consideração o derradeiro parágrafo desta obra, por muito que isso custe aos seus leitores, embora haja um provável continuador na sua filha Linda Wallander.

2-Um aviso prévio de que se trata de uma obra para leitores adultos, no sentido mais lato do termo. 

Porque se é certo que a escrita de Mankell fascina, os escolhos de leitura são muitos e há até um momento em que apetece pôr a obra de lado. Não por ser literariamente inferior, bem pelo contário, mas porque parece reflectir os clichés, reaccionários e preconceituosos, massivamente propagandeados pelos órgãos do sistema capitalista, durante a Guerra Fria, ficando no leitor a dúvida se reflectirá o ponto de vista de Wallander, polícia competente e arguto na investigação, mas de uma ignorãncia política muito grande, ou às vezes do próprio escritor...

3-No entanto uma das mais belas passagens do livro é quando Wallander deixa o meio da alta burguesia e vai conversar  com uma trabalhadora (interrogar), empregada de restaurante já reformada, que travou conhecimento directo com os militares de alta patente que surgem na complexa intriga.

4-Kurt Wallander, oficial de polícia, de 60 anos, já com uma já longa carreira que os leitores foram acompanhando em obras anteriores, e que, de certo modo, ele revisita ao longo deste romance; a sua filha Linda, que segue as pisadas profissionais do pai; as mulheres da vida de Kurt, Mona e Baiba, com desenlaces trágicos; a neta Klara; o Pai, já falecido, a quem finalmente o filho parece entender, e que aliás mostrava uma perspicácia política muito superior à de Wallander; os colegas de profissão: eis o universo próximo de Wallander. 

O resto são os von Enke, uma família da alta burguesia, e os que os rodeiam, principalmente oficiais superiores das forças armadas suecas.

O relato que Mankell faz da sociedade sueca é muito pouco lisonjeiro, mostrando-nos como é pouco verdadeira a aura de serem progressistas as sociedades nórdicas, conforme à ideia propalada pela comunicação social de tendência social democrata. O romance fala nomeadamente do ódios dos conservadores, em especial nas forças armadas e da alta burguesia, a Olof Palme, o primeiro-ministro assassinado em circunstâncias ainda hoje não esclarecidas. Tal como refere o feroz anti-comunismo dos mesmos meios.

Não devendo ser aqui referida a intriga com mais pormenor, para evitar que o suspense se perca, recomendo a leitura aos que apreciam este género de literatura, a dita policial. 

Henning Mankell é sem dúvida um dos melhores autores contemporâneos do género, principalmente se estivermos atentos ao ambiente social e político em que se movem as suas personagens.


Nota à posteriori

A série televisiva adaptando os romances de Henning Mankell não chegou aos nossos pequenos ecrãs, julgo que fruto da lamentável subserviência dos programadores de TV portugueses ao  que entendem ser o "gosto do mercado"... O resultado é uma programação em geral medíocre, quando não ainda pior e a que normalmente se costuma designar por lixo, com uma predominância das séries norte-americanas de baixa qualidade  ou das telenovelas cujo único interesse são os desempenhos das estrelas, muitas vindas do teatro em crise e que recorrem à televisão para sobreviver. 
Quem me lê sabe que não sou um fã desta televisão que nos "dão", embora me interesse pela qualidade e não teria dificuldade em citar umas poucas dezenas de grandes obras para o pequeno ecrã, vistas ao longo do tempo, de vários proveniências, desde o Brasil, aos EUA/Canadá e Europa, incluindo Portugal, e que considero magníficas. Fica para outra oportunidade. Por agora, resta este lamento...

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