Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

IR AO TEATRO - A NOITE, de José Saramago



Sobre “A NOITE”, de José Saramago

Foi em 1979 que José Saramago escreveu a sua primeira peça de teatro, justamente esta, aceitando o desafio da saudosa encenadora e autora, Luzia Maria Martins, a criadora com a actriz Helena Félix do Teatro Moderno de Lisboa, que durante inesquecíveis anos, para quem goste de teatro, esteve sediado no Teatro Vasco Santana, na Feira Popular de Lisboa (ao Campo Pequeno), “barracão” onde assistimos a grandes espectáculos.

A Revolução de Abril já havia sofrido sérios reveses (“já estragaram a tua festa, Pá”, Chico Buarque, na segunda versão de “Tanto Mar”, após o 25-Nov-1975) quando Saramago a escreveu.

A peça é uma homenagem a esse momento único que foi a madrugada de início de um dos mais belos acontecimentos (em minha opinião e espero que não só) da História do nosso país, que vivemos ou de que nos chegam os ecos, ao longo de mais de oito séculos de existência (já somos velhinhos...). 

Mas também é intemporal, porque retrata pessoas perante situações críticas, retrata comportamentos que têm a ver com a classe social e os interesses dos envolvidos. E a sensação que fica ao espectador comum é que conheceu gente como aquela (eu conheci...). Aí é a mestria de um grande escritor, capaz de nos transmitir, com inteligência e rara simplicidade, sentimentos e comportamentos profundos, que jogam com a natureza humana, mas que vêm ao de cima fruto do meio e da época em que surgem. Não admira portanto que a visão desta peça nos emocione, por vezes fortemente, relembrando a nossa própria vivência daquele momento histórico maior, mas também pela exaltação de valores que fazem com que continuemos a acreditar na Humanidade.

Em 1979 a peça subiria ao palco pela primeira vez, representada pelo Grupo de Teatro de Campolide, na sua versão integral, e encenada por um dos maiores nomes do Teatro em Portugal, Joaquim Benite, que nos deixou recentemente.

A versão actual resulta de uma adaptação de Paulo Sousa Costa e encenação de José Carlos Garcia. Embora eu tivesse preferido ouvir o texto original de José Saramago (porque julgo que o texto dos autores deve ser, sempre que possível, respeitado na íntegra), julgo que as modificações operadas, como a redução das personagens para cerca de metade, ou as falas de Faustino, ou o fortíssimo final do original, embora discutíveis, especialmente a última, não alteraram as intenções do autor. 

O sucesso de público, obviamente desconhecedor, na sua grande maioria, da peça na sua versão escrita, ou mesmo em relação a anteriores representações, mostra que esta encenação da obra de José Saramago atinge o objectivo de interessar e emocionar o público. Para isso muito contribui o brilhante desempenho dos actores e nestas coisas prefiro em geral não fazer saliências pessoais quando o conjunto é muito bom. Mas aqui também não seria justo deixar de referir o trabalho de grandes actores nos papéis principais, como João Lagarto, Vítor Norte, ou Paulo Pires.

Como a afluência de público obriga a prolongar a sua representação até meados de Janeiro, sugiro que quem possa não perca. É no Teatro da Trindade, em Lisboa. E já agora não deixem de ler também a peça. 

A propósito, embora já as tenha visto adaptadas à ópera (e gostei), gostaria muito de ver em palco outras duas peças de José Saramago, de que gosto muito: “In Nomine Dei” e “Dom Giovanni, O dissoluto absolvido”. Terei como espectador essa boa sorte?


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