Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

HANNAH ARENDT

HANNAH ARENDT é uma obra sobre um episódio da vida dessa filósofa alemã, que a perseguição aos judeus na Alemanha nazi fez emigrar a tempo (1933) para os Estados Unidos da América, escapando assim aos anos terríveis que se aproximavam e que deram origem a um dos mais tenebrosos períodos de perseguição e crime da História da Humanidade, o Holocausto, espécie de Inquisição do Século XX, onde não só os judeus (e membros de outras comunidades consideradas inferiores pelos ideólogos nazis), pereceram aos milhões, mas também todos os que não se submeteram à ideologia nazi, a começar pelos comunistas.

Como se trata de uma pequena nota escrita directamente no facebook não tenho tempo para explanar com profundidade as razões porque o filme me desiludiu, com a sua "defesa" (justificação?) de Arendt. Digamos que exige um certo conhecimento histórico para situar a personagem e a controvérsia à volta de dois temas - a "sua" banalidade do mal e a responsabilidade dos líderes judeus (segundo Arendt) na dimensão do Holocausto. 

Para os que conhecem minimamente a vida e obra da filósofa sabem da sua perigosa tendência para envolver carrascos e vítimas no mesmo saco, ou exploradores e explorados, opressores e oprimidos, o que vem a dar no mesmo. 

A sua paixão e relacionamento amoroso com o seu professor e também filósofo, Martin Heidegger, que viria a aderir ao nazismo, não será afinal tão contraditória como alguns pretendem. As outras personagens que aparecem no filme estão apenas esboçadas, como a sua amiga Mary McCarthy, escritora e personagem de trajecto muito controverso, que na obra de Von Trotta aparece a dizer mal de Ernest Hemigway, o grande escritor norte-americano. Porque fez o que a maioria dos intelectuais não é capaz? Ser coerente e se ter alistado nas Brigadas Internacionais que na martirizada Espanha do final dos anos 30 lutaram contra as hordas fascistas de Franco, as quais apoiadas pelos nazis e Salazar, acabariam por derrotar a novel e progressista República Espanhola e tomar o poder sobre os corpos de milhares de vítimas.

Este filme de Margarethe Von Trotta passa-se durante o julgamento de um responsável nazi, Adolf Eichmann, pelo envio de milhares de pessoas para os campos de extermínio, o qual os serviços secretos israelitas, Mossad, raptaram na Argentina (1960) e levaram para Israel a fim de de ser julgado. O que veio a acontecer, terminando o julgamento com a condenação, desse criminoso nazi , à morte por enforcamento (1962). 

2- Hannah Arendt, à época jornalista em Nova Iorque, EUA, da revista The New Yorker, seria enviada em trabalho para cobrir o julgamento. Foram as suas crónicas, publicadas nessa revista, que provocaram à época enorme polémica, nomeadamente por aqueles que viram nelas uma justificação daquele alto responsável nazi, que alegou em sua defesa apenas ter cumprido o seu dever, isto é ordens, como se fosse um simples soldado raso (e mesmo assim não se livraria da questão moral)...

Apesar das limitações da obra, que retrata Hannah Arendt como alguém que faz face à opinião pública e não desiste dos seus intentos (viria mesmo a publicar um livro defendendo as suas teses), mas faltando-lhe, em minha opinião retratar melhor os meandros do seu pensamento e o das personalidades que a rodearam, dispensando as cenas laudatórias (conferência na universidade) sem o que, os menos avisados, poderão concluir que teria razão, apesar dessas limitações a obra justificará sempre uma visão. 


Foto feita por mim na Festa do Avante! de 2005

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