Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

sexta-feira, 17 de maio de 2013

LE CAPITAL (O CAPITAL), de COSTA-GRAVAS


Para quem puder a não perder mais um excelente filme de COSTA-GRAVAS (Konstantinos Gravas, 12-Fev-1933, Loutra-Iraias, Grécia), celebrado autor de "MISSING" (1982) (ganhou um ÓSCAR), "Z- A ORGIA DO PODER" (1969) ou "ESTADO DE SÍTIO" (1972), entre outros. 

Agora é o retrato, assustador, do que se passa no coração do sistema capitalista, no mundo da alta finança, com as suas instituições bancárias, bolsas, agências de rating e afins, para cujos responsáveis os milhões de seres humanos não passam de números que podem engrossar de um momento para o outro as estatísticas do desemprego ou da miséria, conforme os interesses das instituições financeiras ou das grandes multinacionais.

No discurso final, o arrivista, figura central da obra de COSTA-GRAVAS, que chega ao topo do Banco e, para gáudio dos accionistas e demais administração, repete a palavra de ordem "ROUBAR AOS POBRES PARA DAR AOS RICOS!", numa fase da Luta de Classes em que levam vantagem com a sua globalização capitalista. Mas a Luta de Classes conhecerá inevitavelmente novos desenvolvimentos e os Povos voltarão a derrotar a exploração, como aliás acontece, felizmente, nalgumas zonas deste mundo. 



COSTA-GRAVAS, neste seu filme muito actual não deixa de lembrar o passado, de esquerdismo, como o de tantos outros arrivistas quando jovens, que conhecemos também no nosso país e que chegaram até à presidência da Comissão Europeia, do novo presidente do banco (excelente Gad Elmaleh) que (no filme) quer ser o maior desta Europa em que vivemos. Se puderem, vejam.

(publicado no Facebook)


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REGRA DE SILÊNCIO (THE COMPANY YOU KEEP), de ROBERT REDFORD


"THE COMPANY YOU KEEP" (Regra de Silêncio), de Robert Redford, que também é o actor principal.


Outro belo filme de Redford, o actor de quem gostamos muito, mas que também é um realizador de mérito, com uma dúzia de obras excelentes. Dirigindo grandes nomes, como Susan Sarandon, Nick Nolte ou Julie Christie, entre outros.

Não vou desta vez, propositadamente, falar no argumento. Prefiro que vejam. Só dizer que é mais uma obra a mostrar que o "Big Brother" é uma realidade assustadora, com as polícias que o servem, isto é, que servem o grande capital. E o dilema das personagens merece meditação. Cinema realista que faz pensar. Não perder para quem puder.




(publicado no Facebook)

NO (Não), de PABLO LARRAIN


NO (NÃO), de Pablo Larrain

"NO", o filme do realizador chileno Pablo Larrain, sobre a campanha para o Referendo (Plebiscito) que os fascistas foram forçados a autorizar, em 1988, cuja questão era a continuidade de Pinochet no poder. 

A obra baseia-se numa peça de Antonio Skármeta (Autofagasta, Chile, 7-Nov-1940), o multi-premiado escritor, autor de "O Carteiro de Neruda" ou "Ardente Paciência", grande sucesso literário, e também na ópera (Il Postino, de Daniel Calán, com Placido Domingo como Neruda, Los Angeles, EUA, 2010), no teatro (Carlos Porto e Joaquim Benite, com a TMA) e cinema (duas versões: a do próprio Skármeta, filmada em Portugal em 1983, e a de Michael Radford (1994), esta um enorme sucesso mundial; ambas magníficas!), entre várias outras obras que escreveu, também de grande sucesso.

Skármeta, esteve 16 anos exilado, entre 1973, ano do golpe fascista e 1989, depois do Plebiscito. No exílio saiu acompanhado, entre outros chilenos ilustres, por Raul Ruiz, o celebrado realizador em Portugal da obra-prima "Os Mistérios de Lisboa", baseada num romance do nosso Camilo.




O resultado do Plebiscito é conhecido! O "NÃO" venceu, apesar de toda a repressão fascista, que o filme aliás mostra.

O filme é muito interessante, também por relembrar quem apoiou o golpe do fascista Pinochet, responsável pelo assassínio de milhares de chilenos e que depois continuou a apoiar o regime. Pinochet, apesar de indiciado e constituído arguido, nunca chegou a ser julgado e condenado, protegido pelos seus amigos e correlegionários, Thatcher e Aznar e pelos EUA.



Partidos e Movimentos pelo "NO”: (fonte: Wikipedia)

Partido Demócrata Cristiano
Partido Radical
Partido Social Democracia de Chile
Partido Liberal
Partido Radical Socialista Democrático (Facción Sule/Luengo)
Partido Humanista de Chile
Partido Los Verdes
Partido Democrático Nacional (PADENA)
Unión Socialista Popular USOPO
Partido Socialista-Almeyda
Partido Socialista-Núñez
Partido Socialista-Mandujano
Partido Socialista Histórico
Partido por la Democracia
Movimiento de Acción Popular Unitario MAPU
Movimiento de Acción Popular Unitario Obrero campesino MAPU-OC
Izquierda Cristiana
Partido Nacional por el NO
Partido Comunista de Chile (PCCh)
Movimiento de Izquierda Revolucionaria (MIR)

(publicado no Facebook)

domingo, 12 de maio de 2013

TO THE WONDER, de TERRENCE MALICK


Uma Justificação prévia: como sou um bloguer de "trazer por casa" (posso rir?), não tenho nem tempo nem talento para grandes coisas. Assim vou partilhando, nos vários meios a que ainda me dão acesso, pequenas notas de gosto, dedicadas aos amigos. Espero que não me levem a mal...

A introdução no correio electrónico (e-mail): 
Retransmito para  as(os) interessad@s uma pequena nota que já publiquei ontem no Facebook, sobre uma das obras em exibição na minha cidade, que julgo valer uma visão (ou mais...). Acima de tudo para os que gostam muito de Cinema e possam despender tempo e dinheiro... No entanto, não pensem que sou crítico de alguma coisa. Sou apenas um modesto espectador apaixonado pelo que considero ter qualidade.
Abraços 
Egas

O texto original do Facebook, com uma ou outra gralha corrigida (se escapou alguma, peço desculpa):

“TO THE WONDER”, “À LA MERVEILLE” ou “A ESSÊNCIA DO AMOR”, de Terrence Malick 

Um poema escrito em linguagem do cinema. Outra belíssima obra, apenas a décima, deste grande cineasta norte-americano, nascido em Ottawa, Illinois, EUA, em 30-Nov-1943.


Julgo que o título português não é muito feliz. Compare-se com o original em inglês, ou com o francês. O que Malick nos vem dizer novamente, em minha opinião, é que é para a Natureza, às vezes muito bela mas sempre indiferente aos sofrimentos humanos, que podemos sempre olhar, sem ficar desiludidos. 


Quanto à desesperada procura do amor eterno, da felicidade, seja lá o que isso for, é uma tarefa humana por excelência, que muito poucos conseguem alcançar. 



Nesta obra, com imagens de marca do autor, belas como raramente as vemos nos ecrãs, quase que podíamos dispensar as palavras.
Lembrei-me de uma frase que li, dita por outro génio da Sétima arte, o cineasta italiano Bernardo Bertolucci, famoso autor de “Novecentos”, de “O Último Tango em Paris” ou de “The Dreamers” (Os Sonhadores): - “Um filme de Chaplin será interpretado de um modo muito semelhante por um italiano, um brasileiro e um japonês. O cinema é a única língua que todos podem compreender porque, como dizia Pasolini, o cinema é a língua da realidade.”

E no entanto poderíamos falar, a propósito deste filme-poema, muito sobre tudo isto – o amor, a paixão, a adoração (aos deuses), e com visões muito pessoais, porque Malick nos deixa campo para isso. Embora eu seja ateu, não me chocaram os aspectos mais ou menos místicos da obra, e não sei sequer se Malick é seguidor de alguma religião, porque não me parece que isso seja o essencial.
O filme fecha com outra imagem do Mont-Saint-Michel (a que apresentamos em baixo é do início do filme), uma das obras arquitectónicas com mais forte ligação à Natureza que a rodeia (pelo menos em minha opinião), e talvez por isso deixa-nos uma impressão imperecível. 
Recomendável para os que gostam muito de Cinema e não se impressionam com um estilo às vezes muito contemplativo.




sexta-feira, 10 de maio de 2013

HOMENAGEM A ARMANDO CALDAS

NO TEATRO


HOMENAGEM A ARMANDO CALDAS - Aos 55 anos de carreira, dedicada ao Teatro, à Cultura, à Cidadania!

Foi bonita a Festa, Armando! Com aqueles momentos mágicos de que tanto gostas (e gostamos) e que sempre acontecem nos espectáculos de Cultura e talvez acima de tudo de convívio, que organizas.
Num teatro cheio como um ovo, a homenagem do concelho onde há longos anos o Armando Caldas trabalha. Em Oeiras, através da sua Câmara Municipal, a que se associaram muitos amigos - os participantes no palco e os que couberam no Auditório Municipal Ruy de Carvalho, com os seus cerca de 500 lugares. Também com a participação dos actores e colaboradores da sua companhia, o Intervalo Grupo de Teatro. 



Foi emocionante e comovente por vezes, ver quanto este cidadão é estimado pelos seus colaboradores, pelos seus pares, pelos seus espectadores, pelos seus camaradas, por quem com ele convive. Não é só por ser militante das causas sociais, por ser militante comunista. Acima de tudo, julgo, porque leva à prática, na sua vida, o seu ideal, conseguindo congregar à sua volta gente boa, não importa se com ele comunga de todos os seus ideais de futuro. Isso é e será sempre admirável. As suas palavras de agradecimento foram de uma elevação rara, que só os grandes carácteres conseguem. Obrigado, Armando, pelo que tens feito, pelo que nos tens dado.

(texto publicado no facebook)





UM DIA OS RÉUS SERÃO VOCÊS - O Julgamento de Álvaro Cunhal


NO TEATRO

Quem puder que não perca mais este magnífico espectáculo da Companhia de Teatro de Almada (CTA), no Teatro Municipal Joaquim Benite (TMJB), em Almada. 

Vi ontem esta bela homenagem a uma das mais brilhantes figuras do Século XX, revolucionário comunista e homem de grande cultura, autor, para além da obra política e sociológica, de romances, pinturas e desenhos, obras que julgo que o tempo nunca fará esquecer, dada a sua enorme dimensão humanista e enquanto houver seres humanos neste nosso mundo. E apesar de, como tem acontecido nos últimos tempos, as ideologias anti-humanistas procurarem silenciar o seu testemunho, eliminando-o até de compêndios escolares (!) ou, o que é mais grave, deturpando-o. 
Um dos aspectos em minha opinião mais admiráveis desta notável abordagem teatral foi a enorme sobriedade da encenação, com o grande mérito de colocar as palavras em grande destaque. Tratava-se da teatralização da defesa, depressa transformada em acusação contra o regime opressor, feita pelo próprio Álvaro Cunhal no tribunal plenário, caricatura de tribunal que o fascismo criou para condenar quem lhe caísse nas mãos (Tribunal da Boa-Hora, 2 e 9 de Maio de 1950). 



Essas palavras, ouvidas hoje, já na segunda década do século XXI, continuam a ter, infelizmente, a maior das actualidades. 
Julgo que Joaquim Benite, o Mestre precocemente desaparecido, não teria feito muito diferente se tivesse tido ainda tempo para realizar o seu sonho de criar e encenar esta peça.
Uma palavra de grande aplauso para o actor principal, Luís Vicente, brilhante no desempenho dessa figura maior da nossa Política e da nossa Cultura e para o encantamento que foi ouvir e ver o "Acordai", de Fernando Lopes Graça, canção obrigatória nos tempos sombrios por que passamos agora, interpretada pelo Coro dos Pequenos Cantores do Conservatório de Lisboa. Um olhar para o futuro que nos tocou profundamente! Admirável!

(texto publicado no facebook)

quinta-feira, 9 de maio de 2013

LA MIGLIORE OFFERTA (A MELHOR OFERTA)


LA MIGLIORE OFFERTA” (A Melhor Oferta), de Giuseppe Tornatore (embora a versão exibida seja infelizmente a inglesa)

A primeira surpresa foi ver mais de 3 dezenas de espectadores numa sala de um cinema de muitas salas (Corte Inglês), na última sessão em que a obra ia ser exibida na nossa cidade, ao fim da tarde, o que é magnífico. Aliás a obra havia esgotado a maior sala do S.Jorge, durante a Semana do Cinema Italiano.

O autor, Giuseppe Tornatore (27-Mai-1956), realizador e argumentista, é o famoso cineasta siciliano que tem no activo alguns filmes notáveis, alguns dos quais de que gosto muito, entre eles um dos mais belos filmes de sempre sobre o próprio Cinema, amado por quase todos os que gostam da Sétima Arte, que é o inesquecível “CINEMA PARAÍSO” (1988). E julgo que se alguns o reprovam é principalmente por causa da célebre cena das cenas dos beijos apaixonados, cortadas pela censura fascista, em Itália, em Portugal, como sempre onde eles dominam. Uns porque não gostam de beijos, outros porque os preferem nos recônditos das sacristias, chamem-se Amaro ou outra coisa qualquer.

A MELHOR OFERTA”, é de facto um filme muito interessante, a merecer uma visão. De qualidade muito acima da média, na qual não parecem ter reparado os críticos dos jornais dominantes. Os do “Público” nem sequer se dignaram a ir ver (Posso rir?). Como não acredito em coincidências, interrogo-me: porquê? Calculo qual é a resposta, já que Tornatore sempre foi um “mal amado” pela crítica neo-liberal dominante, consequência óbvia da sua crítica muito directa ao fascismo no seu país, a Itália.

O filme passa-se no meio dos que negoceiam com a Arte, com os seus leilões, as suas pequenas e grandes trafulhices, com que se fazem fortunas e em que os enganados são os novos e os velhos ricos, que compram o que não conhecem e, às vezes, deixam escapar entre as mãos obras que valem fortunas.



Não vou falar sobre o argumento, porque o suspense não está dele ausente, provocando desde início uma certa inquietação no espectador. Estado de espírito que a música de um grande compositor como Ennio Morricone (Roma, 10-Nov-1928) ajuda a criar. E as interpretações são excelentes.
Referir ainda que muitas obras de Arte estão presentes nas imagens, obras dos grandes mestres, todas representando a Mulher. Se forem ver o filme irão compreender a razão. Fizeram-me lembrar, por razões muito diferentes, os fotogramas coleccionados pelo velho projeccionista, Alfredo, de “Cinema Paraíso”, com os tais beijos apaixonados, que os censores fascistas, às vezes de sotaina, mandavam cortar e destruir, mas que o projeccionista (Philippe Noiret) guardava e que depois deixava Totò ver.

Primeira Nota , que não tem a ver com este filme: Uma recriminação ao DN por ter cortado os nomes dos autores na lista de filmes em exibição, juntando-se assim à prática de longa data, lamentável, do seu congénere, o matutino “Público”, pertença do pouco culto Belmiro. Quer queiramos quer não, essa presença ou ausência, é um indicador da cultura de quem dirige a página cultural desses jornais. Ou será que é assim tão caro? Tenho vontade de pôr um epíteto mais desagradável mas vou deixar assim... Posso rir?

Segunda Nota, sobre o que está em exibição na minha cidade, e gostava de ver, mas por este andar, com a parca reforma que está a ser sucessivamente saqueada por estes desgovernantes que ignoram deliberadamente a Constituição que rege o País e que fazem tábua rasa de compromissos assumidos, qualquer dia quase nada disto poderei ver... Estou atento, não tenho é possibilidades de ver o que gosto!

Com as respectivas “pontuações” (de 0 a 10) do IMDB. Eu sei que o seu significado é muito pouco relevante, mera opinião dos leitores daquele sítio da Internet, mas ordenei-os por aí, como uma ordem de prioridades de visão:

-A MELHOR OFERTA ( La Migliore Offerta), de Giuseppe Tornatore (8)
-NÃO (No), de Pablo Larrain (7,5)
-PROFESSOR LAZHAR (Monsieur Lazhar), de Philippe Falardeau (7,5)
-É O AMOR, de João Canijo (7)
-FAUSTO (Faust), de Aleksander Sokurov (7)
-O CAPITAL (Le Capital), de Costa-Gravas (6)
-REGRA DE SILÊNCIO (The Company You Keep), de Robert Redford (6)
-OS AMANTES PASSAGEIROS (Los Amantes Pasajeros), de Pedro Almodóvar (6)

E se ainda houver orçamento e tempo, por serem, julgo, os menos interessantes:

-A RAPARIGA DE PARTE NENHUMA (La Fille de Nulle Part), Jean-Clude Brisseau (6)
-VIAGEM DE FINALISTAS (Spring Breakers), de Harmony Korine (6)



Obs: Texto publicado em primeiro lugar no Facebook

CENTENÁRIO DO CINEMA INDIANO


SOBRE CINEMA - Centenário do Cinema Indiano
É na Índia que se continuam produzir mais filmes. Mais que os EUA ou a República Popular da China!
E tudo começou há um século, com a estreia do primeiro filme produzido naquele país, então ainda ocupado pelo império britãnico. Foi em Bombaim, e era uma adaptação do mais famoso dos poemas épicos indianos, "Mahabarata". O filme chama-se "Raja Harishchandra" e foi realizado por Dadasaiheb Phalke. Não posso falar do Cinema Indiano sem referir o mais célebre dos seus realizadores, Satiajit Ray, cujas obras principais foram exibidas na Europa. A sua "Trilogia Apu" (que revi na Cinemateca há poucos anos) é uma obra-prima absoluta e, pelo menos para mim, continua na reduzida lista de obras máximas da Sétima Arte.
A propósito recuperei um texto que escrevi aquando da visão de "Mother India", também na Cinemateca, para as(os) amig@s interessados.




"MOTHER INDIA, de Mehboob Khan (IND) (1957) (visto na Cinemateca)
Nos anos 50, passou em Portugal, nomeadamente (e salvo erro) no velho cinema Odeon, “Prestígio Real” (1952), filme deste famoso cineasta indiano. Grande sucesso universal, também o foi em Lisboa, estando mais de um ano em exibição e vimo-lo então como quase toda a gente. (embora ainda adolescente)
No entanto “Mother India” (provavelmente o seu maior sucesso e um dos maiores da história do cinema indiano – um dos mais importantes do mundo, pelo menos em quantidade de obras produzidas), não foi exibido em Portugal, muito provavelmente banido pela censura.
O que continua a ser admirável neste melodrama de Mehboob (1906-1964), com quase três horas de duração, apesar do seu classicismo, é o sentido popular, no bom sentido, dirigido às grandes massas, fluindo entre as cenas de intenso dramatismo e as de festa, com as manifestações de alegria popular, nunca caindo no ridículo, mesmo aos olhos intelectuais urbanos do início do século XXI.
A história do Cinema (e a propósito refira-se o belo texto de José Manuel Costa, em “Cinemas da Índia”, crítico que se destaca nas publicações Cinemateca, pela qualidade dos seus escritos), refere-se-lhe como sendo uma espécie de Mãe Coragem Indiana, interpretada pela famosa actriz Nargis. Os verdadeiros heróis são parte do povo anónimo, constituindo este, de facto, o grande protagonista da saga. É a vida dos camponeses que é mostrada, com todos os seus dramas (e algumas poucas alegrias), ocasionados pelas condições de exploração, por vezes sub-humanas, em que trabalham e vivem, ficando a religião, que outros tendem a mostrar como o principal, para segundo plano, reduzida à sua real função de tentativa de lenitivo para as agruras da existência, e como tal acarinhada pelo poder.
Aliás é fundamentalmente, nestes aspectos – cinema de massas, o povo como protagonista, que se lhe podem apontar influências do cinema soviético e por outro lado o diferencia radicalmente do cinema de Cecil B. de Mille, com o qual alguns o querem aparentar.
Apesar da sua longa duração, vê-se sem ponta de fastio e com alguma emoção."



Nota: texto publicado em primeiro lugar no Facebook