Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

terça-feira, 21 de setembro de 2010

IN MEMORIAM CLAUDE CHABROL

CLAUDE CHABROL (Paris, Junho de 1930- Setembro de 2010)

Homenagem a um dos grandes do cinema francês e não só. Crítico mordaz da vida burguesa. Um dos dos "fundadores" da Nouvelle Vague, nos anos 60, juntamente com Truffaut, Godard, Rohmer, principalmente. Vimos nessa época os seus primeiros filmes, "Le Beau Serge" (1957) e "Les Cousins" (!959) no movimento cineclubista (C.C.Imagem, ABC e CCUL) e a partir daí a maioria dos seus filmes estreados em Portugal, entre eles algumas grandes obras, mas sempre com uma marca de qualidade e o grande interesse sociológico da sua crítica acerada, irónica, certeira à burguesia do seu país.

BRIGHT STAR (Estrela Brilhante), de Jane Campion

“BRIGHT STAR” (Estrela Cintilante), de Jane Campion (AUS), **** (4)

Os últimos anos de vida do poeta inglês John Keats, um dos grandes poetas românticos do século XIX, num admirável filme de Jane Campion, centrando a obra no amor sem esperança, entre Keats e uma jovem vizinha, que nunca o esqueceu, mesmo depois de desaparecido, aos 25 anos de idade, em Itália, para onde os amigos o haviam mandado na tentativa de o salvar, afastando-o do frio e húmido clima britânico.
Um filme belo e romântico, como a a obra de Keats.

BROTHERS (Entre Irmãos), de Jim Sheridan

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“BROTHERS” (Entre Irmãos), de Jim Sheridan (EUA), **** (4)

Belíssimo melodrama sobre o regresso dos soldados, do Afeganistão, filmado do Novo México, com a sobriedade e rigor que este cineasta irlandês nos tem habituado, voltando a fazer uma obra notável, depois do “In America”, sobre a imigração.
Jim Sheridan não precisa de pôr os seus intérpretes a gritar para criar cenas de rara intensidade dramática, como já o havia demonstrado em obras anteriores. Mesmo quando a violência explode há uma certa contenção de meios utilizados, que acaba por tornar as cenas ainda mais impressionantes – o major matando o “seu” soldado no Afeganistão ou a explosão de ira, já em casa, do perturbado militar.
**** (4)

POODLE SPRINGS (A Morte Veste de Luto) (1989), de Robert B.Parker / Raymond Chandler

LEITURAS (e RELEITURAS)


POODLE SPRINGS (A Morte Veste de Luto) (1989)

Prosseguimento da belíssima homenagem de Robert B. Parker (1932- 2010) a Raymond Chandler (1888-1959), ao concluir, respeitando o estilo do Mestre, o romance do qual o grande escritor só tivera tempo para escrever os quatro primeiros capítulos.

Homenagem também a um dos mais carismáticos personagens do chamado “romance negro”, o romântico e desencantado detective privado Philip Marlowe, a que o cinema também prestou tributo, nomeadamente através das obras de Howard Hawks (1896- 1977), com Humphrey Bogart (1899-1957), Robert Altman (1925-2006), com Elliott Gould e Michael Winner, com Robert Mitchum (1917-1997), respectivamente The Big Sleep (Hawks, 1946 e Winner, 1978) e The Long Goodbye (Altman, 1973).

Angel (criação de Parker) é a derradeira das chandlerianas figuras femininas, vulneráveis e vítimas das circunstâncias, que fascinam Marlowe.

IRÈNE, de Alain Cavalier

“IRÈNE”, de Alain Cavalier, (FRA), **** (4)


Sobre "Irène", a magnífica obra de Alain Cavalier, de que víramos em 2007, no DOCLISBOA, outra extraordinária obra, "Le Filmeur", para já não falar no "Duelo na Ilha" (1962), visto no CCUL ou no IMAGEM, nos tempos cineclubismo, em pleno fascismo salazarista, até ao grande sucesso comercial, "Thérèse" (1986) sobre as contradições da fé religiosa.

Duas opiniões críticas muito díspares, lidas na imprensa, sobre um filme que deve ser visto por quem gosta de Cinema:
"mais do que um retrato do mundo exterior, o filme é entendido como reflexo privilegiado de uma vivência interior, dramática, por vezes convulsiva, que o realizador exprime na primeira pessoa" (João Lopes, DN, 29-ago-10)

"o cinema é tão livre que até se pode negar a si próprio" (Manuel Halpern, JL, 25-ago-10)
Relativamente a esta obra, concordo com a primeira.

Homenagem à companheira, Irène Tunc, actriz francesa, que fora Miss França, e foi dirigida no cinema por grandes nomes – Melville, Resnais, Truffaut. Casados em 1965, um acidente de viação, em 1972, com o carro que a actriz conduzia, acabou por vitimá-la. O realizador ficou marcado por este desaparecimento. Talvez seja essa a razão da sua obra ser relativamente curta e grande parte dela, intimista e autobiográfica.
Outro aspecto muito interessante deste último filme de Cavalier, é ter sido realizado com uma câmara digital, com meios reduzidíssimos e com escasso apoio humano. Tal como “Le Filmeur”, são obras que quase qualquer de nós poderia realizar, com pouco dispêndio, se para tal tivesse “engenho e arte”. É a democratização do acto de filmar, tornado hoje acessível a cada vez mais gente.


LA DANSE - LE BALLET DE L'ÓPERA DE PARIS (A Dança), de Frederick Wiseman

“LA DANSE – LE BALLET DE LÓPERA DE PARIS” (A DANÇA), de Frederick Wiseman, (EUA, **** (4)
De regresso a Lisboa fui surpreendido por uma assistência de mais de meia centena de pessoas (às 15.30!) na nova obra-prima documental do mestre Frederick Wiseman (Boston, 1930).
De Lorca (“A Casa de Bernarda de Alba”) a Pina Bausch (“Orfeu e Euridice”), de Tchaikovsky (“Quebra-Nozes”) a Berlioz (“Romeu e Julieta”), o “Sonho de Medeia”, de famoso coreógrafo francês Anglin Preljocaj, entre outras obras.
E que dizer da maravilhosa cena-símbolo, do apicultor sobre os telhados de Paris, imensa colmeia, tal como a Ópera o é também, embora o néctar produzido seja diferente... A não perder para quem se interessa por Cultura.
Fez-me pensar nas palavras de Pedro Paixão, o escritor, e agora também fotógrafo, ditas à jornalista Catarina Pires, numa interessantíssima entrevista publicada no DN, em finais de Julho deste ano.
“Fico como uma lebre encadeada pelos faróis de um carro. (..) O fascínio (do belo) paralisa.”
Mas para lá da beleza das obras apresentadas no filme de Wiseman, há também o ter mostrado como tudo aquilo só se consegue com um enorme esforço colectivo, que envolve desde os trabalhadores do teatro, executantes das tarefas mais simples, mas também decisivas, até aos artistas e à responsável artística pela companhia. Neste caso a ex-bailarina Brigitte Lefevre.
Em conclusão, outra obra admirável de Wiseman, a juntar à sua retrospectiva, já apresentada num dos últimos DOCLISBOA.
**** (4)