Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

sábado, 10 de julho de 2010

TEATRO - Intervalo G.T. - Harold Pinter - Festival de Teatro de Almada

HOMENAGEM A JOSÉ SARAMAGO  +  “O DESTINO TEM MUITA FORÇA”, de Karl Valentin e outros, encenação de Armando Caldas, para o Intervalo G.T., **** (4)

Foi uma pequena mas muito sentida homenagem a um dos nossos maiores na Cidadania, na Literatura e na Cultura. Militante empenhado nas grandes causas, de grande coerência política, jamais abdicando dos seus ideais, quer no seu partido, o Partido Comunista Português, quer pela sua permanente presença por todo o mundo, na primeira linha das grandes lutas em defesa dos explorados e dos oprimidos.
Na Cultura, avulta o seu trabalho de Escritor, com algumas das obras-primas da literatura universal no século XX, pelas quais recebeu o Nobel de 1998, ficando inesquecível o discurso que pronunciou em Estocolmo, em 7 de Dezembro de 1998, na cerimónia de entrega dos Prémios.
Protagonizou com sua mulher, a jornalista espanhola Pilar del Rio, uma belíssima história de amor, na sua casa de Lanzarote, a fazer lembrar que o amor esteve sempre muito presente na sua obra, como complemento do protagonismo que deu aos “humilhados e ofendidos” deste mundo, explorados e oprimidos, que “se levantaram do chão” em defesa dos seus direitos.
Criou uma Fundação cuja instalação na belíssima Casa dos Bicos, em Lisboa, se aguarda com expectativa, embora a Fundação esteja activa desde a sua criação. Lamentando-se profundamente que Saramago não possa já assistir à inauguração daquele espaço. Daqui manifestamos uma vez mais a nossa enorme admiração pelo Escritor e por sua Mulher, Pilar del Rio.
Armando Caldas e Correia da Fonseca, o homem de teatro e o jornalista, prestaram homenagem a José Saramago, através de intervenções simples mas muito sentidas, lembrando também a amizade que José Saramago sempre manifestou pelo Intervalo / 1º Acto, do qual foi um dos primeiros sócios. Mais um momento inesquecível naquele já carismático auditório.

A fechar a Companhia ofereceu um pequeno “divertimento”, baseado em textos satíricos de Karl Valentin e outros, que foi pretexto para anúncio da Semana cultural do presente ano, marcada como habitualmente para a terceira semana de Outubro. Como sempre a excelente prestação dos actores, a sua alegria e a verve habituais, comunicaram-se ao público, para grande prazer nosso.




 “COMEMORAÇÃO” e “O QUARTO”, de Harold Pinter, encenação de Jorge Silva Melo, para Artistas Unidos / TMA, **** (4)

A primeira (“O Quarto”) e uma das últimas peças de Harold Pinter (Londres, 10Out1930 – 24Dez2008), outro escritor nobelizado (2005), para grande contentamento nosso, porque desde sempre o admirámos. Começámos por ver “O Porteiro”, nos longínquos anos 60, no Tivoli, em Lisboa, numa encenação de Jorge Listopad. Depois foi principalmente Artur Ramos que o encenou magnificamente. Mas não esquecemos também os seus notáveis trabalhos para o cinema, principalmente para Joseph Losey, mas também para Karel Reisz.
“Eu acho que ele (Pinter) tem um universo tão rico como Shakespeare ou como Brecht. Brecht na primeira metade do século XX, Pinter na segunda, com certeza.”
“Pinter não diz: como é que eles são assim. Ele quer dizer: como é que nós chegámos a esta sociedade tão grosseira (…), tão bestial, tão estúpida, tão descartável? O riso que existe é sempre muito amarelo”
“É a visão de um mundo do qual é preciso suspeitarmos. Esta nova ordem mundial é baseada no terror. É nessa ditadura que está a assentar a nossa aparente democracia” (Jorge Silva Melo)
Pinter não diz explicitamente mas no entanto os ideais não morreram, e o gérmen da Liberdade existe. Assim se criem as condições para que volte a florescer mais depressa do que muitos possam supor, desanimados com a aparente omnipresença das novas ideologias de direita (neo-liberalismo) na Europa dita comunitária, nos EUA, e nos economicamente colonizados.
Ao angustiante e inquietante ambiente da primeira peça, que se transmite aos espectadores e os leva a, não poucas vezes, fisicamente se sobressaltarem, segue-se uma angústia de outra ordem, desesperada, perante o ácido diálogo de “Comemoração”, onde todas as frustrações quotidianas, resultantes da mediocridade da vida que se leva, afloram entre aqueles três casais que se encontram no restaurante muito caro.
Um conjunto magnífico de jovens actores dos “Artistas Unidos”, mais dois grandes actores veteranos, de quem gostamos muito, Cândido Ferreira e a inesquecível Lia Gama (do cinema principalmente, de “Kilas”, uma das obras-primas de José Fonseca e Costa), estes dois em “O Quarto”.



FESTIVAL DE TEATRO DE ALMADA (27ª EDIÇÃO) (*****)

Está seguramente entre os três mais importantes festivais de teatro europeus (Avignon, Edimburgo e Almada).
“(É um evento em) que se encontra um ambiente, uma alma, uma grande proximidade entre artistas e o público, que é uma coisa pensada e faz parte da própria organização espacial do Festival. É uma característica específica de Almada, não encontramos este ambiente em Avignon ou Edimburgo. Isto corresponde a uma filosofia e um pensamento, uma política cultural e um projecto artístico: o teatro como arte de cidadania. Sinto uma verdadeira conivência com o fundamento deste Festival.” Demarcy-Mota, ao “L’Humanité”
Cruzarmo-nos nos espaços do Festival com grandes nomes da dramaturgia europeia, como, por exemplo, Matthias Langhoff ou Ana Zamora, não deixa de emocionar, porque se trata de personalidades que muito admiramos por serem excepcionais criadores.



Deste Festival vamos tentar ver, como de outras vezes, tudo o que for possível, tendo em conta as nossas limitações, principalmente neste caso físicas, dado que a existência de assinaturas de custo módico, torna mais viável o aspecto económico.
Trabalhos de grandes encenadores como Demarcy-Mota, Matthias Langhoff, Claude Régy, Ana Zamora, etc, estão entre os principais espectáculos desta edição.


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