Cultura!

Cultura!

OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

sábado, 5 de junho de 2010

VINCERE, de Marco Bellocchio


“VINCERE” (Vencer), de Marco Bellocchio, *** (3)

Em estilo de drama passional, são episódios da vida amorosa do ditador fascista Benito Mussolini (1883-1945), expulso do Partido Socialista por defender a intervenção na Primeira Grande Guerra (1914-18). Em 1922, após marcha sobre Roma, chega ao poder e a partir de 1925 fá-lo ditatorialmente. Em 1929 cria o Estado da Santa Sé, com sede no Vaticano. Invade a Etiópia (1935-36), enquanto Hitler faz o mesmo em Espanha (1936-38), com o apoio de Mussolini, colocando os fascistas de Franco no poder. Depois de invadir a Albania em 1939, e depois da ocupação de França pelos nazis, alia-se formalmente a estes na Segunda Grande Guerra (1939-45). Com as sucessivas derrotas do nazi-fascismo foi finalmente capturado pela Resistência em 1945 e executado.
Sem o fulgor de outras obras do cineasta, como o excelente “Bom Dia, Noite”, sobre o sequestro e assassinato do político conservador Aldo Moro, pelas Brigadas Vermelhas, acontecimento que correspondeu aos desejo da ultra-direita italiana. No entanto a obra tem a marca do estilo do realizador e vê-se com interesse.
Drama que passa pela eliminação física, durante a 2ªGrande Guerra, da sua suposta primeira mulher (decisiva na sua ascensão, de acordo com o filme) e respectivo filho, encerrados em hospícios de onde dificilmente se saía com vida, depois de renegados por Mussolini, segundo Bellocchio. Excelente interpretação de Giovanna Mezziogiorno, na amante desprezada, que reivindica o reconhecimento do casamento.
No entanto o filme tem dois ou três apontamentos merecedores de nota – a provocação radical de Mussolini aos homens da Igreja, a propósito da existência de Deus, que marca o início da obra, parece perdoada e esquecida a partir do momento em que ele cria em 1929, quatro anos depois de se tornar ditador, o Estado da Santa Sé, passando a partir daí a contar com o apoio declarado da Igreja Católica ao seu regime fascista. Aliás como aconteceu no resto da Europa, em relação ao fascismo.
Bellocchio, parece querer confirmar, com a última frase do seu filme, que afinal tiveram que ser os militantes da Resistência, a fazer justiça.
Sobre o radicalismo e de como muda tantas de vezes de campo, estamos nós fartos de saber, seguindo as últimas décadas da história portuguesa, indo até aos mais altos cargos da política – presidência da CE…
Falta ao filme um maior enquadramento das razões económicas e sociais da ascensão dos fascistas em Itália e do que foi depois o regime de terror por eles instaurado, aliás bem documentado na literatura e também no cinema, em várias obras maiores (Pasolini, Visconti, Bertolucci, Fellini, Zurlini, Maselli, Rosselini, Tornatore, Pontecorvo, Montaldo, etc, etc)
*** (3)
 Adenda:
1-“Como é que todas aquelas pessoas puderam acreditar num palhaço daqueles?” (…) “Mas eu pessoalmente interrogo-me: e como é possível que hoje acreditemos noutros palhaços (como Berlusconi)? E no entanto acreditamos” (Filipo Timi, o actor que faz de Mussolini) (citado por Alexandra Prado Coelho, “Público”, 28mai10)
2-“Conheci o cinema que se fazia com as câmaras montadas sobre carris, agora faz-se tudo com máquinas cada vez mais pequenas. Godard rodou com uma máquina fotográfica… As televisões comandam num certo sentido. E nesse sentido, o cinema já mudou: a possibilidade técnica de fazer um filme com meios cada vez mais minimais determinará o estilo e o gosto – e já o faz. “ (Marco Bellocchio, em entrevista ao “Público”, 28-mai10)

Sem comentários:

Enviar um comentário