Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

quinta-feira, 20 de maio de 2010

ILHA DA COVA DA MOURA, de Rui Simões



“ILHA DA COVA DA MOURA”, de Rui Simões, **** (4)

Um magnífico documentário sobre a Lisboa Século XXI, de Rui Simões, depois do excepcional “Ruas da Amargura” (*****).
Um olhar sem preconceitos sobre a comunidade imigrante cabo-verdiana, num dos seus bairros de eleição, a Cova da Moura, na Buraca, Câmara da Amadora, Grande Lisboa. É a 11ª ilha de Cabo-Verde, dizem alguns dos seus habitantes, gueto, mas não por vontade deles.
Há afinal mais solidariedade naquele bairro, que alguns consideram problemático, que nos burgueses bairros lisboetas, em que os vizinhos não se falam, se ignoram, entre eles não existe nada. Na Cova da Moura, até as casas, clandestinas, foram resultado de um trabalho colectivo, onde mesmo as crianças colaboraram.
O autor, limita-se a estar por detrás das câmaras e das perguntas, e não se põe em bicos de pés, como fazem os mediáticos entrevistadores da TV, de todos nós infelizmente sobejamente conhecidos.
Para nós foi também bom, mas não surpreendente, revermos o Dr. Carlos Simões, sempre empenhado no apoio às populações carenciadas dos bairros considerados mais problemáticos. Intervenção curta, que passou despercebida a quem não o conheça, comentando o difícil relacionamento da polícia com os habitantes.
Documentário de visão recomendável principalmente aos que se deixam influenciar pelas mentalidades racistas e xenófobas, de que a comunicação social (incluindo a pública!), não poucas vezes, serve de veículo. Talvez, por uma vez, cheguem à conclusão que afinal a solidariedade existe onde menos esperavam.
**** (4)

Adenda

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"Bairro problemático? Dor de cabeça para as autoridades? As queixas existem, principalmente por parte dos jovens que lá habitam - abusos por parte das autoridades, racismo, invasão domiciliária pela polícia e violação dos seus direitos enquanto cidadãos que aqui trabalham. É verdade.
Mas, no final, a ideia que fica é a de que os seis mil habitantes do bairro vivem no melhor dos dois mundos. Vive-se um Cabo Verde recriado nas ruas, nas festas, bailes de funaná, festas de Colá Sanjon, almoços com cachupa, casamentos, nascimentos, mortes, funerais. E depois, cedo pela manhã, atravessa-se a estrada e apanha-se o autocarro para um outro mundo:  o do trabalho, nas limpezas, na construção civil, nos supermercados, na Lisboa bem portuguesa.
O pedaço de Cabo Verde não é recriado. É real. Como são as maçarocas de milho colhidas nas hortas dos baldios. O realizador acompanha a vida de vários jovens nascidos no bairro, famílias fundadoras, histórias de casas inteiras construídas pela noite dentro, uma espécie de Djunta-Mon, carregando cimento e tijolos, levantando paredes. Vidas cruzadas. Uma luta constante pela sobrevivência. Outras estendendo o braço solidário, como os fundadores da Associação Moinho da Juventude.
Há gente feliz na Cova da Moura. Na verdade, há uma qualidade de vida só igualável à que deixaram para trás, nas ilhas. Tambores e som de búzios, vizinhança da terra. Gente feliz com estórias: cabo-verdianos, portugueses retornados das ex-colónias, guineeses muçulmanos, angolanos, santomenses, de outras Áfricas e do Leste Europeu.
 (Diáspora/Cinema - Ilha da Cova da Moura", de Joaquim Arena, em Notícias de Cabo Verde)

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