Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

TEATRO - A MÃE, de Bertold Brecht, pela CTA

“A MÃE”, de Bertold Brecht, encenado por Joaquim Benite, para a Companhia de Teatro de Almada, no TMA (Teatro Municipal de Almada), ***** (5)

Mais um magnífico espectáculo daquela que é, creio que sem dúvida, uma das nossas (e não só) melhores companhias de teatro. Foi a sua 121ª produção. E, à mesma hora, na sala experimental do mesmo teatro - Municipal de Almada, representava-se também “Uma Visita Inoportuna” (1987), de Copi, que ainda não vimos mas tencionamos. 

Numa peça escrita em 1931-32, Brecht adapta o famoso romance homónimo, publicado em 1906, por Máximo Gorki  (“uma saga por vezes feminista como «A Mãe» e, na sua riqueza telúrica, simplesmente sublime”, Urbano Tavares Rodrigues, Dez2009), mas alterando-lhe o final e fazendo Pelagea Vlassova, a Mãe, (excepcional Teresa Gafeira, uma vez mais) sobreviver e assistir à Revolução triunfante pela qual o filho, Pavel, e os seus camaradas, e depois ela própria, tanto lutaram. 

Peça extremamente rica, dividida em 14 cenas, que continua a poder ser aplicável à realidade que nos rodeia, quase um século depois de ter sido escrita – a luta pelo fim da exploração, pelo direito ao trabalho, a luta de classes. Mãe e filho, cuja vida e comportamento se interpenetram. Uma dando-lhe origem e formação nos primeiros anos de vida, outro, de quem mais tarde ela receberá exemplos, que a levarão a transformar-se e a substituí-lo quando sucumbe varado pelas balas da repressão. (ler artigo de Roland Barthes no programa do espectáculo)

A música de Hanns Eisler (de quem ouvimos algumas canções por ele musicadas, noutro extraordinário espectáculo, “Canções de Brecht”, também pela CTA) é tocada ao vivo (acordeão, trompete e percussão) e dirigida pelo maestro Fernando Fontes. O cenário, extremamente eficaz, simultaneamente na representação da entrada da fábrica, das casas despojadas, dos seus operários ou do refeitório de uma herdade, é de Jean-Guy Lecat, uma vez mais a colaborar com a companhia. Um grupo de 18 actores, muito coeso e magnífico, dá corpo e voz aos personagens criados por Brecht, em que avulta, pela dimensão da personagem, a Mãe, Pelagia Vlassova, admiravelmente interpretada por Teresa Gafeira. 

Sala cheia, para assistir a uma peça que hoje, como dantes, faz pensar. “Aliás, a revolução não é coisa para um país com gente desta. O russo nunca fará uma revolução” (O Professor, Nikolai Vessovchikov) (Marques d’Arede em outro magnífico desempenho). No entanto também ele irá mudar e assistir à vitória da Revolução de Outubro, em 7 de Novembro de 1917.A tradução é de Yvette K.Centeno (“rigor e excepcional qualidade literária”, Joaquim Benite, em entrevista a Miguel-Pedro Quadrio no “MAIS TMA”, onde aliás o encenador define com muita clareza o “distanciamento” ou “efeitos de estranheza”, no teatro de Brecht).

Bertold Brecht (Augsburg, 1898 – Berlim Oriental, 1956) dirigiu esta peça em 1932, em Berlim, com a sua mulher, a actriz Helene Weigel, no principal papel. Um ano depois os nazis chegam ao poder e Brecht vai para o exílio, só regressando definitivamente ao seu país natal, então República Democrática Alemã, em 1949, onde em 1951 dirige, para a companhia que entretanto criou, o famoso “Berliner Ensemble”, uma nova versão de “A Mãe”.(dados retirados do programa do TMA) 

***** (5)

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