Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

"DAS WEISSE BAND" (O Laço Branco), de Michael Haneke

“DAS WEISSE BAND – Eine Deutsche Kindergeschichte” (O Laço Branco), (AUS) de Michael Haneke, ***** (5)

Mais uma obra-prima do cineasta austríaco, ao nível do seu famoso “CACHÉ” (Nada a Esconder). Tal como Lars Von Trier, trata-se de um autor, no sentido comum da definição. Não deixa de ser curioso que estas duas obras, embora esteticamente nos antípodas, tenham um fundamento sociológico semelhante. Tal como em “Anticristo”, o que está em causa em “O Laço Branco”, é uma sociedade profundamente marcada por um autoritarismo paternal, que atinge todas as formas de educação, e que resulta da rigidez moral de cariz religioso.

De certa maneira o que Haneke nos vem dizer é que as gerações que apoiaram o nazismo, sofreram esta influência e por isso se puderam tornar tão perigosamente radicais duas ou três décadas depois. Embora a obra se passe antes do início da 1ª Grande Guerra e termine aliás com o atentado de Serajevo e o início do conflito e da escalada militar do imperialismo alemão, alguém se referiu à actualidade, dizendo que a situação actual, por exemplo no Irão, com os seus líderes religiosos, e a sua repressão moral, tem semelhança com o que se passou na Europa Central nesses anos. 

Aos que, às vezes, parecem esquecidos, relembro que o que torna o nazismo tão horrível é que mais que uma simples ditadura apoiada pelo grande capital, repressiva e terrorista, o nazismo montou uma bem oleada máquina de extermínio, com os seus fornos crematórios e os seus instrumentos de assassínio em massa, em que sistematicamente tentou liquidar todos os que politicamente se opunham, e colocou em prática também um extermínio baseado principalmente no racismo – judeus, ciganos e outros minorias. Isto, de facto, só é comparável na História da Humanidade, pela dimensão, ao que a Igreja Católica fez com a Inquisição. Mas também lembra Pinochet no Chile, Saddam no Iraque ou Suharto na Indonésia, que chegaram ao poder eliminando milhares de militantes e simpatizantes comunistas ou de esquerda (e todas essas situações foram apoiadas pela política norte-americana!). O genocídio que o governo israelita comete actualmente na Palestina, com o apoio do fundamentalismo judeu, contra o povo palestino, assume principalmente aspectos, embora não menos graves, de racismo e desprezo pelos direitos humanos. 

A obra de Haneke, num preto e branco maravilhosamente filmado por Christian Berger, prende-nos irresistivelmente do primeiro ao último fotograma, num estilo quase sempre muito clássico. Como noutros filmes do cineasta não há respostas claras. Mas no final, embora possamos ainda ter dúvidas quanto a muitos dos aspectos da história contada por Haneke (que ele deliberadamente deixa em aberto), a tese do cineasta e argumentista é compreensível e lógica. Outro aspecto curioso é o modo hábil como o realizador nos faz seguir o filme, levando-nos por vezes num sentido errado, mas que depressa compreendemos, como quando os espectadores suspeitam que o mentor religioso (e ideológico) da aldeia, e seu pastor, se prepara para sodomizar o filho, como se (para o espectador) nenhum valor restasse numa sociedade regida pela repressão e pela hipocrisia. Fez-me pensar também em David Lynch, quando as aparências sociais se quebram e o que está por baixo se revela em toda a sua crueza - a pedofilia, o incesto, as vulnerabilidades na mansão senhorial, que no entanto exerce uma disciplina férrea sobre os camponeses, seus dependentes e que constituem a maioria da população (toda a família irá ser castigada pela revolta manifestada pelo jovem aldeão contra os Senhores, que considera responsáveis pela morte da mãe, e ocasionará o suicídio do pai). Mentes deformadas irão pretender castigar os infractores à moral rigidamente estabelecida, mesmo que através de vítimas inocentes e indefesas – a criança deficiente ou o pequeno filho dos barões. 
Os actores, incluindo as crianças, são magníficos. E espero que tenham reparado no nome de Jean-Claude Carrière, no genérico, como consultor para o argumento, aval de qualidade. A não perder.
***** (5)

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