Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

sábado, 16 de janeiro de 2010

TEATRO VISTO EM 2009 - V - O Doido e a Morte

“O DOIDO E A MORTE” (1923), de Raul Brandão, encenações de Joaquim Benite, para a representação da peça pela CTA, e para a ópera de Alexandre Delgado. **** (4)

Mesmo palco, mesmo cenário (magnífico, de Jean-Guy Lecat, para o enorme e belíssimo palco do TMA), um actor comum – Manuel Martins, em Nunes, o secretário do Governador Civil, para as duas representações – teatro e ópera - do famoso texto de Raul Brandão (1867-1930), ideia brilhante de Joaquim Benite e da CTA/TMA. Ambas muito bem conseguidas, com interpretações magníficas.
Quanto à peça, considerada por muitos como uma das grandes obras-primas do teatro português, apesar da sua curta duração, continua a surpreender-nos pela sua modernidade, pela sua crítica, por vezes mordaz, mas também pelo riso que provoca, sobre a sociedade em que vivemos e os seus actores principais: ”Confesso que menti… menti sempre que pude. Toda a minha vida foi uma mentira pegada.” (Governador Civil, perante a hipótese de morrer se o Senhor Milhões chegasse a cumprir o prometido, premindo o detonador da bomba de elevada potência, e perante da fuga de familiares (esposa) e todos os subordinados, incluindo o fiel Nunes), e sobre as profundas desigualdades dessa sociedade, há um século, ou hoje…
Em 1926, quando estreou no Teatro Politeama, em Lisboa, em benefício dos vendedores de jornais, quiseram suprimir-lhe a frase final “Ai o grande filho da puta!”, para não ferir “ouvidos delicados”, provavelmente dos beneméritos presentes, e fizeram descer o pano antes que o actor tivesse tempo de a pronunciar… No entanto, o sentido da obscenidade é ambíguo já que “o filho da puta” (O Doido), está afinal bem mais perto de nós, dos nossos anseios e sonhos, do que quem pronuncia a frase (O Governador).
Eram os tempos agitados dos finais da Primeira República, em que a extrema-direita aproveitava as debilidades do regime, e o descontentamento popular, para criar as condições que lhe permitissem o golpe definitivo contra o regime democrático, já muito periclitante, depois da primeira tentativa, apoiada pelas forças mais reaccionárias, e protagonizada por Sidónio Pais (1917-18). O golpe aconteceu nesse mesmo ano (1926), em 28 de Maio, dando origem ao estado fascista, consolidado com a aprovação da Constituição de 1933, já com Oliveira Salazar no poder.
**** (4)

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