Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

sábado, 16 de janeiro de 2010

TEATRO VISTO EM 2009 - I - Acamarrados

“ACAMARRADOS” (Bedbound), de Enda Walsh, António Simão / Rita Lopes Alves, interpretação de António Simão e Carla Galvão, para os Artistas Unidos, visto no TMA, ***** (5)

Mais um espectáculo excepcional visto na sala experimental do TMA. Fico na dúvida se esta sala não terá de facto qualquer coisa de muito especial, já que, pelas condições sonoras e de espaço, tem dado origem a produções brilhantes, e cito outras três que me ocorrem imediatamente – “A Mata” (no 23º FTA), “Canções de Brecht” (no 25ºFTA) e “O Marinheiro”, completamente diferentes e no entanto perfeitamente adaptadas àquele espaço, parecendo ser difícil fazer melhor noutro local, desde o profundamente intimista – Fernando Pessoa/Alain Ollivier – ao espectacular – Jesper Halle/Franzisca Aarflot!

Agora imaginem um cubículo onde apenas cabe uma cama e dois personagens – um homem, que se transformou num psicopata e a filha, que a poliomielite deixou deficiente motora.
Durante mais de uma hora, nesse espaço restrito e claustrofóbico, eles (grandes interpretações, cada uma no seu registo) vão desbobinar perante os espectadores os seus traumas e angústias, as suas tragédias pessoais.
Li um crítico que comparou o efeito da peça a “um atropelamento”, súbito e brutal. Diria mais - uma saraivada de socos, de que se sai dificilmente incólume. Tudo num ritmo que não abranda. Só recomendável para quem aguente o realismo mais cru e violento. E mesmo, os mais marcados pela vida, por este ou por aquele aspecto, penso que não deixarão de se impressionar com esta terrível imitação da vida.
A representação concita-nos para os nossos receios, para os nossos temores interiores, para as nossas angústias, perante um mundo pleno de infelicidades e frustrações que nos rodeia, fruto principalmente de uma sociedade injusta e desigual.
Trata-se de uma peça do jovem dramaturgo irlandês Enda Walsh (Dublin, 1967), já representado no nosso país, mas cujas peças ainda não víramos. Esta peça foi dirigida, aquando da sua estreia absoluta, pelo autor.
Relembremos que Enda Walsh é co-autor do argumento, e autor dos diálogos, de “Hunger” (Fome), a brilhante obra de cinema de Steve McQueen, sobre os militantes do IRA em greve de fome, durante o governo da Dama de Ferro (Margaret Thatcher). E relembre-se essa cena antológica, grande momento do filme, do diálogo, entre o militante pela independência da Irlanda (Bobby Sands) e o padre Moran, num longo plano de dezassete minutos, em que ouvimos as palavras escritas por Enda Walsh para os dois personagens.
Voltando a “Acamarrados”, pela sua enorme tensão dramática, conseguida naquele extremamente limitado espaço e apenas com dois actores, pelo seu realismo cru, ele é, em minha opinião, um dos grandes espectáculos de teatro do ano findo.
***** (5)

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