Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O MELHOR (RE)VISTO EM 2009 - "Force of Evil", de Abraham Polonsky

“FORCE OF EVIL” (1948), de Abraham Polonsky (1910-1999) (argumento em co-autoria com Ira Wolfert, e realização), (EUA), ***** (5)

Uma das obras-primas do cinema negro norte-americano, violento apólogo contra a corrupção, o gangsterismo e o regime capitalista, obviamente não exibida em Portugal durante o regime fascista, e portanto nunca exibida comercialmente no nosso país.
O autor, Abraham Polonsky, nascido em Nova-Iorque em 1910 e o actor principal, John Garfield (Nova Iorque, 1913 – 1952), foram perseguidos pelos políticos fascizantes norte-americanos do pos-guerra, na época do mccarthismo, e da tristemente célebre “caça às bruxas”, isto é, da perseguição aos elementos mais progressistas da intelectualidade norte-americana, sendo os nomes mais sonantes, entre os responsáveis da infame campanha de perseguição, o do senador McCarthy e o do seu adjunto Richard Nixon.
A partir de 1951, Polonsky, que tinha sido efectivamente um activista de esquerda, anti-nazi, membro do Partido Comunista, colaborando com a Resistência Francesa durante a Grande Guerra de 1939-45, foi proibido de trabalhar nos estúdios norte-americanos, só o podendo voltar a fazer vinte anos depois (!), em 1968, aliás com outro grande filme “Tell Them Willie Boy is Here”, uma obra profundamente anti-racista.
Quanto ao grande actor John Garfield, um rebelde dos estúdios, viria a falecer de ataque cardíaco, vítima da tenaz perseguição de que foi alvo.
Abraham Polonsky nunca abdicou das suas ideias, tendo-se recusado sempre a denunciar quem quer que fosse perante o comité dirigido por McCarthy e Nixon, tal como, muitos anos mais tarde, não quis revelar sob que nomes, ou em nome de quem, tinha colaborado na indústria do cinema norte-americano, nos anos em que foi proibido de o fazer. Uma grandeza e uma coerência de que nem todos, infelizmente, se podem orgulhar.
A obra tem cenas admiráveis, magnificamente fotografada a preto e branco (George Barnes), culminando no extraordinário final, extremamente forte, quando o jovem advogado, John Garfield (Joe Morse) ambicioso e com poucos escrúpulos, que não se importa de servir os gangsters para enriquecer rapidamente, desce até ao rio, sob a grande ponte, onde os gangsters abandonaram o cadáver do irmão (Leo Morse), que o havia ajudado quando jovem e que Joe tentara envolver a contra-vontade de Leo, nos negócios escuros do jogo. E onde, finalmente, compreende o erro do caminho tomado, apoiado pela jovem secretária do irmão, Beatrice Pearsons (Doris Lowry), que se sente atraída por ele, e o quer afastar do caminho do crime e da corrupção.

“(..) principalmente, uma parábola sobre o capitalismo e a forma como o sistema “trabalha” o dinheiro, como o “justifica” e o manipula. Referência, portanto, directa e actual, num tempo em que o deus “Euro” é tão reverenciado como o dólar o é, e era, na representação deste filme.” (Manuel Cintra Ferreira, na folha da Cinemateca, relativa a este filme, 23set09)

***** (5)

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